Compromisso apresentado de zerar o desmatamento ilegal até 2030 não considera os outros biomas do Brasil, somente a Amazônia.
(Fonte: O Estado de S. Paulo)
O plano de zerar o desmatamento ilegal até 2030, contido na meta apresentada no domingo pelo Brasil para colaborar com o combate às mudanças climáticas, só considera a Amazônia. Os outros biomas ficaram de fora do compromisso apresentado para a Conferência do Clima da ONU (COP), que será realizada em Paris no fim do ano.
“Isso quer dizer que vai se admitir o desmatamento ilegal nos outros biomas?”, questionou ontem o engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima. Ele falou em evento da Andi e da Aliança pelo Clima e Uso da Terra (Clua) em Brasília para jornalistas sobre a COP.
“A área de desmatamento do Cerrado hoje é maior que a da Amazônia”, disse Azevedo depois do evento ao Estado. “Pelos nossos cálculos, essa perda de vegetação provocou uma emissão de 135 milhões de toneladas de CO2-equivalente só em 2013. É maior que todo o processo industrial no Brasil. É equivalente a tudo o que o Peru emite por ano”, disse.
A crítica foi compartilhada por Paulo Moutinho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. “É importante lembrar que grande parte da redução do desmatamento que já foi observado na Amazônia se deu porque houve migração para o Cerrado”, afirmou no mesmo evento.
O diretor do Departamento de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Adriano Santhiago de Oliveira, também presente ao evento, rebateu as críticas dizendo que todos os biomas são considerados importantes para o Brasil, mas que ao detalhar a meta brasileira o governo optou por mostrar apenas as ações que são mais realistas de serem tomadas nos próximos anos.
“Apontamos somente alguns caminhos (para reduzir as emissões em 37% até 2025). Podemos e devemos ter mais ações, mas detalhamos o que dá para entregar. Para a Amazônia temos um sistema robusto de fiscalização. Para os outros biomas, ainda não temos isso. Então preferimos apontar por enquanto o que é factível.”
Santhiago disse ainda que a conferência de Paris não é o fim, mas o começo. Segundo ele, haverá uma “lacuna de implementação entre 2015-2020", e que as propostas do Brasil para atingir suas metas poderão ser revistas e reforçadas de acordo com a necessidade, inclusive incorporando metas para outros setores.
Para entender. A presidente Dilma Rousseff lançou no domingo o plano do País para combater as mudanças climáticas. Até 2025, as emissões de gases de efeito estufa devem cair 37%, com indicação para a possibilidade de chegar a uma redução de 43% até 2030 em relação aos valores registrados em 2005. A chamada INDC, conjunto de compromissos propostos no âmbito da Conferência do Clima da ONU, detalhou ações nas áreas de florestas e energia. O desmatamento ilegal zero na Amazônia até 2030 é uma delas.