COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Estudo de uma equipe de pesquisadores do Instituto Ambiental de Estocolmo, na Suécia, consegue mostrar, em detalhes, informações sobre os locais de produção de commodities e seus consumidores.

 

 

(Por Stefano Wrobleski - Mapas e texto do Blog do Infoamazonia)

Apesar de ser o segundo maior consumidor global da soja produzida no Brasil, a União Europeia têm um impacto ambiental proporcionalmente maior que a China, o principal importador do grão brasileiro. A conclusão é de uma equipe de pesquisadores do Instituto Ambiental de Estocolmo, na Suécia, que desenvolveu um modelo que aumenta a precisão de informações sobre os locais de produção de commodities e seus consumidores.

 

“A principal inovação deste método é que, até hoje, todos os modelos criados para conectar produção e consumo basearam-se somente em informações de trocas em nível nacional. Então, ao invés de usar somente uma base de dados, a de intercâmbio de bens, estamos conectando também as informações de produção, alfândega e trocas para rastrear toda a cadeia produtiva – do produtor, até o consumidor final”, explica Javier Godar, um dos especialistas responsáveis pelo modelo.

 

“Se você olhar para o nosso método, consegue perceber que estamos, na verdade, consumindo soja, carne ou o que for de distintas regiões [dentro do mesmo país]. E essas regiões têm diferentes valores. Então, você pode consumir soja de uma área sem floresta ou de uma área que foi desmatada há 200 anos em São Paulo. Dessa maneira, quando você está calculando seu impacto ambiental, em termos de carbono, biodiversidade ou mudanças de uso da terra, as regiões dentro de cada país têm diferentes pegadas ambientais”, conclui.


Soja no Brasil
Em um estudo de caso para apresentar o método, Javier e sua equipe analisaram, em nível municipal, a produção de soja brasileira destinada ao consumo interno e para exportação entre 2001 e 2011. Os pesquisadores verificaram que, apesar de ter havido uma queda do consumo total europeu, o impacto ambiental da commodity comprada pela União Europeia é proporcionalmente maior que o chinês. Isso é explicado pela diversificação das áreas das quais os europeus compram, que abrangem regiões florestadas do Cerrado.

 

“Em termos de impactos ambientais, o consumo europeu se deslocou geograficamente de um foco inicial nas regiões agrícolas longamente estabelecidas do sul do Brasil, em 2001, para as áreas do sul e oeste do Cerrado [em 2006] e, então, em direção também às fronteiras agrícolas florestais no norte do Cerrado e leste da Amazônia em 2011”, diz o artigo. Já o consumo total, que era de 16,14 milhões de toneladas (Mt) em 2001, subiu para 18,86Mt em 2006 e declinou para 13,34Mt em 2011.

 

A migração da soja consumida é significativa porque o bloco é o principal consumidor externo de empresas que aderiram à moratória da soja. O acordo – firmado em 2006 entre grandes produtores e exportadores, ONGs e governo e válido até 2016 – determinou o fim do comércio de soja cultivada em áreas de desmatamento recente na Amazônia.

 

Mas, se a restrição ao bioma amazônico contribuiu para a redução do desmatamento na região, o fato de o acordo não ter contemplado o restante do Brasil pode ter contribuído para o avanço da soja em áreas preservadas do Cerrado – a savana com maior diversidade biológica do mundo. Ao fazer o recorte pelas regiões do Brasil, Javier explica que “uma mensagem que estamos enviando é que você não pode olhar somente para um bioma em particular, como a Amazônia, e fazer a moratória da soja negligenciar o resto do país”.

 

A China, por outro lado, manteve o seu “conjunto de regiões fornecedoras relativamente estável [ao longo dos anos], com uma expansão nas imediações das áreas de fornecimento originais no sul do Brasil, mas pouco avanço no norte e centro do bioma amazônico e moderada expansão ao norte do Cerrado”. Ainda assim, o consumo chinês da soja brasileira, quase duas vezes maior que o europeu, subiu mais de seis vezes, de 3,87Mt em 2001 para 24,69Mt em 2011.

 

Outras aplicações do modelo

 


O modelo criado pelos pesquisadores do Instituto Ambiental de Estocolmo deve agora ser aplicado a outras commodities e a outras regiões do planeta. A equipe vai trabalhar pelos próximos dois anos com um matemático, que deve reunir diferentes dados para construir análises como a feita no caso da soja brasileira e cruzar as informações com bases sobre outros impactos sociais e ambientais, como trabalho escravo e nível de educação dos municípios produtores.

 

“A ideia é ajudar todos na cadeia produtiva – produtores, consumidores e empresas – a entender como eles podem ajudar a melhorar as condições socioambientais. Assim, as pessoas vão conseguir entender o que está acontecendo. Para o bem e para o mal”, afirma Javier.

 

O artigo está disponível em inglês na edição de abril de 2015 da revista científica “Ecological Economics”. Além de Javier Godar, fazem parte da equipe os pesquisadores Jorge Tizadoc, Martin Persson e Patrick Meyfroidtd.

 

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