No dia 18 de outubro foi realizada em Campo Grande, Cordeiros (BA), a 4ª Romaria das Comunidades - Cerrado: água, raiz e vida. Cerca de 200 pessoas denunciaram a investida do capital contra o meio ambiente, e a constante destruição do bioma cerrado, a nossa "caixa d'água" natural, acirrando ainda mais a crise hídrica em nosso país. Confira a Carta da Romaria:
As Romarias das comunidades são espaços de encontro e organização popular que une a fé cristã com a análise e o projeto de transformação da realidade. São construídas e organizadas pelas comunidades, pastorais e movimentos sociais do campo e da Cidade. As Romarias apresentam um caráter divergente da estrutura organizacional e política da Igreja tradicional, rompendo com o individualismo, a fé contemplativa que apenas conforta o coração. É necessário avançar em nossa consciência e nossa prática, na necessidade de compreender que o conforto maior ao coração e ao espírito da humanidade é a união e soberania popular, a luta na construção de uma sociedade em que não exista a exploração do homem pelo homem. A luta, a esperança, a resistência e o enfrentamento do povo trabalhador são as sementes que plantamos para a colheita do novo mundo que virá, livre de toda injustiça, desigualdade e miséria desse sistema econômico e político.
É com esse espírito de força e luta que neste dia 18 de outubro de 2014 reúnem-se na comunidade de Campo Grande - Cordeiros, as Paróquias do Zonal I da Diocese de Caetité. Mulheres, homens trabalhadores do campo e da cidade e juventude, juntos para a realização da 4ª Romaria das Comunidades com o tema Cerrado: água Raiz e vida. Aqui estão reunidas mais de 200 pessoas de várias comunidades das Paróquias de Tremedal, Piripá, Cordeiros, Condeúba, Itabuna, Caetité e Correntina para realizar um dia de celebração, discussão e estudo da problemática da realidade vivida pelos povos dos territórios das Comunidades Geraizeiras.
O grande Capital avança a passos largos nos espaços e territórios em todo Brasil, destruindo a natureza, as águas, as florestas e transformando a terra do trabalho dos camponeses, em mares de cana, eucalipto, soja e mineração. O modo de produção capitalista converte os recursos naturais em mercadoria, visando apenas o aumento e acumulação do lucro. O que presenciamos, é a expulsão das comunidades tradicionais de seus territórios, desmatamento da mata nativa e uma política desenfreada de destruição e privatização das águas, como resultado registra-se o aumento alarmante do número de conflitos por água em nosso país. A água, fonte de vida e direito fundamental do ser humano para atender suas necessidades vem sendo transformada também em mercadoria. As grandes empresas se apropriam das nascentes, destruindo ou tirando a água do povo para atender as plantações de eucalipto, soja e mineração.
O cerrado Brasileiro, o sistema mais antigo do Brasil e imprescindível para a construção ambiental e social de nosso país, por suas riquezas na flora, fauna e das águas, tem sofrido duramente os árduos ataques das grandes empresas e dos grandes projetos de desenvolvimento. A materialização das ações promovidas pela chibata dos latifundiários, grileiros, empresários e banqueiros é a concentração da riqueza nas mãos de poucos e a socialização e distribuição da miséria, da fome e da sede de nosso povo. Durante esse ano, várias nascentes dos rios do Cerrado secaram : afluentes do Arrojado , Riacho da salobra, Capão da Vaca Morta , Barrinha, Cabeceira do Brejo , Sucuriú, Cabeceira Grande afluentes do Rio São Francisco, região oeste da Bahia. Em Cordeiros, Condeúba , Piripá e Tremedal os riachos estão secos e muitas nascentes afluentes da Bacia do Rio de Contas secaram. As águas de nossas terras geraizeiras tem sido tomadas e apropriadas pela Floresta Minas em Cordeiros, Condeúba, Piripá e Tremedal para o plantio do eucalipto.
Nessa conjuntura, o Estado como zelador dos interesses da burguesia cria e legitima as leis para o fortalecimento das grandes corporações, que libera água para as empresas e tira da população. E mais, financiando com recursos públicos esses grandes projetos que levam nossas riquezas naturais, destroem os modos de vida e a cultura das comunidades. O que se vê aqui é a realização da “agrária reforma: a Reforma agrária ao contrário” grilagem de terras para os grandes fazendeiros em detrimento do pobre lavrador.
A 4ª Romaria da Terra e das Comunidades do Zonal 1 da Paróquia de Caetité ao construir esse debate ratifica a luta do povo geraizeiro, que apesar de todas as dificuldades, se organizam para enfrentar a dominação dos ricos, a destruição da Natureza, do Cerrado, das águas, onde os nossos antepassados semearam suas sementes dando como frutos um povo guerreiro, que historicamente tem suas raízes nesse lugar, lugar de trabalho, de realização humana e espiritual. Por isso, as comunidades citadas, organizadas colocam a necessidade de serem respeitados os seus direitos de permanecer em suas terras, seus territórios, fazer uso de suas águas. Queremos a discriminação das terras e sua regularização para os verdadeiros donos: o povo que trabalha, que cultiva e que produz alimentos para a Nação.
Povo geraizeiro unido e em comunhão, na luta combatendo toda forma de opressão!
Campo Grande – Cordeiros - Bahia, 19 de outubro de 2014