COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Com o intuito de fortalecer a identidade dos povos geraizeiros, suas comunidades e organizações para avançar no enfrentamento ao agronegócio e defesa do Cerrado, foi pensada a Semana do Cerrado. Entre 8 e 13 de setembro diversas atividades serão realizadas no norte de Minas Gerais e Oeste da Bahia. No dia 13 será realizada a 1ª Romaria do Cerrado, em Côcos, na Bahia. Confira a programação:

 

O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km, cerca de  22% do território nacional. A sua área contínua incide sobre os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos encraves no Amapá, Roraima e Amazonas. Neste espaço territorial encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), o que resulta em um elevado potencial hídrico, e contribui para a biodiversidade deste bioma.

Muitas populações sobrevivem de seus recursos naturais, incluindo indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos, babaçueiras, vazanteiros, fecheiros e extrativista que, juntas, fazem parte do patrimônio histórico e cultural brasileiro, e detêm um conhecimento tradicional de sua biodiversidade. Inúmeros tipos de frutos comestíveis são regularmente consumidos pela população local e vendidos nos centros urbanos, como o Pequi, Buriti, Mangaba, Cagaita, Bacupari, Cajuzinho do Cerrado, Araticum, Jatobá e as sementes do Barú.

Devido à importância estratégica deste bioma para os interesses do capital, as questões sociopolíticas são constantemente marcadas por disputas de poder, que possuem diferentes contornos em função de projetos antagônicos.  De um lado, o agronegócio apoiado com o incentivo ou omissão do Estado e da grande mídia, e do outro, os camponeses, com o apoio de entidades e organizações populares que resistem bravamente aos desmandos deste modelo dominante.

As desigualdades no campo se traduzem em diversos impactos de ordem social, como trabalho escravo, desemprego, êxodo rural, violência rural e urbana, grilagem, entrada ilegal de empresas em comunidades (sem consentimento dos trabalhadores), constantes ameaças aos camponeses, falsidade ideológica, cooptação de lideranças, superfaturamento das terras (especulação), tráfico de influência, aumento da prostituição e do alcoolismo, divisão de comunidades e territórios tradicionais, criminalização de lideranças e movimentos sociais.

No campo ambiental, o desmatamento, carvoejamento, monocultura, assoreamento, poluição de água e solos, e o uso indiscriminado de agrotóxicos, são responsáveis pela devastação de um dos mais importantes biomas brasileiro. A tendência é que as atividades agropecuárias avancem sobre os territórios das comunidades tradicionais da região do Norte de Minas e Oeste da Bahia, exemplos, são os conflitos na região de Arrojado-Ribeirão e Couro de Porco (Correntina) e Jacurutu-Salobro (Santa Maria da Vitória), sendo estas comunidades de Fundo e Fecho de Pasto, algumas com processos de Ações Discriminatórias Administrativas Rurais concluídas. O caso de Couro de Porco e seu processo de grilagem detectou um dos maiores escândalos de fraudes cartoriais no Oeste da Bahia, que é o caso da Matrícula 2280. Na região de Barreiras e Formosa do Rio Preto também são palcos de diversos conflitos de terra, com destaque para os que envolvem as comunidades geraizeiras do Alto do Rio Preto e Fazenda Estrondo.

Além dos intensos conflitos de terra, o Cerrado é um espaço de produção de água. Ele é o berço das águas do Brasil. Entretanto, os seus rios têm atraído os gananciosos que trouxeram para nossas regiões grandiosos projetos de destruição total dos mesmos. No coração do Rio São Francisco está instalado o projeto Jaíba, que consome atualmente mais de 65 metros cúbicos de água por segundo no Norte de Minas Gerais. No oeste da Bahia, nos afluentes do São Francisco há projetos monstruosos como a Faz. Suze (Correntina), e a Santa Colomba (Côcos) que estão retirando a água quase que totalmente desses afluentes do São Francisco.

Diante de todas essas realidades, lideranças das comunidades e das entidades já há algum tempo sonhavam com a realização de uma Romaria no Cerrado, com caráter celebrativo, diante de todas as formas de vida e de resistência de seus povos, mas também de denúncia de todas as mazelas que o projeto do capital tem trazido para a região e para as comunidades centenárias.

PROGRAMAÇÃO GERAL DA SEMANA DO CERRADO

 

Dia

Horário

Atividade

Local

08/09

9 h às 12 h

Seminário sobre o Cerrado

Câmara de Vereadores-Correntina

08/09

14 h às 16 h

Preparação e envio das equipes para o mutirão

EFAPA – Correntina

09 a 11

Dia todo

Mutirão de visita as comunidades

Côcos, Jaborandi, Santa Maria da Vitória, Correntina e Norte de Minas

12/09

08 às 17h

Avaliação do mutirão e  preparação para a Romaria

Salão Paroquial – Côcos

12/09

Dia todo

Intercâmbio dos geraizeiros  envolvendo comunidades de Caetité, Barreiras e Correntina

Comunidade de Praia

Correntina -BA

13/09

Dia todo

1ª Romaria do Cerrado

Concentração dos/as romeiros/as no Posto JR

Côcos-BA

 

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