Teve início hoje, 22, e segue até o dia 24 de novembro, o Encontro dos Povos e Comunidades do Cerrado, que reúne cerca de 130 pessoas no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia, Goiás.
Após a mística de abertura do Encontro, coordenada pelos representantes do estado de Goiás, que lembraram dos frutos, da água, da terra e da resistência dos povos do cerrado, foi retomada a história de articulação dentro da CPT sobre a questão do bioma. Desde 2009 os regionais da CPT, presentes nos estados onde há o bioma cerrado, se reúnem para compartilhar as histórias de resistência dos povos, formas de conservação do cerrado e estratégias de luta em sua defesa.
Divididos em três grupos temáticos, produção, territórios e biodiversidade, os participantes compartilharam suas histórias e a realidade local de cada povo tradicional que habita o cerrado.
Os retireiros, da região do Araguaia, no Mato Grosso, trouxeram o relato de resistência para manterem seu modo de vida tradicional, criando o gado nas regiões de várzea, cercadas por fazendeiros que tentam expulsá-los dos territórios que ocupam há décadas. Juliana, filha de retireiro, relatou que a casa de seu pai foi incendiada em um conflito mais recente, quando fazendeiros reagiram a ida de professores e alunos de uma Universidade do estado à região, que foram fazer pesquisas e os fazendeiros acharam que eles fariam um relatório para ajudar na criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), desejo dos retireiros refutado pelos fazendeiros.
Paula e Elizeu, do quilombo Brejo dos Crioulos, em Minas Gerais, relembraram a infância vivida em sua comunidade, em que a terra era livre e era área de produção comum. Entretanto, logo depois chegaram fazendeiros à região na tentativa de expulsar os quilombolas de lá. A partir daí vários conflitos se seguiram. Há um mês dois quilombolas da comunidade foram abordados enquanto caminhavam em uma estrada próxima ao Brejo e foram espancados. Para Elizeu, momentos como esse de reunião de várias experiências é de extrema importância, “todo mundo que está na luta tem que se unir e se agarrar a Deus, para lutar e ficar em seu território”. Paula destacou a importância de manter viva as tradições culturais da comunidade, “mesmo na luta, com todo o sofrimento, nós nunca deixamos nossa cultura de lado!”.
O grupo sobre biodiversidade compartilhou, principalmente, as experiências e conflitos que envolvem a questão da água, recuperação e conservação de nascentes, e a luta contra os agrotóxicos, na tentativa de combater o seu uso e esclarecer a população sobre o impacto do uso desses venenos na alimentação desta. Além disso, as comunidades de Riacho dos Machados, também em Minas Gerais, relataram a chegada de uma mineradora canadense à região, que prometeu desenvolvimento e geração de empregos para a população local. Entretanto, o que ela tem produzido é contaminação das águas, além de outros impactos ambientais, e os empregos foram oferecidos a trabalhadores de outros estados.
Da mesma forma, no grupo sobre produção, o sem terra Isaias, acampado em Rio Pardo, em Minas Gerais, relatou que eles também tiveram problemas com uma mineradora que se instalou na região, contaminou as águas e tentou expulsar as famílias acampadas.
O Encontro segue até domingo e ainda vai discutir as ações do Estado sobre as comunidades, a conjuntura ambiental e social do cerrado e as estratégias que devem ser assumidas pelo grupo na defesa do bioma cerrado.