Nesta sexta-feira, 19, o Papa Francisco visitou Puerto Maldonado, no Peru, e se reuniu com povos da Amazônia no Coliseu Regional Madre de Dios. O encontro teve início por volta das 13h30, horário de Brasília. Cerca de três mil indígenas participaram do encontro com o pontífice, conforme informações do portal Vatican News.
(CPT com informações do portal Vatican News | Imagem: REPAM)
Puerto Maldonado, na última quarta-feira (17), acolheu uma caravana de 90 indígenas brasileiros, de 32 etnias. “Apesar da predominância de povos da Amazônia brasileira – representada por indígenas do Acre, Rondônia, Pará, Amazonas e do Mato Grosso – a delegação é composta também por representantes de regiões brasileiras tão diversas como Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul”, informou o Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Em seu primeiro discurso em solo peruano, Papa Francisco manifestou preocupação em relação aos povos e ao território da Amazônia. “Provavelmente, nunca os povos originários amazônicos estiveram tão ameaçados nos seus territórios como estão agora”, disse Francisco, citando os grandes interesses econômicos e as monoculturas agroindustriais. O líder da Igreja Católica também criticou “a perversão de certas políticas”, que promovem a “conservação” da natureza sem levar em conta o ser humano. “Devemos romper com o paradigma histórico que considera a Amazônia como uma despensa inesgotável dos Estados, sem ter em conta os seus habitantes”, frisou.
Para o Papa Francisco, é necessário romper com estes paradigmas e transformar as relações marcadas pela exclusão do povo. Com base nisso, ele sugeriu a criação de espaços institucionais de respeito, reconhecimento e diálogo com os povos da Amazônia, os verdadeiros guardiões dessa enorme riqueza natural. “Estes [povos] não são um ‘estorvo’, mas memória viva da missão que Deus nos confiou: cuidar da Casa Comum”.
Neste sentido, a irmã Ana Maria e Roberto Ossak, ambos da Comissão Pastoral da Terra em Rondônia (CPT-RO), foram ao encontro com o Papa em Puerto Maldonado com uma Carta Fraterna (confira, na íntegra, abaixo) escrita por agentes da pastoral que atuam na Amazônia. “Nós somos gratos pelo seu testemunho a favor dos mais pobres, pelo empenho em prol da reforma da Igreja e pelo alento que traz aos movimentos e organizações sociais e para o nosso trabalho pastoral. Lhe agradecemos, especialmente, pela Encíclica Laudato Sí, que está sendo uma guia inestimável para nosso trabalho por Justiça, paz e pela integridade da Mãe Terra, neste pedaço privilegiado da criação divina da Amazônia”, destaca um trecho da Carta, que foi acompanhada com uma cópia da publicação “Atlas de Conflitos na Amazônia”.
Confira o vídeo abaixo da delegação indígena:
Chile e Peru – Francisco começou sua viagem à América Latina na última segunda-feira, 15, passando primeiro pelo Chile, onde ficou até esta quinta-feira, 18. Hoje, após a visita a Puerto Maldonado, o Papa se reuniu com as autoridades, como o presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski.
Já neste sábado, 20, o Papa visita Trujillo e, depois da missa às 10h na esplanada costeira em Huanchaco, visitará no papamóvel o bairro "Buenos Aires", que foi atingido pelas inundações decorrentes do tufão El Nino no ano passado, quando muitas pessoas morreram na região.
No último dia, domingo, 21, depois das orações com religiosas no Santuario del Señor de los Milagros e as orações às Relíquias dos Santos peruanos na Catedral de Lima, o Papa Francisco se reunirá com os bispos peruanos. No fim do dia, por volta das 18h45 (horário local), o pontífice retorna para Roma.
Confira abaixo a Carta Fraterna escrita pelos/as agentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na Amazônia:
Carta Fraterna ao Papa Francisco por motivo de sua visita à região Amazônica:
Prezado Papa Francisco,
Somos agentes pastorais da Articulação das CPT’s da Amazônia, projeto da Comissão Pastoral da Terra (CPT), uma pastoral social vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com equipes espalhadas pelo Brasil, que nasceu em resposta a grave situação vivida por trabalhadores rurais, posseiros e peões, sobretudo na Amazônia brasileira.
Nós somos gratos pelo seu testemunho a favor dos mais pobres, pelo empenho em prol da reforma da Igreja e pelo alento que traz aos movimentos e organizações sociais e para o nosso trabalho pastoral. Lhe agradecemos, especialmente, pela Encíclica Laudato Sí, que está sendo uma guia inestimável para nosso trabalho por Justiça, paz e pela integridade da Mãe Terra, neste pedaço privilegiado da criação divina da Amazônia.
O caro irmão deve saber que esta é uma região de grande desafio missionário, pelo sofrimento do Povo de Deus, atingido por graves conflitos e violências, assim como pelo desmatamento e pela devastação da natureza. Resultado da disputa pela terra e pelos recursos naturais desta região, pois a Amazônia é considerada uma das últimas reservas de madeira, minério, terra, água doce e de biodiversidade do mundo, sendo um dos biomas mais cobiçados internacionalmente por países que não querem arcar com os custos socioambientais e que exercem enorme pressão sobre as populações locais: ribeirinhos, posseiros, extrativistas, pequenos agricultores, sem-terra e indígenas. A destruição ambiental é resultado de um modelo devastador e excludente, que transforma a terra do povo em terra de negócio e de lucro apenas para alguns. (Conflitos no Campo – Brasil 2016)
Assim, na publicação Atlas de Conflitos na Amazônia, apresentamos, através de mapas, os conflitos no campo dos diversos estados da Amazônia brasileira. Essa terra, encharcada de violência e de injustiças, clama a Deus e exige nossa decidida ação pastoral a favor das pessoas mais vulneráveis e oprimidas.
É um grande desafio, por isso estamos felizes pela convocatória do Sínodo da Amazônia, que chama toda a Igreja para refletir sobre nossa realidade. Desde já, junto com a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e com todos os nossos pastores, comunidades e grupos da Amazônia, nos dispomos a participar com entusiasmo na busca dos novos caminhos da evangelização que passam pelo respeito com a Criação, às pessoas e à diversidade de povos desta região situada no coração do nosso Planeta.
Articulação das CPT’s da Amazônia
Amazônia brasileira, 15 de janeiro de 2018.