Em comunicado oficial e público, por meio do comitê Colômbia, Fospa relembra luta de Marco Rivadeneira em defesa da Amazônia. Ele foi assassinado nesta quinta (19), em Putumayo, após participar de reunião com camponeses locais
Texto e imagens: Fospa - Comitê Colômbia
Tradução: Mário Manzi - CPT
O Fórum Social Panamazônico (Fospa), como processo de reflexão e ação que articula lutas sociais e processos comunitários dos diversos países da bacia amazônica, lamenta e repudia o assassinato do camarada Marco Rivadeneira, reconhecido líder social de Putumayo, da Associação Camponesa de Puerto Asís, Asocpuertoasis, verdadeiro defensor da todas as formas de vida neste território essencial, a Amazônia.
Marco Rivadeneira, que ingressou no Comitê da FOSPA Colômbia desde o pré-Fórum Nacional, realizado em Florencia em 2016, a caminho do VIII Fospa em Tarapoto, Peru, também fazia parte da Junta Nacional del Coordinador Nacional Agrario, do Comitê Operacional da Coordenação Colômbia-Europa-Estados Unidos e era delegado no Congresso dos Povos. Cenários os quais denunciava em seu trabalho se concentravam nas lutas coletivas pela melhoria das condições de vida dos camponeses e de outras comunidades de Putumayo, no cumprimento dos Acordos de Paz, a substituição de culturas para uso ilícito e o freio à locomotiva minero-energética, cenários estes que envolviam níveis extremamente altos de risco.
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Ontem, Marco foi retirado à força, por um grupo armado, enquanto participava de reunião que ocorria no bairro de Nueva Granada, a sudeste de Putumayo, na fronteira com o Equador. Ele foi morto em seguida, na região. Nesta reunião, ele reuniu as expectativas da comunidade em relação às alternativas às plantações de coca, na perspectiva de uma proposta de territórios agroalimentares, que recuperaria a dignidade camponesa em Putumayo. Marco projetou a idéia construída na coletividade dos pensamentos da Escola de Estudos Socioambientais de Putumayo, que tem como bases a alternativa à mineração e extração de petróleo como meio de restaurar o caráter amazônico e agro-alimentar desses territórios.
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Sua morte faz parte da longa lista de assassinatos de líderes sociais na Colômbia, que já se tornou sistemática, incentivada por um governo a serviço do capital transnacional que atrasou o processo de paz e que adotou uma política repressiva para o campesinato ao lidar com o problema da coca e o desmatamento na Amazônia, para desmantelar as resistências ao modelo exploratório neoliberal. Um governo que também zomba do fato de ser um líder social e não mostra vontade de criar uma política abrangente de proteção para organizações sociais, em um contexto de exacerbação do conflito armado promovido pela extrema direita, da qual o governo faz parte.
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Marco junta-se às vidas valiosas, incondicionalmente colocadas a serviço de uma alternativa para mudar um sistema que evidencia sua insustentabilidade todos os dias, como ocorre nesses tempos de crise da saúde. Por esse motivo profundo e compartilhado, o Fórum Social Pan-Amazônico abraça, de forma solidária, cada membro de sua família e os processos sociais de Putumayo, na Amazônia e em toda a Colômbia, onde sua presença permanecerá para sempre.
Por fim, como forma de honrar a vida, o legado e a trajetória de nosso colega Marco, convidamos a fortalecer a articulação de nossas ações nas lutas pela vida e dignidade, nas lutas por água, biodiversidade, campesinato, soberania, alimentação, pela Amazônia. Que possamos transformar a dor em uma força transformadora para aprofundar os caminhos do Bem Viver para todos os povos, como Marco nos ensinou.
Fórum Social Pan Amazônico
Comitê Colômbia
20 de março de 2020
Lembramos Marco com carinho, sempre nos mobilizando em defesa da vida: