Cercada pelo monocultivo da soja, milho e eucalipto, a cidade de Brejo, no Maranhão, recebe hoje, 10 de junho, o I Ato Político de Mulheres em Luta no estado, que ocorre como parte da programação do III Encontro de Mulheres, organizado pela Comissão Pastoral da Terra MA.
(texto e fotos: Andressa Zumpano - CPT)
O ato tem como objetivo denunciar a escalada de violência que atinge os povos do campo, das águas e das florestas na região. Sobretudo, os corpos das mulheres, que estão na linha de frente na luta em defesa dos territórios e são os primeiros corpos a sentir os impactos das inúmeras violências executadas pelos destruidores do meio ambiente.
Iniciada a atividade, Rosa Gregório, quebradeira de coco babaçu, enfatizou: "Nós estamos juntas nessa luta contra o fascismo, contra a homofobia, contra todos os preconceitos e contra a fome. Eu acho que é preciso atentarmos para os dados que foram divulgados em que milhões de pessoas estão passando fome no Brasil. E não é só a gente do campo não, e nós ainda resistimos e plantamos, para nós comermos e para a cidade comer, mas se na cidade o povo não tem salário digno, ele não pode comprar o alimento. E se a gente não tem território livre, a gente também não pode plantar. É uma injustiça muito grande, nós somos aqui quebradeiras de coco, agricultoras familiares, e a gente não tem o direito de plantar para a gente comer, e para sustentar o nosso país e o nosso estado. É por isso que nós, a mulherada, estamos na rua, nós e os movimentos sociais representados aqui por essas mulheres. Nós estamos aqui representando milhões de mulheres que estão nos nossos territórios lutando por territórios livres, contra a violência e denunciando o assassinato dos nossos companheiros e companheiras".
São mulheres quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, indígenas, marisqueiras, camponesas e ribeirinhas, que denunciam as recorrentes ameaças e intimidações que recebem diariamente, promovidas pelo avanço do latifúndio, através de milícias armadas ou até mesmo do aparato estatal, que atua em favor do agronegócio; também acusam o crescimento do envenenamento por agrotóxicos, que contamina água, solo e corpos em suas comunidades; o cercamento e a derrubada das palmeiras de coco babaçu; a privatização das águas, que as impedem de adquirir seu sustento através da pesca.
As mulheres também denunciam a violência do patriarcado, que violenta seus corpos através da opressão de gênero cotidianamente e se potencializam quando, através do racismo ambiental, tem seus direitos negados.
Segundo dados publicados no relatório Conflitos no Campo, da Comissão Pastoral da Terra, o Maranhão foi o segundo estado com maior número de assassinatos no campo em 2021. A publicação também destaca a particularidade das violências que atingem de maneira mais incisiva os corpos-territórios das mulheres do campo, entre elas: ameaças de morte, intimidação e humilhação.
"Entre as duas principais violências contra a pessoa sofridas por mulheres em conflitos no campo em 2021, a Ameaça de Morte e a Intimidação representam, respectivamente, 31,25% e 13,54% das violências sofridas por elas. Contudo, embora a humilhação seja apenas a quinta violência mais sofrida por mulheres, com 7,29% das violências, ela tem um peso maior do que para os homens ", revela a publicação.
"O nosso território está sem vida [...] Estão acabando com as nossas terras, nossas matas, nossos rios. Vocês também precisam dessa água para sobreviver na cidade, que está pegando fogo. Essa é a nossa vida, é fazer luta. Precisamos da solidariedade de todo o povo", declara a Craw Craw, indígena Akroá-Gamella.