Começa hoje a comitiva européia de três representantes de organizações brasileiras, que nas próximas semanas se reunirá com grupos políticos espanhóis e europeus para explicar os impactos das importações europeias de soja.
Por Ecologistas en Accion
Foto: Andressa Zumpano
Uma das marcas históricas do Estado brasileiro é a utilização das forças de segurança pública, muitas vezes em aliança com atores privados, contra os povos do campo em geral e, sobretudo, contra as organizações rurais e movimentos sociais que lutam por seus direitos. As terras indígenas constituem a esmagadora maioria das terras que estão sujeitas a intrusões e agressões violentas. Do início do governo Bolsonaro até 2021, houve um grande aumento no número de famílias que sofreram invasão de suas terras, 206% em relação a 2018.
Toda essa violência tem muito a ver com a importação para a Europa de soja para alimentação da pecuária industrial e para biocombustíveis. A relação é óbvia: cerca de dois milhões de toneladas de soja de terras desmatadas (a partir de 2008) poderiam chegar aos mercados europeus a cada ano. Do total de importações de soja do Brasil que chegam à UE, 69% vêm de dois ecossistemas particularmente valiosos e vulneráveis: a floresta amazônica e o Cerrado. Nesse último ecossistema e em sua área de transição, sem ir mais longe, é onde ocorreram 40,2% dos 2.276 casos de conflitos no campo em 2020, conforme documentado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Alguns conflitos que, em linhas gerais, ceifaram a vida de 109 pessoas no Brasil durante 2021.
Denunciar essa situação e obter apoio institucional para detê-la é o objetivo de uma turnê europeia de ativistas do Brasil que começa em Madri neste dia 5 de maio. Durante a sua estadia na Espanha e uma posterior visita à Bruxelas, vão denunciar como as importações europeias, para além de impulsionarem as emissões derivadas da alteração do uso do solo, da perda de biodiversidade e do aumento do risco de incêndios florestais, aumentam o risco de apropriação de terras, violência e outras efeitos para as comunidades indígenas e outras comunidades dependentes da floresta.
Abaixo está o perfil das três pessoas que compõem o evento, bem como suas agendas na Espanha, que será acompanhada pelos Ecologistas em Ação.
Quem é quem?
As três pessoas que visitarão Espanha e Bélgica entre 4 e 13 de maio têm uma longa trajetória na investigação de desmatamento e grilagem de terras, bem como na defesa dos direitos de comunidades e dos territórios, intimamente ligados à proteção da biodiversidade e ecossistemas:
- André Campos , jornalista especializado em investigações da cadeia de suprimentos. Membro da ONG Repórter Brasil, uma das principais fontes de informação sobre questões ambientais e de direitos humanos no Brasil.
- Jabson Nagelo da Silva , indígena Macuxi da Terra Indígena Serra da Moça, norte do Brasil. É coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), que recebeu o Prêmio Bartolomé de las Casas em 2012.
- Valéria Pereira Santos representa a Comissão Pastoral da Terra (CPT), de base católica, é também parte da Coordenação Executiva da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, bioma gravemente afetado pelo cultivo da soja importada para a Espanha.
Agenda pública
quinta-feira, 5 de maio
— Encontro e conversa com a sociedade civil, às 19h00 (horário de Madri), no Ateneo La Maliciosa (rua Peñuelas, 12, Madrid ). Entrada aberta.
sexta-feira, 6 de maio
— Ação de queixa na porta do Ministério da Agricultura , Pescas e Alimentação, às 11h00 (horário de Madri).
— Mesa redonda para apresentar o relatório Com soja no pescoço . Às 19h00 (horário de Madri) no Salão de Assembléias Corrala de Santiago (Calle Santiago, 5, Realejo, Granada ). Entrada aberta.
sábado, 7 de maio
— Encontro com a diáspora brasileira e latino-americana em Barcelona (horário e local ainda a serem confirmados).
domingo 8 de maio
— Intervenção na Feira Agrícola de Collserola, às 12:00 (horário de Madri), na Esplanada do Centro Cívico de Vallvidrera-Vázquez Montalbán. Entrada aberta.