É a 21ª Celebração das Águas realizada pela Pastoral no estado. Realizada desde 2001, a atividade esse ano aconteceu no domingo (20), numa área de retomada da terra indígena Apucaraninha, do povo Kaingang, no município de Tamarana (PR). É uma área em que os povos indígenas estão nesse processo de retomada desde 2013. No início desse ano, a juventude e as mulheres Kaingang, animados pelas ações realizadas em 2021 em Brasília contra o Marco Temporal, decidiram retomar novamente a área e recuperar o que o agronegócio, até então, destruiu. Eles querem recuperar, principalmente, as seis nascentes que existem no território.
Cristiane Passos*
Cerca de 120 pessoas participaram da ação, entre elas agentes e colaboradores da CPT do norte do Paraná, pastorais sociais da arquidiocese, estudantes, pesquisadores, apoiadores da causa indígena, e representantes de Igrejas da periferia da cidade.
De acordo com os agentes da CPT no Paraná, da equipe de Londrina, os indígenas deram início a um projeto de plantio e produção de vassouras, com o intuito de gerar renda para as famílias e principalmente para os jovens. Além disso, as famílias indígenas deram início ao plantio de alimentos, a partir da Campanha de Sementes Crioulas e das ações da Rede de Sementes e de Agroecologia, da qual a CPT é uma das motivadoras. Na atividade realizada no domingo, foram mobilizadas algumas comunidades do entorno de Londrina para organizar a celebração e, também, fazer o plantio de cinquenta mudas de árvores nativas para recuperação tanto da mina d’água, como da mata ciliar. Para Isabel Diniz, agente da CPT, “fizemos a celebração em torno, principalmente, da valorização, da preservação e do cuidado com as águas subterrâneas, das quais as minas são parte disso. Precisamos lutar não somente pela preservação dos grandes rios e mananciais, mas também pela preservação e recuperação das minas e nascentes, pois são os veios que alimentam os riachos e as lagoas. Para nós é de extrema importância celebrar esse Dia Mundial das Águas, dando a devida importância às águas subterrâneas”.
Isabel destaca ainda a importância da celebração ter sido feita na área de retomada do território indígena Kaingang que, segundo ela, é a área originária deles, “os documentos que eles apresentaram, o mapa de toda a área indígena e a grande luta que esse povo está travando, mostrou a todos os presentes a importância do apoio de outras forças até que esses povos tenham autonomia e segurança sobre seu território”. Eles precisam desobstruir os processos burocráticos e recuperar a documentação originária que tinham, para contrapor os documentos falsos das áreas que foram griladas e mesmo revendidas, pelo próprio Incra, a agricultores e fazendeiros da região. “Então, para nós da CPT, celebrarmos esse dia é de grande importância e queremos mostrar que não só devemos recuperar o território, mas que devemos lutar por um território com vida, com dignidade, com qualidade, não só livre dos monocultivos, dos agrotóxicos, mas também recuperado na questão da fauna e da flora. Todos esses elementos são essenciais para sobrevivência desses povos, e também para vida com qualidade, dentro da dimensão e cosmovisão dos povos originários, e da reprodução da ancestralidade, da cultura e da identidade do povo indígena Kaingang”.
Outro elemento que a agente da CPT destaca sobre a celebração, é a importância desse encontro dos povos do campo, e mesmo com pessoas da cidade, de forma a vivenciar a coragem dos povos indígenas e de seu processo de auto-organização para a retomada de seu território. “Essa questão da luta de retomada, da luta do povo indígena, muita vezes é invisibilizada. Muita gente, inclusive, aqui no entorno das nossas comunidades, vive muito próximo a essa área de retomada, e nunca tinha visto ou convivido com um indígena. Acabam, com isso, tendo visões estereotipadas do modo de vida tradicional. Assim, foi importante propiciarmos esse momento de aproximação solidária, para que também os indígenas não se sintam sozinhos, não se sintam solitários nesse processo que a gente sabe, é longo e árduo, mas que pode ter a solidariedade da presença da celebração e também do apoio nessa luta”.
De acordo com informações da CPT no Paraná, o território tradicional dos Kaingangs está nesse processo de retomada há cerca de dois meses e, até há quinze dias, eles estavam sem fornecimento de água na aldeia, contando somente com a água das nascentes, que ficam distante das casas. A CPT contribuiu na aquisição de mangueiras para que a água pudesse ser canalizada de outra área de retomada, mais acima, a cerca de quinhentos metros da divisa da área onde foi realizada a celebração. Com esse trabalho foi possível garantir água potável para a comunidade e, também, garantir a irrigação das hortas e dos plantios que os indígenas estão fazendo, graças às sementes crioulas que receberam.
*Setor de Comunicação da Secretaria Nacional da CPT.