Em alusão ao Dia Internacional de Luta das Mulheres, milhares de camponesas foram às ruas nesses últimos dias para fazer valer sua voz e seus direitos. Resistência, luta e disposição marcaram as mobilizações. As camponesas reivindicaram Reforma Agrária e denunciaram a grave situação em que se encontram as comunidades camponesas no atual cenário de desmonte das políticas para o campo no país, o que afeta diretamente a vida das mulheres.
Fonte / Imagens: CPT Nordeste 2
Com as mobilizações, as mulheres pretenderam chamar a atenção da sociedade para o fato de que a Reforma Agrária é o instrumento que garante justiça social no campo, liberdade e dignidade às trabalhadoras e aos trabalhadores rurais, além de fazer valer a função social da terra. Seu cumprimento é um dever constitucional do Estado Brasileiro. As recentes medidas implementadas pelo atual Governo Federal, ao contrário de respeitar a Constituição, estão cada vez mais violentas e austeras para os povos do campo.
Por isso, as camponesas dos estados de Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte – que fazem parte do Regional Nordeste 2 da CPT – foram às ruas defender a Reforma Agrária, organizando vários atos e manifestações.
Em Alagoas, centenas de camponesas, unidas às marisqueiras e sem teto, realizaram uma manifestação no centro de Maceió durante todo o dia de ontem (09/03). As mulheres denunciaram a violência, o desmonte do Incra e o abandono da Reforma Agrária no atual governo Bolsonaro. Heloísa do Amaral, coordenadora da CPT NE2, falou da necessidade de lutar pela Reforma Agrária e de garantir a terra para as famílias que estão acampadas em imóveis rurais improdutivos e falidos, como a usina Laginha. Ela destacou o papel das mulheres na produção de alimentos nos acampamentos. “Para garantir a nossa terra, a gente planta lá, mas grita aqui em Maceió”, falou.
O grupo realizou uma assembleia em frente ao Tribunal de Justiça, situado na Praça Deodoro, onde as mulheres estavam acampadas desde o dia anterior. A manifestação no Centro da cidade contou com diversas organizações sociais, como CPT, MST, MLST, MLT, Terra Livre, MTL e MUPT. As mulheres partiram da Praça Deodoro, pararam no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e depois de uma caminhada nas ruas do comércio, encerraram a mobilização na Secretaria de Agricultura do Estado de Alagoas (Seagri), onde houve uma reunião com o diretor-presidente do Iteral, Jaime Silva.
LEIA TAMBÉM: Mulheres Sem Terra ocupam Brasília
Mulheres Sem Terra ocupam Ministério da Agricultura
Em Itaituba (PA), no 8 de março, mulheres realizam seminário e denunciam violências em ato público
Na Paraíba, aproximadamente 800 mulheres camponesas de diversas comunidades do estado, ligadas à CPT e ao MST, realizaram um protesto, na manhã desta segunda, 09, na sede do Incra, em João Pessoa. As mulheres também exigiram o cumprimento da política de Reforma Agrária. “Estamos reivindicando pautas relacionadas à Reforma Agrária e também políticas de fortalecimento destinadas às mulheres. Temos objetivo de passar pelas esferas federais, no Incra, e estaduais, na Secretaria de Desenvolvimento Humano, para atingir nossos objetivos”, comentou Cecília Gomes, coordenadora regional da CPT.
Na Autarquia, as camponesas apresentaram uma pauta reivindicando, entre outros pontos, o Fomento Mulher, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a regularização das Declarações de Aptidão ao Pronaf, além de vistorias de áreas em situação de conflitos. Já durante a tarde, as camponesas caminharam até a sede da Secretaria de Desenvolvimento Humano do Governo do Estado da Paraíba. Na ocasião, as mulheres reivindicaram respostas aos ofícios encaminhados à Secretaria desde o ano passado e que até o momento não foram respondidos.
Em Pernambuco (foto abaixo), cerca de 200 mulheres também realizaram protesto na Sede do Incra, no Recife. As agricultoras vieram de diversas comunidades rurais e assentamentos acompanhados pela CPT na Zona da Mata, Agreste e Sertão do estado. As camponesas chegaram à Autarquia com uma pauta de reivindicação para ser entregue ao superintendente. Contudo, não foram recebidas por ninguém. Indignadas com a indiferença e descaso com que foram tratadas, as mulheres afirmaram que seguirão na luta pela Reforma Agrária.
“Enquanto existir uma trabalhadora sem-terra, uma camponesa sem direitos, vamos continuar nos mobilizando e cobrando do Incra. O Governo passa, mas nós ficaremos”, destacou Marilene Ferreira, do assentamento Ismael Felipe, em Tracunhaém.
Portando faixas com dizeres: "Se o campo não planta, a cidade não janta" e "reforma agrária: direito dos povos, obrigação do Estado", as mulheres fecharam a Avenida Conselheiro Rosa e Silva por cerca de 40 minutos. No início da tarde, as camponesas seguiram para Secretaria Estadual de Desenvolvimento Agrário, no bairro de San Martin, onde foi realizada uma audiência para tratar de um conjunto de reivindicações feitas em âmbito estadual. No dia 19 de março, haverá uma nova reunião para dar continuidade ao que foi discutido.
No Rio Grande do Norte, as mulheres camponesas uniram-se às urbanas e realizaram atos e panfletagens em feiras dos municípios de Caraúbas e de Apodi, no dia 07 de março. Já no município de Mossoró, as mulheres da CPT participaram de uma caravana em alusão ao Dia Internacional de Luta das Mulheres, no dia 08. A ação foi organizada pela Marcha Mundial de Mulheres, que na ocasião fez o lançamento de sua 5º Ação Internacional. As mulheres aproveitaram o momento para denunciar a violência sofrida e também os impactos decorrentes da política implementadas pelo Governo Bolsonaro.
Animadas e proferindo palavras de ordem, elas deixaram o recado: “Não vamos nos calar”. Hilberlândia de Andrade, agente pastoral da CPT em Mossoró, ressaltou que a caravana foi um grito de resistência. “Em uma conjuntura tão difícil, de perda de direitos, as mulheres estão indo pras ruas. Vamos resistir a esta política”. A ação também denunciou as empresas transnacionais que causam danos à vida das mulheres no campo. Hilerdândia destacou ainda que antes das mobilizações, as camponesas participaram de várias oficinas para debater sobre a conjuntura e refletir sobre o que levam as mulheres para as ruas no dia 08 de março.