COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Encontro realizado em Araguaína reuniu jovens de 12 comunidades rurais do estado.

 

(Texto e imagens por Rafael Oliveira – CPT Araguaia-Tocantins)

O regional Araguaia-Tocantins da Comissão Pastoral da Terra (CPT) realizou, entre os dias 21 a 23 de julho, o II Encontro de Juventude Camponesa, na Casa Dona Olinda, em Araguaína (TO). O encontro teve a participação de 25 meninas e meninos de 12 comunidades rurais – entre elas assentamentos, ocupações e quilombo - localizadas do Centro ao extremo Norte do estado.

Sob o lema “Juventude Ocupando Espaços e Transformando Realidades”, os jovens discutiram a conjuntura em âmbito nacional e regional e a ligação do agronegócio com a destruição dos biomas e a expulsão dos povos da terra.  “O Cerrado abriga as maiores nascentes de água doce do Brasil, mas com desmatamento vai causando a diminuição dos rios, podendo até secar. Água é vida, ninguém consegue viver sem água”, aponta Paulo Sousa, do assentamento Formosa, de Darcinópolis (TO).

Outro ponto debatido foi o modo como a mídia repassa as informações sobre o que acontece no País. Os relatos apontaram a falta de representatividade do povo camponês nos meios de comunicação tradicionais. “O agro não é pop, como tentam mostrar. O agronegócio vem para expulsar nossas famílias, para desmatar o Cerrado que a gente vive. A imprensa não mostra o que as famílias sofrem quando alguém de fora chega para plantar milhares de hectares de soja”, disse Camila Pereira, da ocupação Santa Maria, de Nova Olinda (TO).

Para mostrar uma alternativa à mídia tradicional, quatro jovens de assentamentos situados na região conhecida por Bico do Papagaio apresentaram as experiências que têm vivido em um processo formativo chamado Jovens em ComunicAção, promovido pela organização Alternativas para Pequena Agricultura do Tocantins (APA-TO). “Nós aprendemos a fazer comunicação alternativa. Aprendemos a fazer uma pauta, um roteiro, uma matéria, a manusear câmeras, a construir um blog”, explica Elves Felipe, do assentamento Santa Juliana, de Axixá (TO).

“E aí a gente começou a mostrar tudo o que tem nas nossas comunidades: reuniões das associações, sistemas de produção agroflorestal que desenvolvemos, matérias sobre a Escola Família Agrícola. Inclusive já cobrimos a Romaria da Terra Padre Josimo e o II Encontro Tocantinense de Agroecologia”, completa Vera Nunes Paixão, do assentamento Olha D’Água, de São Miguel do Tocantins (TO).

A pedido da própria juventude, o encontro teve como um dos pilares evidenciar o valor da identidade camponesa, do trabalho no campo, dos saberes dos povos e da riqueza do Cerrado. “É importante a gente saber das nossas raízes, da história de luta de nossos pais, nossos avós. Hoje eles podem estar cansados, então nós temos que continuar por eles”, comenta Vanderleia Martins, do reassentamento Alto Bonito, de São Bento (TO).

Entre a troca de experiências e realidades, o grupo conheceu o caso do assentamento Nova Conquista, localizado em Monsenhor Gil, no Piauí, partilhado pelo agente da CPT Francisco Alan. Trabalhadores piauienses resgatados de condições análogas à de escravidão no Pará, no início dos anos 2000, tornaram-se emblemáticos por sua luta pela dignidade. Após serem libertados e exigirem seus direitos trabalhistas, os trabalhadores e suas famílias, já de volta ao Piauí, lutaram por um pedaço de terra para não correrem mais o risco de cair no ciclo da escravidão. As famílias conquistaram o assentamento e continuam na terra até hoje, onde produzem e convivem com uma realidade mais digna.

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A juventude também mostrou que, de fato, está ocupando espaços em seus contextos. Os jovens compartilharam que atualmente ocupam cargos nas associações de suas comunidades, como secretárias, tesoureiros, articuladores, organizadores de eventos, representantes da juventude entre outros. Para José Araújo, do assentamento Santa Cruz II, de Esperantina (TO), essa “ocupação” tem que extrapolar. “Nós devemos brigar por espaço dentro das organizações, temos que colocar a voz da juventude camponesa em todos os lugares. Hoje, por exemplo, conquistamos espaço dentro do próximo Encontro Tocantinense de Agroecologia, no qual teremos um espaço organizado pela própria juventude”.

Nos três dias de encontro, os jovens ocuparam também todos os espaços da Casa Dona Olinda... no salão, na Oca do Povo, nos dormitórios, no banho de rio, no vôlei, no futebol, nas sessões de cinema, nas conversas entre si. Meninas e meninos de comunidades distantes, mas de realidades tão próximas, puderam se conhecer, conversar, sorrir, brincar e aprender em conjunto. A luta camponesa não acabou e precisa ser renovada. E essa juventude mostrou que há novo fôlego de esperança!

O II Encontro de Juventude Camponesa, na Casa Dona Olinda, em Araguaína (TO). Crédito: Rafael Oliveira/CPT

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