Na madrugada do dia 05 de Julho, 165 famílias da Comunidade Quilombola de Praia, oriundas das localidades de Canabrava, Vereda, Porto de Manga, Ilha da Curimatã e Praia, no município de Matias Cardoso, em Minas Gerais, retomaram seu território Tradicional.
Foi retomada a Fazenda Vila Bella que tinha sido arrendada pelos Diários Associados de Minas Gerais ao fazendeiro de Manga, Sr. João Evangelista Dourado, conhecido na região pela alcunha de João Preto.
A área foi retomada em protesto pela imensa degradação ambiental que vem sendo realizada há anos, apesar das recorrentes denúncias já encaminhadas a todos os órgãos ambientais do estado: desmatamentos de mata seca e captação criminosa de água de água do Rio São Francisco. Denúncias que foram reafirmadas nas reuniões do dia 26 de março de 2015 na Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, pela Articulação Rosalino de Povos e Comunidades Tradicionais e pelos Vazanteiros em Movimento junto à SEMAD, SEDA, SEGOV e também junto ao CIMOS. Apesar de todas as denúncias, a degradação ambiental promovida pelo fazendeiro não parou. O que levou a comunidade a tomar esta atitude desesperada.
O território tradicional dessas comunidades foi expropriado inicialmente pelas fazendas e empresas que os expulsaram para as ilhas e margens do Rio São Francisco. Depois a política econômica do Governo de Minas Gerais e da União que viabilizou a implantação do Projeto Jaíba, o que provocou o desmatamento de mais de duzentos mil hectares de Mata Seca. Posteriormente, a política de compensação ambiental do estado de Minas transformou 173.600 hectares em unidades de conservação, sendo 79.000 hectares como unidades de proteção integral, em sua grande maioria assentadas sobre os territórios remanescentes das comunidades tradicionais.
Neste contexto, as comunidades quilombolas e vazanteiras passaram a viver cada vez mais em pequenos espaços, cercadas pelos parques estaduais e encurraladas pelos grandes empresários com projetos de irrigação da banana e criadores de gado. Sendo penalizadas com extremo rigor pelos órgãos ambientais ao mesmo tempo em que se verifica a facilitação nos licenciamentos e a omissão da fiscalização sobre os grandes empreendimentos.
Há muitos anos essas famílias vêm denunciando e clamando pela Justiça diante da negação de seus direitos e da violência com que são tratados. Outro agravante é o uso indiscriminado dos agrotóxicos pulverizados na produção da banana, que vem causando vários problemas de saúde para os trabalhadores e as famílias que vivem nestas comunidades.
A Comunidade Quilombola de Praia e os Vazanteiros em Movimento solicitam a imediata intervenção do Ministério Público Federal, do INCRA, da CIMOS, e dos órgãos do Estado de Minas Gerais para que enviem uma força tarefa a Matias Cardoso, no sentido de proteger as famílias acampadas e impedir que ocorra uma outra chacina – como a que ocorreu no Quilombo dos Nativos do Arapuim, em janeiro de 2014.
VAZANTEIROS EM MOVIMENTO
Maiores informações: Zilah – CPT Norte de Minas (38) 9122-6130