Carta de Atitude Pública da COP DO POVO contra o contrato bilionário de créditos de carbono do governo do Pará e sua política de REDD Jurisdicional

As organizações indígenas, quilombolas, ribeirinhas, camponesas, extrativistas e pesqueiras, que compõem o movimento COP DO POVO, vêm a público manifestar sua crítica ao governador Helder Barbalho, responsável pela assinatura do controverso contrato de compra de créditos de carbono entre o Estado do Pará e a Coalizão LEAF, publicado em 11 de abril de 2025.

Essa negociação, que o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público Estadual (MPPA) recomendam cancelar imediatamente, descumpre a Lei nº 15.042/2024, que regula o comércio de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. A lei proíbe a venda antecipada desses créditos, mas o contrato transforma as florestas do Pará em objeto de especulação financeira, aumentando as desigualdades sociais ao favorecer interesses econômicos em vez da população.

O governador Helder Barbalho, em vez de priorizar os fundos públicos já existentes para ações ambientais, como o Fema, Fundeflor e Fao, optou por criar a Companhia de Ativos Ambientais e Participações do Pará (CAAPP), uma sociedade anônima que centraliza a gestão dos créditos de carbono sem ampla discussão pública, sem concurso público e com pouca participação da sociedade civil, abrindo espaço para parcerias com grandes capitais privados.

Essa medida representa a forte tendência à privatização das florestas públicas e coletivas do Pará sob a justificativa das mudanças climáticas, em um processo que desconsidera o direito à consulta e consentimento prévio das comunidades indígenas e tradicionais, e que viola frontalmente a Convenção 169 da OIT.

Além disso, é inaceitável que a precificação desses créditos tenha sido definida por países do Norte Global e megacorporações como Amazon, Bayer e Nestlé, atores que não possuem legitimidade para formular políticas climáticas e são responsáveis pela crise ambiental e social que afeta o Sul Global. Essa imposição revela um alinhamento do governo de Helder Barbalho com interesses estrangeiros e privados em detrimento da soberania e do bem-estar da população paraense e amazônica.

Diante desse cenário, exigimos a revogação da lei 10.528/2023, que criou a CAAPP, e a substituição por dispositivos que fortaleçam as instituições públicas estaduais e seus servidores. Reivindicamos também a criação de um grupo de trabalho plural que estabeleça o Custo Social do Carbono no Pará, assegurando que as políticas climáticas reflitam os impactos sociais e econômicos reais sobre a população.

A sociedade paraense e amazônica deve disputar politicamente alternativas concretas para enfrentar a crise climática, priorizando o serviço público e rejeitando estratégias que favorecem o capital privado e aprofundam a opressão do Estado e do grande capital.

Assim, a gestão de Helder Barbalho se mostra não apenas equivocada, mas também conivente com a mercantilização da floresta e a exclusão dos povos indígenas e dos povos tradicionais como atores centrais nas discussões que envolvem os ecossistemas e as mudanças climáticas.

Muito distante do que prega Helder Barbalho em palestras e em entrevistas mundo afora, sua preocupação central repousa nos interesses do mercado. Seu governo, ao longo dos anos, se esforçou bastante para negar e anular os direitos dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, camponeses, extrativistas e pescadores. Nunca esqueceremos disso.

Contra toda forma de opressão do Estado e do grande capital,

A COP DO POVO já começou!

Amazônia – Brasil, 17 de abril de 2025.

Assinam esta carta:

  • Cop do Povo
  • Instituto Zé Cláudio e Maria (IZM)
  • Fórum da Amazônia Oriental (FAOR)
  • Sociedade Paraense de Direitos Humanos (SDDH)
  • Instituto Patauá
  • Associação Indígena Tembé do Vale do Acará (AITVA)
  • A Associação de Moradores e Agricultores Remanescentes de Quilombolas do Alto-Acará (Amarqualta)
  • Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase)
  • Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil
  • Grupo de Trabalhadoras Artesanais Extrativistas (GTAE)
  • CDDH Dom Tomás Balduíno
  • Instituto Universidade Popular (UNIPOP)
  • Rede Agroecológica de Trairão
  • Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular (CEPASP)
  • Caixa Agrícola dos Colonos Unidos do Xingu
  • Comissão Pastoral da Terra – Regional Pará
  • Movimento Xingu Vivo para Sempre
  • Associação da Comunidade Quilombola Indígena Gibrié do São Lourenço
  • Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé
  • Instituto Socioambiental Casa Amazônia
  • Coletivo Juntos

Acesse e baixe a Carta através deste link.

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