COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Pela nona vez, o tema da Ecologia é tratado na Campanha da Fraternidade da CNBB, em um contexto de crise socioambiental e de urgência de uma alteração nos modos de vida, consumo e produção no mundo

 

Por Carlos Henrique Silva | CPT Nacional,

com colaboração de Pe. Dário Bossi | Comissão para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB)

Foto: Divulgação / CNBB

Muito além de uma homilia ou discurso que busque aterrorizar fiéis, a Campanha da Fraternidade 2025 chega com o objetivo de chamar a atenção sobre uma situação que necessita de conversão ecológica urgente na sociedade, em vista do bem de todos: a sobrevivência do planeta e dos seres vivos que nele habitam.

Com o tema Fraternidade e Ecologia Integral - “Deus viu que tudo era muito bom (Gênesis 1,31)”, a pauta é o cuidado com a Criação e com os seres humanos, especialmente nas comunidades mais vulneráveis às grandes mudanças climáticas, que não são mais parte de um futuro, mas um presente de crises já sentidas através do aumento da temperatura, das grandes enchentes, secas e fumaça que cobrem as cidades e os campos, da mineração e dos venenos dos agrotóxicos que contaminam as águas, os alimentos e os corpos.

Além do Ano de Jubileu vivenciado pela Igreja Católica, diversas outras motivações conduziram para que este tema fosse sugerido pela Comissão Episcopal Especial para a Ecologia Integral e Mineração: os 800 anos do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis; os 10 anos de publicação da Carta Encíclica Laudato Si’ e a recente publicação da Exortação Apostólica Laudate Deum pelo Papa Francisco; os 10 anos de criação da Rede Eclesial PanAmazônica (REPAM) e a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), no próximo mês de novembro de 2025 em Belém (PA), a primeira na Amazônia.

Ouvir os gritos de socorro que vêm da terra, das águas e das florestas nos diversos biomas brasileiros é apenas o primeiro passo para entender a dimensão do caminho no qual a sociedade está trilhando. No Brasil, os dados parciais de Conflitos no Campo do 1º semestre de 2024, publicados pela CPT no final do ano passado, revelam tendências desastrosas para a convivência dos povos e comunidades em relação ao meio em que estão inseridos: alto índice de incêndios criminosos, contaminação recorde por agrotóxicos através da pulverização aérea (principalmente com uso de drones), além dos impactos da crise climática.

O país sofreu com situações extremas como as fortes inundações que deixaram submersos ao menos 5 assentamentos e atingiram mais de 300 famílias camponesas no Rio Grande do Sul, tanto pela chuva quanto pela perda das produções agroecológicas e animais. Cerca de 145 comunidades quilombolas foram impactadas em 70 municípios, afetando mais de 17 mil pessoas. Nas comunidades indígenas, mais de 9 aldeias do povo Guarani ficaram em situação crítica.

Registro de uma propriedade atingida na comunidade Arroio Grande, no município de Arroio do Meio/RS. Foto: Gerson Antonio Borges

Por outro lado, no Norte do país, as secas dos rios causaram severos impactos às comunidades, sobretudo ribeirinhas e indígenas. No Acre, o começo do ano veio com fortes chuvas e alagamentos, seguidos de secas recordes poucos meses depois, acompanhadas dos incêndios criminosos e desmatamentos, prejudicando a navegação, a produção de alimentos, a pesca e a saúde das populações, dentre outros danos. Foram 100 casos de desmatamento ilegal e 20 de incêndios criminosos, em sua maioria causados por fazendeiros.

Os povos e comunidades do campo, das águas e das florestas também denunciam a atuação do Estado, que em suas diferentes esferas é também responsável pelos cenários da violência aliada à destruição ambiental. Os grandes empreendimentos, sejam eles para exploração de minério, petróleo e gás, geração de energia ou escoamento de commodities para o exterior, são responsáveis por uma parcela considerável dos conflitos, vide o número de violências relacionadas não só à ausência de consulta prévia nos territórios, como a diversos outros impactos dessas atividades.

“Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! É preciso urgente conversão ecológica: passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório sem fim de recursos, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado”, afirma o texto-base da Campanha, do qual selecionamos alguns trechos na pág. 14 (Bíblica).

Mesmo com este cenário difícil, é tempo de ações de mudança de hábito, mudanças culturais pessoais, familiares e comunitárias. Como afirma o Papa Francisco na exortação “Laudate Deum”, o simples fato de mudar estes hábitos “alimenta a preocupação pelas responsabilidades não cumpridas pelos setores políticos e a indignação contra o desinteresse dos poderosos.”

Movimentos como a “Missão Sementes de Solidariedade” no Rio Grande do Sul (organizada pela Cáritas e mais de 20 organizações, incluindo a CPT), bem como as ações protagonizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), mobilizando doações de sementes, mudas, alimentos e outros itens de necessidade básica para as famílias atingidas no campo e na cidade, as Teias e Redes protagonizadas pelos povos e comunidades, são exemplos de resistência e ação profética para a transformação de mentalidades, na retomada de estilos de vida reconciliados com a Criação, entendendo que somos interligadas e interligados nesta Casa Comum, como se fôssemos um - o que realmente somos. 


Identidade visual

Diversos elementos compõem a identidade visual da Campanha da Fraternidade 2025, que tem arte em estilo de colagem, de autoria de Paulo Augusto Cruz, da Assessoria de Comunicação da CNBB. Nela está representado, em destaque, São Francisco de Assis, um exemplo de vida que se baseava na reconciliação com Deus, com os irmãos e irmãs e com toda a criação. O recorte é da obra do período barroco “Êxtase de São Francisco de Assis”, de Jusepe De Ribera. A cruz como elemento central na espiritualidade quaresmal e franciscana; a natureza, a fauna e flora brasileiras representadas pela araucária, o ipê amarelo, o igarapé, o mandacaru, a onça pintada e as araras canindés; as cidades com prédios e favelas, refletindo um Brasil a cada dia mais urbano, com multidões aglomeradas e sobrevivendo num estilo de vida distante da natureza e altamente prejudicial à vida.


Oração da CF 2025


Ó Deus, nosso Pai, ao contemplar o trabalho de tuas mãos, viste que tudo era muito bom!
O nosso pecado, porém, feriu a beleza de tua obra, e hoje experimentamos suas consequências.

Por Jesus, teu Filho e nosso irmão, humildemente te pedimos:
dá-nos, nesta Quaresma, a graça do sincero arrependimento e da conversão de nossas atitudes.

Que o teu Espírito Santo reacenda em nós a consciência da missão que de ti recebemos:
cultivar e guardar a Criação, no cuidado e no respeito à vida.

Faz de nós, ó Deus, promotores da solidariedade e da justiça.
Enquanto peregrinos, habitamos e construímos nossa Casa Comum,
na esperança de um dia sermos acolhidos na Casa que preparaste para nós no Céu. 

Amém!

 

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