O coletivo apontou prejuízos causados aos cultivos e à qualidade de vida entre 2023 e 2024
Por Everton Antunes, com informações da CPT Amazonas
Foto: CPT Amazonas
No dia oito de fevereiro, o município de Careiro Castanho (AM) reuniu cerca de 30 camponeses no Encontro de Trabalhadores Rurais, a fim de debater sobre os efeitos da estiagem e das queimadas entre os anos de 2023 e 2024 na região. Os trabalhadores e trabalhadoras rurais que compareceram à atividade representavam as comunidades do Ramal São José, Santo Antônio do Mamori, Ramal do 10 Andirobão e o PA Panelão.
O encontro contou com momentos de partilha a respeito dos desafios enfrentados diante da emergência climática e buscou propor uma “superação coletiva". A partir das discussões, o coletivo também sugeriu a elaboração de um relatório detalhado sobre os danos sociais e econômicos corroborados pelo impacto ambiental, bem como o fortalecimento do Fórum das Comunidades e o diálogo institucional com o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Durante as atividades, os trabalhadores e trabalhadoras do campo ainda avaliaram ações para o cenário de agravamento das queimadas e estiagem em 2025, de modo a construir estratégias de redução dos danos à produção rural e colaborar para a qualidade de vida das comunidades da terra.
Avaliação dos danos
Foto: CPT Amazonas
De acordo com os camponeses e camponesas presentes no encontro, o ano de 2024 foi marcado por prejuízos na produção – desde a perda dos cultivos, em decorrência da falta de chuva, até o aumento dos efeitos da seca. Os participantes também apontaram o isolamento das comunidades, o que dificultou o acesso a serviços essenciais, a exemplo da dificuldade de deslocamento das crianças até as escolas.
Ao longo das atividades, diversas foram as queixas de abandono e omissão do poder público diante dos problemas enfrentados pelas comunidades. O coletivo também destacou a falta de implementos agrícolas e a ausência de financiamentos e políticas públicas de proteção social nas regiões ocupadas.
Entre outros prejuízos apontados pelos trabalhadores e trabalhadoras, cabe destacar a seca dos poços, a escassez de água potável para consumo e plantio, problemas respiratórios causados pela fumaça, e a estiagem de rios e igarapés. Segundo os moradores da região, não houve ajuda emergencial ou assistência aos ramais neste período, o que expôs a região a condições de “extrema vulnerabilidade social”.
Estimativas
Os habitantes dos ramais preveem a persistência da seca no ano de 2025, caso medidas de contenção dos impactos ambientais não sejam executadas. Esse cenário, conforme documento elaborado na ocasião da atividade, “pode aumentar o isolamento das comunidades” e “prejudicar ainda mais a produção agrícola”.
“Os participantes enfatizaram a urgência de políticas públicas que abordem a regularização fundiária e promovam o fortalecimento do Fórum das Comunidades, além de um diálogo contínuo com órgãos como o MDA e o Incra, para enfrentar os desafios [ocasionados] pelas mudanças climáticas”, sinalizou o relatório do encontro.
Desdobramentos
Foto: Reunião INCRA/MDA com Lideranças e Entidades 11fev 2025.
No dia 11 do último mês, o Incra e o MDA receberam representantes das comunidades amazonenses para ouvir demandas. Em diálogo, os órgãos se comprometeram a visitar o município de Careiro Castanho, a fim de construir alternativas de fortalecimento à agricultura familiar e elaborar ações preventivas diante do quadro de emergência climática.
O Encontro de Trabalhadores contou com o apoio de entidades da Associação ACOPROSA, Ramal Mamori, Ramal São José, Ramal do 10 Andirobão, PA Panelão, Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Direitos, IAS e Rádio Rio Mar.