Por CPT AL
Acolhidos e acolhidas pelas chuvas de janeiro e pela colheita da manga, jaca e caju na comunidade Boa Esperança, em Alagoa Nova/PB, adolescentes e jovens camponeses dos municípios de Sossego e Alagoa Nova se encontraram nos dias 28 e 29 de janeiro para participar da Escola de Formação “Jovens Defensores e Defensoras da Biodiversidade”. A formação teve como base a partilha de seus fazeres e saberes no cuidado com a mãe terra e seus territórios de vida.
Eles e elas vêm se organizando e protagonizando ações agroecológicas numa perspectiva coletiva, libertadora e transformadora, que contribuem para o enfrentamento das mudanças climáticas e para a defesa da vida. Fruto desse processo pastoral e educativo, essa primeira etapa da Escola foi uma oportunidade de partilhar, celebrar e aprofundar conhecimentos sobre as riquezas naturais (vegetação, animais, recursos hídricos e tecnologias sociais), além dos costumes e formas de organização trazidas pelos adolescentes e jovens. Esses elementos foram apresentados por meio de mapas comunitários elaborados em reuniões e mutirões.
O encontro não apenas promoveu diálogos sobre as riquezas das comunidades e dos territórios, mas também lançou um olhar crítico sobre os sinais de degradação ambiental e social vivenciados na região, como o desmatamento, o uso de agrotóxicos, as queimadas, os monocultivos, o machismo, o consumismo, o individualismo, os impactos da energia eólica e solar, a má gestão das águas, a especulação imobiliária e a concentração de terras.
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Foi aprofundada a necessidade urgente de fortalecer um modelo de campo e de sociedade baseado no “Bem Viver”, que valoriza o território, a memória, a ancestralidade, a auto-organização, a economia local e a solidariedade. A agroecologia foi reafirmada como um modo de vida, contrapondo-se ao modelo de desenvolvimento da chamada economia verde, que promove a concentração de poder e terras, a destruição da biodiversidade e a exclusão da juventude e das comunidades camponesas de seus territórios.
Os adolescentes e jovens saíram desta etapa da formação carregando em seus balaios o esperançar, a resistência, o amor, a diversidade, a semente e o alimento. Para Daniel, do assentamento Campos Novos (Sossego/PB), “é de suma importância conhecer a realidade do grupo”. Vanessa, do sítio Honorato (Alagoa Nova/PB) e educadora da Associação Cultural e Agrícola dos Jovens Ambientalistas da Paraíba (ACAJAMAN), destacou que “dialogar sobre os mapas é conhecer a história de cada lugar”. Já Lucas, do assentamento Campos Novos (Sossego/PB) e agente pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ressaltou que “conhecendo a história de cada lugar, o papel da juventude é também nos reconhecermos enquanto jovens agricultores”.
Durante a visita ao quintal e terreiro da família de Wanderléa, educadora da ACAJAMAN, a jovem expressou que, ao começar a olhar o sítio sob a ótica dos conhecimentos agroecológicos, compreendeu seu papel enquanto jovem e mulher negra na defesa da agrobiodiversidade. Esse sentimento foi compartilhado ao longo da formação por outros jovens, como Adailma, da Comissão de Juventude do Polo Sindical da Borborema, que trouxe sua experiência de organização e incentivo à participação política da juventude em suas comunidades. Além dela, Wellington relatou sua luta contra a instalação de uma empresa de hortaliças em sua comunidade, enquanto Edson, também da Comissão de Juventude do Polo e presidente do sindicato de Esperança, destacou a resistência da juventude da Borborema contra a entrada de parques eólicos no território.
A primeira etapa da Escola de Formação ocorreu nesses dois dias com o objetivo de construir conhecimento sobre as juventudes camponesas. A iniciativa foi realizada pela ACAJAMAN e pela CPT Campina Grande, com o apoio do projeto “Transformando Realidades: Juventudes do Agreste Paraibano Cuidando da Biodiversidade”, financiado pelo Fundo Casa Socioambiental.