Por Rafael Oliveira | CPT João Pessoa
Espaço de resistência camponesa, de garantia de segurança alimentar, de pesquisa e de convivência, a Feira Agroecológica da Ecovarzea, realizada no Campus I da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa, celebra 23 anos de existência neste dia 29 de dezembro de 2024.
Há mais de duas décadas, camponesas e camponeses de diversos assentamentos da região mantêm, semanalmente, a feira que é referência na capital paraibana e inspirou experiências em outras cidades e, inclusive, em outros estados, como Rio Grande do Norte, Pernambuco e Alagoas.
Parceira desde as discussões para a criação da Feira Agroecológica da UFPB, como é popularmente conhecida, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) de João Pessoa comemora mais um ano de resistência desse espaço de afirmação da produção de alimentos agroecológicos e da cultura camponesa do estado da Paraíba.
“Para nós, da CPT, a gente avalia como uma experiência assertiva. Primeiro como um canal, uma alternativa de comercialização dos produtos das famílias camponesas. Logo quando a gente iniciou, no início dos anos 2000, a produção proveniente dos assentamentos não tinha receptividade nas feiras locais”, recorda Tânia Maria, agente da CPT de João Pessoa. “O pessoal vinha comprar no Ceasa, mas os nossos produtos ficavam lá na periferia e sem atrativos. Então, a feira aqui foi uma alternativa muito grande para a população e para as famílias camponesas”, acrescenta.
Apesar de notoriamente estabelecida e exitosa, Tânia destaca que a implementação da feira teve diversos desafios em seus primeiros passos. “Era impressionante como a cidade nos tratava como forasteiros, baderneiros, tomadores de terra dos outros. A partir dessas feiras, que essa foi a primeira e depois outras foram se multiplicando, a gente começou a ter a opinião pública já ao nosso favor”. Atualmente, considerando apenas João Pessoa, já são sete feiras agroecológicas em diversos pontos da cidade.
Durante esse percurso, segundo Tânia, mais pessoas passaram a conhecer a luta camponesa pela reforma agrária, pela produção de comida de verdade para combater a fome, dentre outras pautas sociais que envolvem as comunidades integradas à feira.
“Quando esses alimentos começaram a chegar aqui, e começou a existir o diálogo com a sociedade urbana, a opinião pública sobre a necessidade da reforma agrária foi mudando e foi atraindo outras pessoas. Não ficou só na academia, na Universidade. Outras pessoas dos bairros começaram a se chegar”, destaca agente pastoral.
O início da feira contou com a parceria determinante do mandato do então Deputado Estadual, Frei Anastácio, da Arquidiocese da Paraíba, da Cáritas Brasileira, além da CPT João Pessoa. Notadamente, desde a primeira edição da feira até hoje, nenhum esforço e perseverança foi maior do que o das camponesas e camponeses que plantam, colhem, comercializam os alimentos e se organizam por uma sociedade mais justa e igualitária.
Como resultado deste processo, há hoje a Rede Agroecológica Produzindo Saúde e Multiplicando Vidas, composta por cinco Organizações de Controle Social (OCSs). São elas: Ecovarzea, Ecosul, Ecocap, Ecovale e a Associação dos Orgânicos. Todas certificadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e participantes da Comissão de Produtores Orgânicos (CPORG), que é coordenada pelo Mapa.
A existência de feiras agroecológicas faz parte de uma cadeia muito importante, tanto de proteção ao meio ambiente e da herança cultural do nosso povo, como de uma resistência social e representatividade, sendo a culminância de um processo que tem início com a reforma agrária e a justiça social, o plantio, a colheita, a manutenção dos saberes tradicionais e a sustentabilidade, gerando renda e fazendo a economia crescer e circular localmente. Que possamos manter esse legado das feiras vivo e vê-las se desenvolverem cada vez mais em número, tamanho e importância.