Na ocasião, foram identificas diversas situações de violações de direitos humanos e violências contra as comunidades
Por: Comunicação da Campanha Contra a Violência no Campo
Foto: Encontro de articulação da Campanha Contra A Violência no Campo no estado, em Palmares (PE). Créditos: Campanha Contra a Violência no Campo.
A Campanha Contra a Violência no Campo esteve presente, nesta terça e quarta-feira (22 e 23), no estado de Pernambuco para uma missão no território. Na ocasião, a CCVC foi até a comunidade de Canoinhas, na terça-feira, para realizar uma oficina de Autoproteção Popular e Comunitária. Durante o evento, foram identificas diversas situações de violações de direitos, em áreas como moradia e segurança alimentar. A população também relatou sobre plantações serem destruídas.
No evento, a comunidade ainda apontou sobre os direitos trabalhistas estarem sendo infringidos na região. Muitos dos trabalhadores exercem funções na antiga usina, território ocupados por eles atualmente. Com isso, os trabalhadores recebiam apenas o vale alimentação para compras no mercado, e saíram sem as devidas reparações dos direitos.
A comunidade também informou sobre a falta de liberdade para transitar sem medo. Eles relatam que, constantemente, são espionados por drones e que olheiros que vão na comunidade de carro ou moto. Os fazendeiros e a polícia que vão até a comunidade ameaçar e derrubar as casas das famílias, além de apresentarem processos judiciais contra lideranças e subornar as lideranças. Furtos, assaltos e atentado também foram crimes descritos pela comunidade.
Após atentados, a comunidade engenho Canoinhas, foi inserida no programa de proteção coletiva e foi contemplada com câmeras de segurança.
Encontro de articulações
Foto: Encontro de articulação da Campanha Contra A Violência no Campo no estado, em Palmares (PE). Créditos: Campanha Contra a Violência no Campo.
Já no dia seguinte, na quarta-feira, a Campanha Contra Violência no Campo esteve presente no município de Palmares (PE) para um encontro de articulação da Campanha no Estado. No evento, foi exibido o vídeo institucional da CCVC, lançado em agosto deste ano, que marca os dois anos de atuação da instituição e ilustra dados que narram a violência sistêmica contra os povos do campo, das florestas e das águas.
Na ocasião, também foi discutido o contexto da violência no campo no Brasil e, em seguida, o coordenador da Campanha e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Carlos Lima, refletiu sobre o contexto da conjuntura e a importância da CCVC como uma frente de atuação conjunta para superar as violências. Logo em seguida, a equipe da CPT Mata Sul apresentou o histórico e perfil da violência na região, que é tem uma forte influência da Cana de Açúcar.
A região é marcada por conflitos históricos. Um dos casos mais marcantes e recentes foi o assassinato de Jonatas, um menino de 9 anos, morto embaixo da cama ao lado da mãe. O alvo era seu pai, presidente da associação local. O crime ocorreu em 2022, no engenho Roncadorzinho, no município de Barreiros. A comunidade segue enfrentando ameaças constantes.
Em setembro de 2024, a agente pastoral Edina Maria da Silva, da CPT, foi espancada e ameaçada de morte. Ao descer do ônibus escolar, ela e dois outros jovens estudantes foram abordados por um homem armado e encapuzado. Após roubar os celulares das vítimas, o criminoso dispensou os dois jovens e sequestrou Edina. O homem, com uma pistola em mãos, conduziu a agente pastoral por quilômetros de distância da comunidade, onde começou a espancá-la e praticar uma série de violências.
Encaminhamentos
O coletivo busca, agora, uma agenda com a governadora, Raquel Lyra (PSDB), para tratar da pauta da violência no campo nessa região. A Campanha também vai encaminhar uma carta e um relatório das escutas da comunidade para órgãos federais e estaduais. Além disso, a CCVC se coloca à disposição de repetir a metodologia de autoproteção popular para com lideranças para multiplicar esse processo em outras comunidades, enquanto o estado não garante a proteção efetiva e titulação das propriedades para essas famílias que estão ali há mais de quatro décadas.
Durante os encaminhamentos, também foi notificado que a cidade de Jaqueira, também na Mata Sul, é o sétimo município do país com o maior número de conflitos no campo em 2023. A liderança da comunidade alerta que poderá ocorrer mais assassinatos, pois o conflito está acirrado e, até o momento, não há respostas.
A Campanha Contra a Violência no Campo entende que é preciso discutir estratégias de proteção popular das comunidades, denunciar as violências, e incidir politicamente para que essas o Estado cumpra seu papel na proteção e promoção dos direitos das comunidades do campo.