COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Texto e imagens: CPT Tucuruí / Regional Pará

A Comissão Pastoral da Terra – Tucuruí (PA), realizou no dia 20 de setembro um Intercâmbio entre redes locais – “Trabalho em Rede contra a Escravidão”. A iniciativa faz parte das ações desenvolvidas pela CPT na região, vinculada ao Programa Trabalho Justo, implementado pela Fundação Pan-Americana para o Desenvolvimento (PADF), com apoio do Departamento de Estado dos Estados Unidos, por meio do Escritório de Monitoramento e Combate ao Tráfico de Pessoas.

A ação contou com a presença de integrantes da Rede de Ação Integrada para combater a Escravidão (RAICE) de Itupiranga (PA) e de Codó (MA), convidados de órgãos municipais e do Estado, como a gerência de combate ao trabalho escravo da Secretaria Estadual de Igualdade Racial e Direitos Humanos – SEIDH, parceiros como a Clínica de Combate ao Trabalho Escravo da UFPA, além da coordenação da Campanha de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo da CPT – “De Olho Aberto para não virar Escravo”.

Integrantes da rede de Itupiranga (PA) e Codó (MA)

Durante o encontro, foram refletidos três painéis sobre a problemática do trabalho escravo. O primeiro painel tratou sobre “O trabalho em Rede – Desafios e caminhos possíveis” e contou com a exposição, realizada pela agente pastoral da CPT-MA Brígida Rocha dos Santos, Assistente Social e Titular da COETRAE; o segundo painel tratou sobre “O papel das comunidades no combate ao trabalho escravo”, tendo como expositor, Evandro dos Anjos Rodrigues, coordenador da Campanha Nacional “De olho aberto para não virar escravo” e por fim o último painel refletiu sobre “Atuação do SUAS no combate ao trabalho escravo”, feita pela assistente social Maria José, secretaria adjunta de Assistência social de Codó-MA.

“Houve uma pesquisa em 2015, que detectou um grande número de pessoas vindas de trabalho escravo. Em 2018, a CPT procurou o município para desenvolver algumas atividades de conscientização das pessoas para não serem vítimas, a partir do bairro Portelinha, que tinha a maior concentração de pessoas nessa condição. Trabalhamos com o grupo mulheres, mas esta ação envolveu os maridos e filhos, e até outras comunidades como Cruzeiro do Sul, Cajazeiras e a zona rural. O Ministério Público também encaminha os trabalhadores resgatados para a secretaria acompanhar essas pessoas”, afirmou Claudiane Messias, da Secretaria de Assistência Social.

Leila Silva, da PADF, destaca que o resgate e acolhimento de trabalhadores faz parte de um processo que precisa ser articulado: “Esse trabalho que a CPT e outras entidades estão fazendo pra acolher as pessoas, recolocar em um local da sua comunidade, pra voltarem pro seu território e se reajustarem numa rede de trabalho que não entre novamente num ciclo de trabalho escravo, precisa ter sempre a articulação com a Justiça, a Polícia, o Ministério Público do Trabalho e principalmente com a Superintendência Regional do Trabalho, que faz a autuação do resgate e da fiscalização”, declara.

Leila ainda acrescenta o trabalho infantil como uma das piores formas de exploração do trabalho ainda existente na região, quando meninas saem do campo para a cidade para trabalhar como babás e empregadas domésticas, e são ludibriadas com promessas de estudo e garantias, mas encontram exploração.

Na sequência, os/as participantes foram divididos em grupos e realizaram um trabalho de discussão e apresentação de possíveis ações que poderão ser potencializadas junto às comunidades, a rede local e o envolvimento de parceiros, como forma de integrar e desenvolver ações conjuntas no combate da escravidão.

Para o prof. Prudêncio Neto, da UFPA, é muito importante o contato próximo com a sociedade para entender, prevenir e combater o trabalho escravo na região, que faz divisa com os estados do Maranhão e Tocantins, o que favorece o aliciamento e deslocamento de trabalhadores: “A escravidão se manifesta hoje em dia de forma muito mais suave, disfarçada e escondida do que no passado, mas é uma chaga muito presente no nosso Estado, no Brasil e no mundo inteiro. Esta é uma região complicada que favorece o trabalho escravo, na pecuária e em outras cadeias produtivas como a mineração, o dendê. É importante a vigilância constante, pra que a própria sociedade ofereça resposta, com denúncias e ações mais efetivas no combate a essa prática”, destacou.

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