COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Com informações de Luis Miguel Modino (Comunicação CNBB Norte 1) e REPAM-Brasil
Edição: Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional)

Crédito das imagens: CNBB Norte 1

De 17 a 23 de junho de 2024, a Comissão Episcopal Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), está realizando uma missão no Estado de Roraima, na fronteira com a Guiana e a Venezuela. Uma comissão que segundo seu presidente, dom Adilson Pedro Busin, bispo da diocese de Tubarão (SC), tem entre seus objetivos “a conscientização, a incidência política e eclesial”. Representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) também se fazem presentes na missão.

Tráfico de pessoas, uma realidade escondida

A missão ajuda a “trazer a temática do tráfico humano, que ele é escondido, inclusive as vítimas são escondidas”, ressalta o bispo. Estamos diante de um problema social mundial, que o Papa Francisco tanto insiste. A incidência deve ser dupla, segundo dom Busin, “ad intra da própria Igreja, para nós tomarmos consciência desse problema grave, dessa chaga da humanidade, como diz o Papa Francisco, e da sociedade”.

Diante da realidade de Roraima, com uma ebulição migratória e tantas “fronteiras porosas”, a visita da comissão quer com que “essa temática do tráfico humano seja exibido, visibilizado, seja sentido, que chegue ao coração, à mente das pessoas, no mundo da política e na sociedade, com políticas públicas que venham a enfrentar o tráfico de pessoas”, destaca o presidente da comissão.

Fronteira Brasil-Guiana-Venezuela: vulnerabilidades comuns

A migração é uma situação que marca a vida do Estado de Roraima nos últimos anos, até o ponto que atualmente 30% da população de Roraima é formada por migrantes venezuelanos. Anualmente entram mais ou menos 200 mil venezuelanos por ano pela fronteira de Pacaraima.

Na fronteira entre o Brasil e a Guiana, o fluxo de venezuelanos, cubanos e haitianos é constante. Os migrantes chegam muitas vezes em situação de extrema pobreza, sendo muito grande a demora para conseguir documentação, que é tramitada em Boa Vista, com uma lista de espera de mais de cem migrantes em Bonfim, que pelo fato de não ter documentação são vítimas fáceis das redes de exploração.

O tráfico de pessoas é algo sobre o que se está começando a falar entre os povos indígenas, segundo Davi Kopenawa, que afirma ser algo antigo entre os brancos. Nessa perspectiva, o líder yanomami destaca que “é bom que vocês acordarem para falar conosco”. Ele denuncia a exploração das mulheres yanomami pelos garimpeiros, insistindo em que cada vez são mais as indígenas grávidas de garimpeiros.

Os migrantes em Roraima são vítimas do tráfico humano, que se concretiza de diversos modos, no trabalho escravo, a servidão doméstica, o aluguel de crianças para mendicância, para as pessoas serem atendidas em primeiro lugar nas filas, a exploração sexual de crianças e adolescentes, inclusive o roubo de crianças do colo das mães. Pode ser falado abertamente de falta de respeito aos direitos das pessoas, muitas vezes com a conivência do poder público e da própria sociedade.

Uma realidade que também se dá nos abrigos de acolhida, superlotados, com poucas pessoas para realizar o atendimento e cuidado, que em muitos casos têm se tornado territórios sem lei, tendo acontecido assassinatos dentro desses abrigos. De fato, muitos migrantes não querem entrar nos abrigos, preferem dormir na rua, até o ponto de que Boa Vista é a cidade com maior porcentual de população de rua do Brasil.

Em parceria com outras instituições que acolhem os migrantes, a cada dia a Igreja distribui pelo menos 1.500 cafés da manhã e 1.500 almoços, fora o serviço de documentação e acolhimento, com o projeto Sumauma, sediado na paróquia da Consolata de Boa Vista, a mais próxima à rodoviária da cidade, onde grupos de migrantes mais chegam à procura de ajuda.

“Todos os que chegaram aqui trouxeram a sua cultura, o seu jeito de ser, a sua história, e cada um trouxe um pouquinho mais de enriquecimento a nossa sociedade, a visão do mundo, a culinária. A migração não é um problema, a migração é uma riqueza, que torna a sociedade mais plural, mais acolhedora, uma sociedade de fato aberta a todas as pessoas que possam aqui chegar”, ressaltou o bispo de Roraima e presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), dom Evaristo Spengler.

No enfrentamento ao tráfico de pessoas, uma realidade muito ligada à migração, se faz necessário juntar forças para que as autoridades possam efetivar essa política, algo que não está acontecendo no Estado de Roraima, para descobrir luz para fortalecer nossa caminhada, segundo Socorro Santos, diretora do Programa de Direitos Humanos e Cidadania, da Assembleia Legislativa de Roraima. Ela reflete sobre a realidade do tráfico humano, que é dinâmico, multifacetário, ele muda de acordo com a realidade local e o momento histórico.

O tráfico humano também é campo de pesquisa na Universidade, constatando o grande crescimento do contrabando de migrantes, sua perda de cidadania, que vai além do fato de ter documentos, abordando a questão do migrante como assistido e não como protagonista de direitos. Essas pesquisas levam a enxergar o problema da interiorização, visto muitas vezes como projeto de se livrar dos migrantes, igualmente o feminicídio.

Essa realidade leva a olhar as pessoas como objetos, como “a carne mais barata do mercado”, o que coloca em vulnerabilidade as mulheres, os povos indígenas, os negros, no Brasil. Um fato que deve levar a se questionar onde estamos errando como sociedade, a tomar consciência de combater os crimes que são cometidos diante da vulnerabilidade das pessoas.

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