Texto e imagens: Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional)
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) Regional Pará realizou, entre os dias 08 e 09 (quarta e quinta-feira), dois momentos de reforço de sua missão junto aos povos do campo, das águas e das florestas, seguindo a memória subversiva do evangelho da vida e da esperança: a Assembleia Regional e a reunião do Conselho.
Em um contexto de territórios amazônicos altamente disputados, com número crescente de conflitos pela regularização fundiária, violência contra lideranças e desigualdades no acesso à renda e alimentação, se somaram o clamor da crise climática e a pouca perspectiva de mudanças de atitude dos governos na próxima Conferência das Partes (COP-30) em 2025, que terá como sede a cidade de Belém.
Dentre o público participante, estiveram agentes pastorais, trabalhadoras e trabalhadores representando as nove equipes sub-regionais: Alto Xingu, Anapu, Guajarina, Itaituba, Marabá, Marajó, Santarém, Tucuruí e Xinguara. As comunidades acompanhadas são diversas, neste estado que tem área maior do que a região Sudeste inteira.
Iniciada com um momento de mística e acolhida, as equipes se reuniram entre si e compartilharam sinais de vida, presença solidária e resistência vivenciada pelas comunidades. Nas partilhas foram trazidas o destaque de novos acampamentos e assentamentos conquistados, demonstrando esperança e vitória, mesmo diante dos avanços dos empreendimentos e os danos causados por eles ao meio ambiente e à vida das populações.
Em seguida, uma análise de conjuntura facilitada por Yuri Paulino, do Movimento dos Atingidos e Atingidas por Barragens (MAB), levantou reflexões sobre a influência de contextos externos e internos na vida dos povos.
No Pará, a constatação de um governo local que se mostra externamente como defensor da floresta, mas que internamente é devastador e busca favorecer as exportações e os grandes projetos de infraestrutura de grande impacto, como a retomada de estudos para usinas hidrelétricas no Rio Tapajós, ou a Hidrovia Araguaia-Tocantins, que deve impactar a vida de 30 mil famílias em Itupiranga e no baixo Tocantins.
“Sobre a COP 30 que se aproxima, é preciso entender que os países não são obrigados a cumprir os acordos, e assim não vamos esperar que sejam cumpridos. Enquanto comunidades e movimentos sociais, é preciso mantermos um processo de organização popular e pressão pelas pautas necessárias, aproveitando esse momento de visibilidade e demonstrando que não é possível se ter uma COP sem haver demarcação de terras indígenas, regularização fundiária, saneamento e justiça diante da violência crescente no campo. É importante podermos expressar que, se há um patrimônio preservado, foi o povo das florestas quem preservou”, afirmou Yuri.
“A dificuldade para efetivação dos assentamentos tem a ver com o conflito com o próprio capitalismo. Através dos assentamentos, se garante a autonomia dos meios de produção, e isso é um contraponto e uma resistência ao modo de produção capitalista”, afirmou Gilson Rêgo, agente pastoral em Santarém.
“Temos visto momentos de esperança, com a junção dos movimentos sindical e da terra, na luta pela reforma agrária, mas infelizmente muitos espaços públicos estão ocupados pela política partidária, e isto dificulta a mobilização local, principalmente nas campanhas eleitorais municipais, que teremos este ano”, destacou Geuza Morgado, da CPT Marabá.
A assembleia também contou com a eleição da coordenação regional colegiada para os próximos três anos, sendo eleitos os agentes: Francisco Alan, da equipe da CPT Tucuruí, irmã Carla Maria, da equipe CPT Marajó e Judith Vieira, da equipe CPT Santarém, e como suplente Sirlei Carneiro, da equipe CPT Tucuruí.
Durante a realização da assembleia, a CPT Pará retirou suas diretrizes para serem executadas no próximo triênio pastoral, dentre as principais foram assumidas: a luta pela terra e territórios; apoio e atenção as juventudes e as mulheres; a formação integral das comunidades e dos agentes de pastoral, além de fortalecer institucionalmente a CPT em todo o regional.
“A vivência desse momento com os trabalhadores e trabalhadoras foi gratificante. Olhar para a realidade da Amazônia, e junto com os povos construir o caminho pastoral, faz parte da nossa missão”, destaca Francisco Alan, membro da coordenação colegiada.