COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional),
com informações da CPT Amazonas e CNBB Regional Norte 1

Imagens: Divulgação

 

No último final de semana (21 a 23 de março), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) Regional Amazonas realizou a sua 26ª Assembleia eletiva, no Centro de Treinamento de Lideranças da Arquidiocese de Manaus (Maromba). A assembleia foi realizada após um período de 10 anos, sendo um momento de fortalecimento da pastoral nas diversas regiões do estado, o maior estado em extensão territorial do país, com área que supera a da região Nordeste inteira, ou as regiões Sul e Sudeste juntas.

 

Estiveram presentes agentes pastorais das regiões das prelazias de Lábrea e Itacoatiara, além das dioceses de Parintins (município de Maués), Alto Solimões (município de Tonantins) e Arquidiocesana de Manaus, além de Ronilson Costa, da coordenação nacional, e Jeane Bellini, agente histórica da CPT. Integrante da coordenação regional até então, a irmã Agostinha Souza destacou que a experiência tem sido muito rica, insistindo em que “a Assembleia é um momento formativo, com muita partilha da realidade das comunidades trazida pelos agentes”.

 

A Assembleia iniciou com uma apresentação de dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, presidente da CPT Nacional, seguido do cardeal dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

 

Assembleia contou com a presença de dom Ionilton Lisboa (ao centro), presidente da CPT

 

“Vivemos, nos últimos anos, momentos difíceis onde tudo era válido, tudo era permitido, inclusive mortes de indígenas e destruição da natureza. No atual governo, percebemos um pouco mais de ordem, mas ainda um momento de muita violência. Tem aí o movimento ‘Invasão Zero’, e nesse contexto sabemos que a CPT mantém uma dedicação gratuita e arriscada. Quem está na CPT há mais tempo, sabe das dificuldades que se enfrenta, e mesmo dentro da Igreja, nem sempre foi aceita. Mas é preciso estar nos aliando mais às Igrejas locais, apesar das dificuldades que nós vamos encontrando,” afirmou o cardeal Steiner.

 

Em seguida, foi compartilhado o relatório de 2019 a 2023, seguido de reflexão sobre os novos e antigos desafios e as estratégias de atuação no contexto local em que a equipe da CPT está inserida.

 

Dentre os conflitos mais emblemáticos e os desafios, foram destacados: grandes projetos de exploração de gás e de petróleo; pesca predatória; grandes queimadas somadas ao período de seca e crise climática; destruição dos açaizais; fogo como forma de expulsar posseiros e desequilibrar a vida; agentes e lideranças ameaçadas; desmatamento e extração ilegal de madeira; uso de agrotóxicos; avanços do tráfico de drogas nas comunidades e aumento da violência; assédios do mercado de carbono; conflitos no Sul do Amazonas e na tríplice fronteira com os estados do Acre e Rondônia (Amacro) e a atuação precária do Ministério Público; aumento da pecuária, além da necessidade de diálogo maior com o clero local.

 

Na contramão dos conflitos, também foram apresentadas as atividades desenvolvidas de formação e informação junto às comunidades: as denúncias das invasões, reintegrações, extração de madeira e outros crimes encaminhadas aos órgãos públicos; o trabalho em parcerias com DPE, MPF, DPU e sociedade civil; manejos de lagos, manejos florestais e de pesca, iniciativas de proteção e multiplicação de sementes crioulas e demais modos de produção amazônicos.

 

O momento ainda contou com análise de conjuntura e debate assessorado pelo professor da Universidade Federal do Amazonas e assessor da CPT, Tiago Maiká: “A disputa por terra e território, ainda é a principal pauta para a CPT no Amazonas. Em âmbito nacional, houve alguns sinais na composição dos órgãos de referência com o governo Lula, e por isso os movimentos têm a oportunidade única para pressionar pela titulação das comunidades quilombolas, pelas demandas dos assentamentos e pela assistência técnica rural. Mesmo com o contexto difícil, é possível nos alegrarmos com os pontos positivos de todo o trabalho da CPT Amazonas nestes anos. Muitas pessoas conseguiram permanecer resistindo nas suas terras, podendo assim, deitar e dormir em paz com o apoio da CPT”, destacou.

 

Assessoria de Tiago Maiká, debatendo a atual conjuntura da CPT Amazonas diante das realidades e desafios presentes

 

Ao final da assembleia, foi realizada a eleição da nova equipe que irá coordenar a regional pelos próximos três anos, sendo confiado esse serviço a José Jorge Amazonas Barros, Ana Virgínia Monteiro dos Santos e Luís Xavier Martins. Também foi eleito o Conselho Regional, com um nome por diocese ou prelazia: Francisco de Oliveira dos Santos (Lábrea); Daniele Berge Negreiro (Itacoatiara); Amélia (Parintins), e Agostinha (Manaus), destacando a importância e o compromisso da comunicação entre as equipes locais e a coordenação regional. Cada equipe também terá uma pessoa indicada como suplente para o Conselho.

 

Coordenação eleita para os próximos três anos: José Jorge, Ana Virgínia e Luís Xavier

 

“Desde o início da CPT, nós não estávamos procurando terra para nós mesmos. O que nos guiava e continua a nos guiar, é que todos tenham direito à terra. O avançar das grandes propriedades tem tirado esse direito de muita gente, inclusive tem-se invadido terras que são do Estado e também terras indígenas. Temos que encontrar ânimo a partir da espiritualidade que sempre nos orientou, e temos que buscar o apoio um nos outros. Em uma pastoral que vive quase sempre na tensão, expor a própria vida não é tão fácil. Mas tudo isto se reflete no sentido de que a CPT é uma expressão do evangelho, muito mais do que uma organização”, afirmou dom Leonardo Steiner.

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