Legenda: Terceiro dia de atividade do 19º Acampamento Terra Livre (ATL) realizado entre os dias 24 e 28 de abril de 2023. Foto: Verônica Holanda/Cimi
POR ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO CIMI
Em carta, a comunidade lamenta a morte e o ferimento de indígenas Pataxó Hã Hã Hãe, alvo de um ataque armado, e cobra demarcação dos territórios indígenas
Naquela tarde, cerca 200 fazendeiros, mobilizados pelo movimento Invasão Zero atacaram com armas de fogo a retomada do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe sobre o pretexto de realizar uma reintegração de posse nunca expedida judicialmente. O ataque resultou no assassinato de Maria Fátima Muniz de Andrade Pataxó Hã-Hã-Hãe, conhecida como Nega Pataxó, e no ferimento do cacique Nailton Pataxó Hã-Hã-Hãe e outros três indígenas.
Na carta, o povo Akroá Gamella reverencia a memória de Nega Pataxó e cobra providências do Estado quanto a demarcação das terras indígenas. “Exigimos do Estado brasileiro o cumprimento do dever constitucional de demarcar e proteger nossos territórios e que sejam punidos os organizadores e suas organizações criminosas desse ataque covarde que continua fazendo do Brasil o lugar mais perigoso para quem defende os direitos da natureza”, bradam em carta.
Leia a carta na íntegra:
Carta ao povo Pataxó Hã Hã Hãe
O povo Akroá Gamella, do território Taquaritiuá, no Maranhão, neste momento de silêncio tecido de dor e revolta por causa da violência extrema que recai sobre nossos corpos e territórios, manifesta sua solidariedade aos parentes e parentas Pataxó Hã Hã Hãe que lutam pela defesa de nossos territórios e pelo direito de Bem Conviver.
No último domingo (21) fomos surpreendidos com a notícia do ataque aos parentes Pataxó Hã Hã Hãe organizado pelo movimento que se autointitula “Invasão Zero” e pelas Polícias Militar e Civil do estado da Bahia. O ataque resultou no assassinato da pajé Nega Pataxó e no ferimento grave de outros parentes e parentas. A tentativa de homicídio contra o cacique Nailton Pataxó Hã Hã Hãe pretendeu ser um ato contra os direitos indígenas esculpidos na Constituição Federal de 1988, da qual o cacique Nailton foi articulador e artesão. Silenciá-lo de forma brutal e covarde se insere no rol do genocídio praticado pelo Estado brasileiro e pelas elites que o dominam.
Nega Pataxó, o teu sangue derramado por mãos assassinas dos latifundiários haverá de ser honrado em todas as lutas que ainda haveremos de fazer. Teu nome será bandeira que hastearemos em todos as árvores, animais, rios, nascentes, em nossos territórios ainda cercados, mas cuidado e acariciado dentro nós onde nunca chegarão os ladrões e assassinos.
Exigimos do Estado brasileiro o cumprimento do dever constitucional de demarcar e proteger nossos territórios e que sejam punidos os organizadores e suas organizações criminosas desse ataque covarde que continua fazendo do Brasil o lugar mais perigoso para quem defende os direitos da natureza.
Aos parentes Pataxó Hã Hã Hãe a nossa irrestrita solidariedade neste momento de dor.
Povo Akroá Gamella
Apoiadores:
- Tecendo Lutas em defesa do Bem-Viver:
- Conselho Indigenista Missionário – Cimi Regional Maranhão
- Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB
- Comissão Pastoral da Terra – CPT
- Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão