Por Ana Paula Rosa, Antonia Laudeci Moraes e Dernival Venâncio | CPT Araguaia-Tocantins
Com edição de Júlia Barbosa | CPT Nacional
Fotos: Ana Paula Rios e Antonia Laudeci Moraes | CPT Araguaia-Tocantins
Na última segunda-feira, 06/11, foi realizada a exposição Os Comuns do Quilombo Grotão, na Universidade Federal do Norte do Tocantins, em Araguaína (TO). A ação foi articulada pelo Quilombo Grotão, pela Comissão Pastoral da Terra Regional Araguaia-Tocantins, pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão em Saberes e Práticas Agroecológica - Neuza/UFNT, e pelo Programa de Pós-graduação em Cultura e Território - PPGCULT, com o objetivo de visibilizar, dentro do ambiente universitário e urbano, os costumes, as práticas e os fazeres coletivos da comunidade.
A comunidade do Quilombo Grotão está estruturada a partir de uma forte organização coletiva, um dos elementos que dá substância à resistência à desapropriação territorial e cultural. A coletividade é também expressa nas práticas do trabalho - os mutirões -, nas decisões políticas e no cuidado com os mais velhos e com as crianças. Os costumes, as práticas e os saberes ligados aos fazeres coletivos podem ser percebidos, ainda, através da relação da comunidade com a mandioca e a produção das farinhas, que foram destaques da exposição.
O Quilombo Grotão foi fundado por volta de 1860, por Mãe Lunarda. O território da comunidade está localizado no munícipio de Filadélfia (TO). Por volta de 1970, o quilombo começou a sofrer pressão de grileiros, o que culminou no despejo da comunidade, em 2008, a partir de uma decisão judicial. Sessenta dias depois, o juiz da Comarca de Filadélfia (TO) permitiu que eles reocupassem 5% (cerca de 100 hectares) de seu território original. Em 2022, a justiça devolveu 350 hectares do território à comunidade, que rapidamente o retomou, com roças de arroz e, principalmente, de mandioca.
A Comissão Pastoral da Terra acompanha a comunidade desde 2008. A partir de 2017, a CPT e o Neuza/UFNT desenvolvem, em articulação com a comunidade, atividades de formação e acompanhamento relacionadas a produção agroecológica. A exposição trouxe, para o ambiente da universidade, artefatos que representam aos saberes quilombolas ligados à sociobiodiversidade do Cerrado e à produção de farinha.
Com uma abordagem multissensorial, a exposição conduziu o visitante a conhecer o Quilombo Grotão ouvindo, tocando, cheirando, visualizando e até degustando diferentes aspectos de um território repleto de riquezas. Composta por “pequenos espaços/ambientes”, a exposição proporcionou diferentes experiências e permitiu que cada visitante se aproximasse das belezas, dos problemas, das histórias, dos desafios e das conquistas do Quilombo Grotão.
Fotos: Ana Paula Rios e Antonia Laudeci Moraes | CPT Araguaia-Tocantins
“Foi muito gratificante, foi muito importante pra nós, pra comunidade, poder expor alcançando esse espaço na UFNT e estar passando, mostrando para as pessoas o nosso costume, nossos artesanatos, como é viver no quilombo, como é preservar nossos costumes, porque o que mostramos é o que a gente vive”, disse Aparecida, liderança da comunidade Grotão.
Concebida a partir e junto à comunidade, que contribuiu na partilha do conhecimento, na organização e na mediação dos visitantes, a exposição Os Comuns do Quilombo Grotão recebeu, em apenas um dia, aproximadamente 250 pessoas, demonstrando a importância desse tipo de ação e das parcerias em prol da valorização da cultura, especialmente dos saberes e fazeres das comunidades tradicionais.