COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

A atividade contou com a exposição dos dados parciais de violência no campo no primeiro semestre de 2023 e análise da conjuntura política e agrária no Brasil

Por Júlia Barbosa | Comunicação CPT Nacional

 

A Comissão Pastoral da Terra participou, na tarde de ontem (30), da Plenária Nacional da Campanha Contra a Violência no Campo*. A atividade foi realizada em plataforma virtual, com a participação de diversas organizações e movimentos que aderem à Campanha, com o intuito de promover análise de conjuntura da política agrária no governo e dos movimentos populares do campo, além de pensar conjuntamente a construção dos próximos passos para o enraizamento da Campanha.

A atividade teve início com a exposição e análise dos dados parciais de violência no campo no primeiro semestre de 2023, lançados no dia 10 de outubro deste ano, pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno, da Comissão Pastoral da Terra (Cedoc/CPT). Além do panorama geral do primeiro semestre de 2023, o coordenador do Cedoc, Tales Pinto, apresentou um comparativo dos dados de violência nos últimos dez anos no mesmo período.

Durante o primeiro semestre de 2023, o Cedoc registrou 973 conflitos no campo, com um aumento de 8% em comparação ao mesmo período de 2022, quando 900 conflitos foram registrados. Isto significa que o primeiro semestre de 2023 ocupa o 2o lugar em número de conflitos nos últimos 10 anos, ficando atrás apenas de 2020, quando 1.007 conflitos foram registrados pelo Cedoc. 

"Os dados apresentados pela CPT são a expressão concreta da natureza do estado para combater as organizações populares em detrimento dos projetos de exploração e destruição do capital e do agronegócio", afirmou Ayala Ferreira, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Os casos de Trabalho Escravo Rural também foram destaque nos dados do primeiro semestre. Houve um aumento no número de casos registrados (102) e de pessoas resgatadas em condições de trabalho análogas a escravidão (1.408), sendo o maior número de resgates dos últimos dez anos, no mesmo período. 

Ao final da exposição, Tales evidenciou a atualização do número de assassinatos em contexto de conflitos no campo. Em relação ao primeiro semestre de 2023, o número de mortes violentas era de 14 pessoas. Na última sexta-feira (27/10), mais uma liderança quilombola foi assassinada. José Alberto Moreno Mendes, conhecido como Doka, foi morto a tiros em Itapecuru-Mirim, no Maranhão, por dois pistoleiros. Até a data de hoje, o número de mortes violentas já chega a 20 pessoas vitimadas.

Após o momento de exposição e análise dos dados, a Plenária teve seguimento com a análise de conjuntura, que contou com a explanação de Acácio Leite, da Associação Brasileira de Reforma Agrária, e de Ayala Ferreira, da direção nacional do MST. "Precisamos escalar o debate da violencia no campo e a Campanha, com suas organizações, tem conseguido fazer isso, porque estes dados que a CPT expõe não estão sendo debatidos nos órgãos do governo", afirmou Acácio. 

A avaliação geral dos participantes da Plenária é que não há, por parte do governo, propostas de ações concretas em combate à violência no campo. Nesse sentido, Acácio reflete que a derrota da extrema direita nas urnas não é suficiente. "Paralisamos o retrocesso, mas precisamos avançar nas nossas lutas", afirmou.

Ayala deu seguimento à análise de conjuntura, afirmando que o que o movimento busca é uma agenda política a qual as propostas apresentadas pelo capital como saída para suas crises não suportam. "A insistência em manter um projeto de desenvolvimento baseado no capital coloca todas as possibilidades de vida em risco", concluiu Ayala. 

 

* A Campanha Contra a Violência no Campo tem por objetivo propor ações políticas de proteção das comunidades do campo, das florestas e das águas. Propõe-se a sensibilizar a opinião pública nacional e internacional das denúncias que somam a cada dia contra a vida de homens, mulheres, jovens e crianças que defendem o chão para plantar, pescar e colher seu próprio alimento. Acompanhe pelo instagram (@contra_violencia_no_campo)



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