COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Por Comunicação da CPT NE 2 

 

Famílias posseiras da comunidade de Barro Branco, no município de Jaqueira, Mata Sul de Pernambuco, vivem novas situações de conflito nesta quarta-feira, 23. Agricultores e agricultoras da localidade relatam à CPT que foram surpreendidos com uma série de ações violentas promovidas por um grupo de policiais militares e por capangas da Empresa Agropecuária Mata Sul S/A como forma de retaliação aos mutirões de plantação que estavam sendo realizados pelas famílias ao longo da semana.

De acordo com os relatos, policiais militares invadiram, sem ordem judicial, a casa de uma das famílias da comunidade, e vasculharam quartos, cozinha, sala, banheiros e quintal, alegando estar à procura de armas de alto calibre. Na ocasião, a filha do agricultor teve o aparelho de celular danificado por um dos policiais, e a esposa, diante da ação truculenta do PM, precisou de atendimentos médicos imediatos. No mesmo período, capangas da empresa introduziram o gado em áreas de lavouras de agricultores e agricultoras e ainda ameaçaram guiar a boiada para atingir algumas famílias que transitavam nas ruas do Engenho.
 
O episódio acontece um dia após audiência no Incra, para cobrar celeridade na Reforma Agrária, e dois dias após visita do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), por meio da Missão-denúncia contra despejos, realizada ao local. A Comissão Pastoral da Terra está no local acompanhando e prestando apoio às famílias. O Programa de Proteção a Defensores e Defensoras de Direitos Humanos (PEPDDH), a Defensoria Pública da União (DPU) e a Secretaria de Defesa Social (SDS) já estão cientes da situação.
 
A comunidade de Barro Branco é formada por cerca de 200 famílias posseiras que vivem e produzem alimentos no local há mais de setenta anos. Desde 2013 elas reivindicam o reconhecimento de suas posses junto a órgãos federais e estaduais. As terras pertencem formalmente à antiga usina Frei Caneca, desativada há cerca de duas décadas e detentora de uma dívida multimilionária com os cofres públicos e com antigos/as funcionários/as.
 
Há cerca de cinco anos, a área foi arrendada para a empresa Agropecuária Mata Sul. Desde então, são frequentes os relatos de agricultores e agricultoras sobre situações de intimidações, destruições e queimadas de lavouras, destruição de fontes d'água, ameaças, perseguições, além de esbulho de suas posses. O conflito se insere num cenário mais amplo de avanço de empresas agropecuárias em áreas de comunidades rurais posseiras consolidadas há décadas. O advento da pecuária extensiva na Zona da Mata Sul vem afetando milhares de famílias agricultoras, moradoras dos antigos engenhos e credoras das desativadas ou falidas usinas. Além da comunidade do Engenho Barro Branco, os conflitos nas terras da antiga Usina Frei Caneca afetam também as famílias que vivem nos engenhos Fervedouro, Laranjeiras, Caixa D’água e Várzea Velha.
 

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