COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Público lota auditório no lançamento do caderno Conflitos no Campo 2022 – Análise das ocorrências em Goiás na manhã desta quinta-feira, 29. Bispos da CNBB compuseram a mesa do evento e vítimas de violência apresentam testemunhos

Por CPT Goiás / Fotos: Rudger, Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Goiânia

Na manhã desta quinta-feira, 29, cerca de 200 pessoas, entre famílias camponesas, intergrantes da comunidade católica, acadêmicos, defensores de direitos humanos, estudantes e outros, acompanharam presencialmente o lançamento da publicação Conflitos no Campo 2022 – Análise das ocorrências em Goiás, lotando o auditório 1 da área 2 da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).

Dom João Justino, arcebispo de Goiânia e vice-presidente da CNBB, Dom Waldemar Passini, bispo da diocese de Formosa e presidente da CNBB-CO, e o bispo da Diocese de Goiás, Dom Jeová Elias, bispo referencial da Comissão Pastoral da Terra na CNBB compuseram a mesa do evento, juntamente com o promotor Márcio Toledo, do MP-GO, o procurador da república Wilson Rocha, do Ministério Público Federal (MPF), e Gustavo Alves de Jesus, da Defensoria Pública do Estado (DPE).

Na atividade, os dados registrados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduino da Comissão Pastoral da Terra (Cedoc-CPT) e analisados pela CPT Goiás foram apresentados e comentados pelos convidados e pelo público.

Dom João Justino ressaltou a importância do momento para a vida da sociedade, a partir do serviço que a igreja presta com o trabalho da pastoral da terra. “Deus destinou a terra e tudo que ela contém para uso de todos os homens e todos os povos de forma a suprir a necessidade de todos, diz o compêndio do Concilio Vaticano II. Ele deu a terra a todo o gênero humano para que trabalhassem e desfrutassem de seus frutos todos os seus mebros, sem exclusão. A nossa concepção de haja uma destinação universal dos bens da terra é o que faz a igreja acompanhar as pessoas que lutam pela terra.”

Dom Waldemar, a partir de iluminações bíblicas, também falou sobre a sacralidade da terra, enquanto bem comum. “Trago a memória de todos essas iluminações, porque é nossa consciência teológica, é o fato de que somos cristãos, nos permite conversar livremente sobre justiça no campo”.

Na apresentação dos dados, Saulo Reis, da coordenação colegiada da CPT Goiás, mostrou que os registros do Cedoc-CPT feitos em 2022, revelam uma realidade de aumento e agravamentos dos conflitos no campo em Goiás. “O ano passado foi muito difícil para as comunidades e este ano, ao que tudo indica, está pior. O que nos anima na fé e no trabalho é perceber há uma articulação ativa de diversas instâncias do poder público em busca de soluções”, afirmou Saulo.

Simone Oliveira, da coordenação colegiada da CPT Goiás, na abertura da mesa, chamou atenção para o fato de que, das 6 ameaças de morte registradas em conflitos por terra em Goiás em 2022, 4 foram contra mulheres.

Uma dessas vítimas, esteve presente e fez o testemunho sobre as perseguições que vem sofrido por parte de um grupo de grileiros de terra na região de Cavalcante (GO). “Já sofri agressões, tive que desfazer das minhas coisas, não posso ficar na minha terra. Não é só eu que estou sendo ameaça, tem outras pessoas. Vivemos com medo, estamos sofrendo muito, faz tempo. Viemos aqui pedir que olhem pra gente”, disse às autoridades presentes.

Moradores do Acampamento Dom Tomás Balduino, que sofreu severo ataque por forças do estado de Goiás e organização armada de fazendeiros esta semana, também trouxeram o seu testemunho como vítimas da violência armada no campo: “Lutar pelo pobre não é crime. Lutar por dignidade de vida não é crime. Só queremos ter o nosso lugar, para viver e produzir com dignidade. Só queremos que a lei da Reforma Agrária seja cumprida”, disseram. “Nenhum juiz deveria autorizar um despejo sem conhecer a realidade das pessoas. Peço aqui que, cada juiz, antes de julgar um caso de conflito, vá até a terra, e conheça a realidade que as famílias e veja com seus próprios olhos o que elas estão vivendo”, propuseram, em clamor por justiça.

Dom Jeová Elias contribuiu com o evento fazendo uma análise final da apresentação, à luz dos testemunhos das comunidades. “Nós podemos, nos testemunhos aqui, quanta dor, quanto medo, quanto sofrimento dos pobres que, em defesa da riqueza de poucos, são atacados, destruídos e mortos. Queremos não apenas ver os conflitos, mas denunciar e ficar do lado certo da história, do lado de Cristo. Pior do que o pecado da indiferença, de ignorar quem está sofrendo, é negar a realidade, dizer que ela não existe. Estamos vivendo um período triste de nossa história em que se negam os fatos. Afirmam, apesar dos fatos, que não há conflitos de terra, que não há pessoas passando fome, e desprezam os pobres. Isso nos envergonha como cristãos. É negar a realidade histórica do nosso país.”

Dom Jeová também trouxe algumas falas de Papa Francisco e iluminações bíblicas. “O povo luta e continuará lutando, como Davi. Deus estava do lado do pequenino, não estava do lado do gigante, nós temos essa certeza. Papa diz que essa é uma mudança estrutural. Precisamos de uma economia a serviço da vida, porque se ela não está a serviço da vida, ela não está a serviço do evangelho, ela está a serviço do dinheiro. Digamos não a esta economia do dinheiro, que mata, exclui e destrói a mãe terra. Não sejamos governados pelo Deus dinheiro. Sejamos irmãos e estejamos do lado certo da história”, disse o bispo.

Acesse aqui o caderno Conflitos no Campo 2022 – Análise das ocorrências em Goiás em formato digital.

 

 

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