Desde a manhã desta terça-feira, 27, quando o Padre José Amaro Lopes de Sousa, ou simplesmente Padre Amaro, foi detido preventivamente, inúmeras manifestações de apoio e solidariedade ao religioso têm chegado à Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade que ele, assim como Irmã Dorothy Stang, escolheu para dedicar a vida como agente de pastoral. Amaro também é pároco da Paroquia de Santa Luzia de Anapu, da Prelazia do Xingu, situada no estado do Pará.
“Esta prisão representa mais umas das inúmeras violências que o Padre Amaro, trabalhadores e as irmãs de Notre Dame, sofrem naquele município há décadas”, ressalta, em Nota Pública, a CPT no Pará.
LEIA TAMBÉM: NOTA PÚBLICA: O avanço da criminalização não vai parar nossa missão!
Confira as mensagens e notas:
Dom João Muniz Alves, bispo do Xingu, e Dom Erwin Kräutler, bispo emérito do Xingu
“O servo não é maior do que o seu senhor. Se a mim perseguiram, também vos perseguirão", (Jo 15,20).
A Semana Santa começou com grande sofrimento para a Prelazia do Xingu. Fomos surpreendidos na manhã do dia 27 de março com a notícia da prisão de nosso Padre José Amaro Lopes de Sousa, pároco da Paróquia de Santa Luzia de Anapu.
Manifestamos nossa fraterna solidariedade a esse incansável defensor dos direitos humanos, defensor da regularização fundiária, da reforma agrária e dos assentamentos de sem-terra. Há anos alvo de ameaças, Padre Amaro agora é vítima de difamação para deslegitimar todo o seu empenho em favor dos menos favorecidos.
Repudiamos as acusações de ele promover invasões de terras que são reconhecidas pela Justiça como terras públicas, destinadas à reforma agrária, mas se concentram ainda nas mãos de pessoas economicamente poderosas.
Padre Amaro atua desde 1998 na Paróquia Santa Luzia. É líder comunitário e coordenador da Pastoral da Terra (CPT). O assassinato da Irmã Dorothy em 12 de fevereiro de 2005 no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) “Esperança”, não mais o deixou quieto e o fez continuar a missão daquela Irmã mártir.
Acompanhamos apreensivos a investigação e elucidação dos fatos e insistimos que a verdade seja apurada com justiça e total transparência.
A Semana Santa nos recorda a Paixão e Morte do Senhor na cruz, muito mais ainda a Ressurreição de Jesus. Na Páscoa celebramos a vitória da Vida sobre a morte, mas também da Verdade sobre todas as mentiras”.
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Comissão Pastoral da Terra – Regional Pará
Padre Amaro: uma prisão com indícios de armação
Na manhã deste 27 de março de 2018 fomos surpreendidos com a notícia de prisão preventiva do Padre José Amaro Lopes de Sousa, agente da CPT e padre da paróquia de Anapu, da Prelazia do Xingu no Pará. Esta prisão representa mais umas das inúmeras violências que o Padre Amaro, trabalhadores e as irmãs de Notre Dame, sofrem naquele município há décadas. Tudo isto na tentativa de calar o trabalho da CPT e a luta do povo contra a injustiça e a violência implantada por aqueles que controlam as terras, o poder econômico e em muitos casos os próprios órgãos públicos.
O Assassinato covarde da Missionária Dorothy Stang é um caso emblemático da violência que acontece em Anapu. Após 13 anos deste assassinato a violência neste município não diminuiu. No Atlas de Conflitos na Amazônia publicado ano passado mostra que no Estado do Pará o município que registrou maior número de conflitos foi Anapu. Isto revela a dimensão da violência existente naquela região.
Para justificar o pedido de prisão, a Polícia Civil de Anapu atribui a Padre Amaro a prática de uma série de crimes: ameaça, esbulho, extorsão, assédio, etc. No entanto, o que chama a atenção são as fontes das supostas provas apresentadas. Na decisão da Juíza, ela cita o depoimento de uma dezena de fazendeiros que compareceram à delegacia de Anapu para acusar, de forma genérica, o Padre Amaro por supostas ocupações de suas terras. Ora, esses depoimentos são imprestáveis como prova, pois, os fazendeiros além de inimigos declarados do Padre, foram até a Delegacia com a clara intenção de prejudica-lo.
Outros depoimentos citados pela Juíza são de pessoas que participaram de ocupações de fazendas no município e que, posteriormente, discordaram da assessoria prestada pela CPT aos trabalhadores nessas ocupações e passaram a acusar Padre Amaro de se beneficiar de venda de lotes nessas áreas. Da mesma forma, as acusações são genéricas e carecem de materialidade. Todos sabem que em Anapu a CPT defende o modelo dos Projetos de Assentamento Sustentáveis (PDS), que prioriza a convivência entre a agricultura e a preservação da floresta. Muitos discordam dessa orientação da CPT e acabam sendo influenciados a apresentarem denúncias contra Padre Amaro como forma de atingir o trabalho da entidade.
Por outro lado, não é novidade a intenção da Polícia Civil de Anapu em criminalizar o trabalho das lideranças da CPT no município, especialmente, o Padre Amaro. Não foi diferente na época de Dorothy. Durante as investigações do assassinato da missionária, o então delegado de polícia de Anapu, Marcelo Luz, foi acusado pelos próprios fazendeiros investigados, de receber propina para dar proteção a eles nas terras grilada e não dar seguimento às denúncias feitas por Dorothy.
Os advogados da CPT vão analisar todos os documentos juntados no inquérito para averiguarem se houve intensão da polícia local em armar um cenário que justificasse o pedido de prisão.
Padre Amaro vem recebendo ameaças de morte há vários anos da parte de fazendeiros que ocupam ilegalmente terras públicas no município de Anapu. O ódio dos fazendeiros contra ele e a CPT é devido ao apoio dados aos trabalhadores rurais na conquista dessas terras. Em relação à Irmã Dorothy que também foi ameaçada, a decisão dos fazendeiros foi de encomendar sua morte. Dada a repercussão do crime e a prisão dos fazendeiros, ao que tudo indica, houve mudança de estratégia em relação a Amaro, ou seja, tentar afastá-lo de seu trabalho em Anapu através da criminalização e tentativa de desmoralização de seu trabalho.
Importante deixar claro que Padre Amaro não responde a nenhum processo criminal, o que está em curso é apenas uma investigação policial da delegacia de Anapu. O Ministério Público sequer foi ouvido na decretação da prisão. Uma vez concluída a investigação, o MP poderá oferecer denúncia contra o Padre o requerer o arquivamento do inquérito se não se convencer da veracidade das provas.
A CPT irá empreender todos os esforços no sentido de revogar imediatamente essa prisão injusta e provar a inocência de Amaro no curso das investigações.
Esta prisão nos deixa extremamente indignados, mas considerando todo o histórico de violência e a atuação truculenta do governo do Estado do Pará, que com sua polícia que mata e prende trabalhadores, não nos deixa surpresos com ocorrido neste dia 27. Nossa missão como CPT é continuar nosso serviço junto aos trabalhadores que lutam por liberdade e assim continuaremos nosso trabalho. Cada dia mais forte.
Assim, repudiamos todo o processo de criminalização promovida por agentes da polícia civil de Anapu contra o Padre Amaro, que levou ao absurdo de uma prisão preventiva a partir de acusações infundadas, com o intuito de desmoralizar toda sua história de luta. Contudo, nos manteremos fortes e firmes em nossa luta de transformação profunda desta sociedade desigual e injusta. Como pediu Padre Amaro a sua equipe de trabalho, no momento em que era conduzido por policiais: “não deixem de ir para as comunidades. Não parem a missão”.
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Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC)
Pedimos atenção de todos para o que ocorreu com o padre Amaro Lopes, agente da CPT em Anapu, preso hoje pela manhã. Ele foi grande amigo de irmã Dorothy e deu continuidade à luta pela terra – contra o latifúndio e em favor dos camponeses.
Há muito tempo ele vem sendo ameaçado de morte pelos latifundiários, por aqueles que querem se apropriar criminosamente de terras públicas para explorá-las, às custas da expulsão do povo que precisa das terras para sobreviver. Nesse ínterim, padre Amaro tem sido um incansável defensor dos direitos humanos e, por isso, é odiado pelos exploradores da região e por aqueles que acobertam seus crimes.
O CONIC repudia a perseguição a mais um defensor dos Direitos Humanos e manifesta preocupação de ele ser conduzido para o presídio em Altamira, uma vez que o mandante do assassinato de Dorothy está lá e isso pode colocar a vida do padre Amaro em sério risco.
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Irmãs de Notre Dame de Namur, Breves – Prelazia do Marajó
Caras irmãs e irmãos, pedimos intensas orações de vocês por nosso companheiro, padre Amaro, agente da CPT em Anapu: foi grande amigo de irmã Dorothy e deu continuidade à luta pela terra – contra o latifúndio e em favor dos camponeses na posse da terra, depois do assassinato dela em 2005. Ele foi preso hoje de manhã em Anapu. Conhecemos padre Amaro há anos, e sabemos que está sendo acusado injustamente. Há muito tempo que ele vem sendo ameaçado de morte pelos latifundiários, por aqueles que querem se apropriar criminosamente de terras públicas para explorá-las, às custas da expulsão do povo que precisa das terras para sobreviver. Padre Amaro é um incansável defensor dos direitos humanos e, por isso, é odiado pelos exploradores da região e por aqueles que acobertam seus crimes.
Repudiamos todas as acusações contra padre Amaro e nos colocamos solidariamente ao lado dele. Manifestamos nossa grande preocupação com a notícia de que padre Amaro está sendo levado para o presídio em Altamira, uma vez que Taradão – o mandante do assassinato de Dorothy – está lá. Isso coloca a vida do padre Amaro em sério risco. Não podemos nos calar diante de mais esta tentativa de criminalizar lideranças que atuam em favor dos direitos do povo. Como Igreja, nosso lugar é ao lado dos acusados injustamente e dos "perdedores" desta sociedade – não nos palanques, não nos gabinetes, mas pisando no chão batido e enfrentando a poeira da estrada, juntando nossas vozes às vozes daqueles que a sede de poder, de fama e de dinheiro querem calar a todo custo.
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Ccfd-terre solidaire / Secours Catholique – Caritas France
Declaração de solidariedade a Padre Amaro e à CPT
Na manhã deste 28 de março fomos surpreendidos com a notícia de prisão preventiva do Padre José Amaro Lopes de Sousa, agente da Comissão Pastoral da Terra e pároco de Santa Luzia de Anapu no Pará.
Como organizações católicas francesas estamos vindo a público para manifestar nossa grande preocupação frente à situação do Pe. Amaro e, mais amplamente, dos direitos humanos no contexto dos agudos conflitos em torno à questão fundiária no Brasil.
Todos que tiveram a ocasião de compartilhar com o Pe. Amaro no exercício da sua missão pastoral ressaltam a retidão do seu testemunho e sua dedicação. Desse modo, queremos manifestar nossa solidariedade ao Pe. Amaro, assim como também a todos os agentes de pastoral da CPT que no dia-a-dia dedicam suas vidas à defesa dos direitos dos e das camponesas e das populações tradicionais em Anapu e em todo Brasil, muitas vezes ao risco de suas próprias vidas. A defesa da regularização fundiária e do justo assentamento de centenas famílias de camponeses pobres e sem-terra que foi o combate da Irmã Dorothy Stang, segue sendo hoje o combate do Pe. Amaro. Reconhecemos a nobreza dessa missão que se reflete na luta em defesa da Amazônia.
No contexto de violentos conflitos fundiários no Brasil, onde crescem as ameaças, difamações, agressões e execuções de pessoas que lutam pela reforma agrária e pela igualdade, a prisão preventiva do Pe. Amaro suscita questionamentos. As vozes que se levantam para denunciar as injustiças praticadas contra camponeses, povos indígenas e comunidades de povos tradicionais, assim como a criminalização dos defensores de direitos humanos e dos movimentos sociais no Brasil atual, necessitam ser escutadas!
Manifestamos, enfim, nossa grande preocupação com a notícia de que padre Amaro teria sido conduzido para o mesmo presídio em Altamira, onde se encontrariam condenados pelo assassinato de Dorothy Stang.
Que a verdade dos fatos seja apurada com o rigor da justiça, e que o Pe. Amaro tenha o direito de responder ao processo em liberdade.
Pelo fim da violência no campo!
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NOTA DE REPÚDIO
Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz
O Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz, entidade sem fins econômicos criados pela resistência do Povo Portomozense, vem, por meio desta nota, manifestar seu total repúdio a prisão do Padre Amaro da Paróquia de Santa Luzia de Anapu, que foi preso no dia 27 de março na cidade de Anapu, e se solidarizar com todo o Povo da Prelazia do Xingu.
Padre Amaro um verdadeiro profeta de Deus que luta pelo bem comum dos camponeses anapuense, e lembramos ainda que foi um grande apoiador para a criação da Maior Resex do Brasil a Verde Para Sempre em Porto de Moz. Sabemos que há muito tempo padre amaro vem sofrendo perseguição por parte dos fazendeiros maiores latifundiários, que esses sim são os verdadeiros usurpadores que toma do povo aquilo que é seu, por causa dos seus deuses capitalistas.
Querem fazer aquilo que fizeram com Irmã Dorothy, quando no dia 12 de fevereiro de 2005, a silenciaram, e agora querem fazer o mesmo com Padre Amaro. Mas como a própria Palavra Sagrada no diz: Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão (Lc 19,40), e como movimentos sociais, eles não vão nos calar.
E pedimos respeito pelo nosso povo, e esperamos com urgência que seja apurado os fatos, e que prevaleça a verdade.
E que o Padre Amaro volte logo para a sua Paróquia e para junto do seu povo que ele tanto o ama.
Maria Creusa da Gama Ribeiro – Coordenadora CDS
Edilene Duarte da Silva – Membro de Coordenação CDS
Luis Otaviano Matos Pinto – Membro de Coordenação CDS
Erisvaldo Barbosa e Barbosa – Membro de Coordenação CDS
Zuila Gonçalves – Conselheira CDS
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A questão da Terra no Pará
Por Dom Vital Corbellini – Bispo de Marabá – PA
Estamos apreensivos com os acontecimentos que estão ocorrendo nestes últimos dias em relação à prisão do Padre Amaro em Anapu e tudo aquilo que se refere à questão da terra no Pará, Sul e Sudeste do Estado. Estamos unidos à Prelazia do Xingu, Altamira, PA, que está sofrendo toda uma situação nesta prisão de um de seus membros. Rezemos pela nossa Igreja. Queremos a liberdade e o amor. A Igreja sofre por seguir ao Senhor e a sua palavra encontra resistências nas pessoas e nos povos. Mas como povo de Deus não podemos desistir, porque acreditamos em Cristo Jesus, na luz do Espírito Santo, na força do Pai que está ao lado de todos, sobretudo dos pobres e dos sofredores. Deus Uno e Trino acompanhe-nos nesta caminhada e um dia na futura, a vida eterna.
Os conflitos agrários são diversos em todo o Estado de modo que é preciso pensar a reforma agrária como possibilidade de que todos tenham terra. A terra foi dada para todos, porque foi Deus quem a criou e não é só para algumas pessoas. O verdadeiro dono é o Senhor, e nós somos administradores da terra, jamais donos, como diziam os padres da Igreja, os primeiros autores cristãos. O perigo é que de administrador o ser humano torna-se dono da terra, afirmavam eles.
Na nossa realidade é o que está acontecendo a posse da mesma e por isso os conflitos estão ali, as prisões e as mortes. Se a gente tivesse a consciência de que a terra é de todos, todos teriam um pedaço para usufruir para assim ter o seu sustento, o ganha pão de cada dia. A terra está se concentrando sempre mais nas mãos do latifundiário com o desmatamento de florestas, priorizando o gado e afastando sempre mais os pequenos agricultores e agricultoras que plantam algo na terra para o sustento. Existem muitos acampamentos de terra no Sul e Sudeste do Pará, e pelo fato de não terem aonde ir, ficam em algum canto de uma fazenda, ou mesmo ao longo das estradas do interior, de modo que os proprietários de terra muitas vezes ameaçam aquele povo, com agrotóxicos sendo jogados de um pequeno avião, sobre as suas casas ou pequenas plantações próximas, gerando um conflito de descontentamento entre o povo sofrido e levando doenças sobre as pessoas sobretudo as crianças que estão nestes acampamentos de terra. A terra está sendo um negócio muito forte entre o povo desta região, o que deveria ser um bem de todos, aonde todos poderiam usufruir da mesma para a sobrevivência e o louvor ao Criador.
As autoridades civis, políticas deveriam olhar com carinho a questão da terra no Pará, porque já tivemos mártires como a Irmã Dorothy Stang, assassinada em 2005, justamente em Anapu e outras pessoas que tombaram por causa da terra em nossa região ou mesmo da floresta como o casal José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, assassinados em 2011, no interior de Nova Ipixuna, Diocese de Marabá.
Confiamos neste momento para que haja a liberdade do Padre Amaro para voltar à sua Paróquia e celebrar a Páscoa com o seu povo. É preciso lutar pela terra para todas as pessoas, contra o desmatamento de florestas, favorecer a vida do povo pobre que vive na sua terra. Como a terra nesta área é muito expressiva em minérios, e outros metais de valor, atrai a atenção das grandes empresas, e os proprietários de terra fazendo com que haja a concentração da terra sempre mais nas mãos de algumas pessoas. O latifúndio está reinando. Quem grita contra tal situação corre o risco da perseguição, e as vezes da própria vida. Vamos nos unir aos que trabalham a terra para ter os alimentos próprios e proporcionar alimentos para as pessoas da cidade e assim haja a paz no campo, a concórdia e o amor. Estamos na semana santa, dias importantes em que meditamos a Palavra de Deus que nos faz irmãos e irmãs uns com os outros, aonde o Senhor sofrerá por cada um de nós, sendo injuriado, maltratado e condenado à morte, mas ao terceiro dia ressurgirá da morte, como o Primogênito entre os mortos. O Senhor Jesus Cristo nos ensina a amar a Deus, ao próximo como a si mesmo.
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Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil)
Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão (Lc 19,40).
...Se fecharem uns poucos caminhos, mil trilhas nascerão.
Sim! Milhares de trilhas iniciadas por irmã Dorothy Stang continuam abertas depois de seu martírio em 12 de fevereiro de 2005, no município de Anapu, Estado do Pará. Trilhas estas, continuadas pelo padre Amaro Lopes, conhecido, amado e respeitado por sua incansável luta em defesa dos direitos humanos, especialmente dos camponeses, pequenos agricultores da região de Anapu. Gente simples e de grande valor na defesa da Amazônia e da ecologia integral.
Dando continuidade ao trabalho de irmã Dorothy, padre Amaro atua no município de Anapu (PA), na Paróquia Santa Luzia, como líder comunitário e coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na região. Há muitos anos, defende a regularização fundiária e o justo assentamento de centenas famílias de camponeses pobres da região vinculados ao Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS). Em sua missão, tem se colocado à serviço da causa dos trabalhadores e trabalhadoras do campo sendo um suporte para a sua organização, seu protagonismo e sua incansável luta em defesa da Amazônia.
Nesta semana em que celebramos as dores de Cristo a caminho do calvário, padre Amaro Lopes está sendo injustamente acusado e conduzido pelos mesmos caminhos do Calvário de Jesus Cristo. Os sumos sacerdotes, que outrora condenaram Jesus, são os poderosos, exploradores da Amazônia e de seu povo, que agora condenam padre Amaro Lopes.
Da mesma forma que reconhecemos as injustiças da condenação de Jesus, reconhecemos também que o mesmo se passa com padre Amaro. Por isso, compartilhando das mesmas dores de Jesus, clamamos por justiça e bradamos pela imediata libertação deste nosso irmão. Repudiamos veementemente as acusações impetradas sobre ele de forma caluniosa.
Manifestamos nossa solidariedade e nos colocamos ao seu lado, pedindo que se faça justiça com transparência e neutralidade. Que a verdade dos fatos seja apurada com o rigor da justiça, e que o padre Amaro tenha o direito de responder ao processo em liberdade, como o é permitido a qualquer cidadão em situação parecida.
Estamos apreensivos e acompanhamos a investigação e espera pela rápida elucidação dos fatos.
Que se faça justiça e que se celebre a Páscoa da Libertação!
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Comissão Pastoral da Terra em Rondônia (CPT-RO)
Nota de repúdio à prisão do Padre José Amaro
A Comissão Pastoral da Terra – Regional Rondônia se junta à CPT Nacional na denúncia das caluniosas acusações contra o Padre Amaro e a CPT em Anapu – Pará.
Repudiamos a ação deliberada de difamação e criminalização das comunidades na luta pela terra e de seus apoiadores/as, a exemplo de Rondônia, onde existem muitos lutadores/as presos/as injustamente por defender a distribuição justa da terra.
A CPT não medirá esforços para comprovar a inocência do Padre Amaro e revelar os reais mecanismos de intimidação continuada por parte de poderosos contra o povo e sua luta e não se calará.
Conclamamos a todos/as os/as companheiros em Rondônia e no Brasil a não termos medo de continuar assumindo o projeto de Jesus e sua opção preferencial pelos pobres.
Nesse tempo de Páscoa caminhamos juntos/as nos caminhos da Cruz na esperança da Ressurreição.
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Movimentos sociais da região do Xingu divulgam carta coletiva contra a prisão arbitrária do Padre Amaro, militante da luta pela terra na região.
“Nesta manhã de terça-feira (27 de março), a região do Xingu (PA) foi surpreendida com a injusta prisão preventiva do padre católico e defensor de Direitos Humanos e ambientais, José Amaro Lopes de Sousa.
Padre Amaro, como é conhecido pelo povo do Xingu, há décadas atua como missionário da Prelazia do Xingu na Região da Transamazônica, seguindo os passos do seu mestre Jesus Cristo e continuando a luta da irmã Dorothy, com o Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Esperança. Ele foi preso provisoriamente no início da Semana Santa, data simbólica na fé cristã que rememora a morte e ressureição de Jesus Cristo.
A prisão preventiva do padre Amaro faz de um contexto de conflitos fundiários no Pará e não está desvinculada de outros crimes que já aconteceram na região como ameaças, difamação, calúnia, agressões e execuções de pessoas que lutam pela reforma agrária, pela igualdade e ousaram questionar o “consórcio da morte” executor da irmã Dorothy Stang, Ademir Federick (DEMA), Brasília Bartolomeu Dias (Brasília), Maria do Espirito Santo, Zé Cláudio e Chico Mendes, das vítimas da chacina de Pau D’arco e Colniza, entre outros executados e silenciados pela crueldade, covardia e ganância.
Trata-se de um grande consórcio da morte composto por latifundiários, que age por meio da militarização contra o povo, e é legitimado por membros corruptos do poder Judiciário, Executivo, Legislativo e entre outros que desrespeitam leis ambientais e fundiárias, acordos internacionais e convenções socioambientais e direitos fundamentais (acesso à moradia, saúde, educação e a vida).
A operação responsável pela prisão de Padre Amaro foi nomeada ironicamente “Operação Eça de Queiroz”, em alusão ao personagem da obra “O Crime do Padre Amaro”. Desnecessário dizer como é inapropriado comparar nosso Padre Amaro, defensor dos direitos dos mais fracos, com este personagem corrupto e criminoso criado por Eça de Queiroz. Diferente do personagem, esse religioso, lutador e defensor de povos amazônicos, contraria apenas aqueles que não se felicitam em ver os trabalhadores mais pobres conquistarem direitos.
Diante desses motivos, os movimentos sociais se posicionam contra a prisão do Padre Amaro, são solidários à sua luta e estão juntos na sua defesa e na defesa dos direitos da terra, da liberdade de expressão e da vida.”
Assinam: Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Frente Brasil Popular, Movimento Negro, Coletivo de Mulheres do Xingu, Movimento de Mulheres Campo e Cidade, Pastoral da Juventude, Comissão Justiça e Paz, Coletivo de Mulheres Negras Maria Maria, Casa de Educação Popular, Levante Popular da Juventude, Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Pastoral da Criança, Fórum em Defesa de Altamira, Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará (Fetagri), Sindicato dos trabalhadores de Educação Pública do Pará (Sintepp Regional), Mutirão Pela Cidadania, Associação de Mulheres Altamira Região, Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP), Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais do Pará (Sintsep), Associação de Mulheres Trabalhadores de Brasil Novo (Amtaban).
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NOTA DE SOLIDARIEDADE DIANTE DA PRISÃO DE PADRE AMARO
“Se chamaram de Beelzebu ao dono da casa, com que nome haverão de chamar aos familiares dele”? (Mt. 10,25)
A prisão do Pe. José Amaro Lopes de Sousa, pároco da Paróquia de Santa Luzia e coordenador da Comissão Pastoral da Terra de Anapu, nos tem produzido muita dor e tristeza: companheiro incansável comprometido com a defesa dos direitos dos pequenos. E a dor chega até o fundo da alma, sabendo que está preso por falsas acusações que pretendem deslegitimar a ação de quem lidera pastoralmente a comunidade de Anapu desde 1998.
Queremos em primeiro lugar expressar nossa estreita e fraterna solidariedade ao Pe. Amaro Lopes neste momento tão constrangedor para ele, para todo o povo de Deus da Prelazia do Xingu, para os membros de Comissão Pastoral da Terra e para os que estão comprometidos em defender as comunidades que fazem vida neste bendito chão amazônico.
Seguimos com preocupação a prisão do Pe. Amaro, conhecendo os contextos históricos, geográficos e sociopolíticos em que ele continua vivendo, pois, muitos órgãos do Estado e até mesmo a Justiça se tem contaminado com interesses alheios ao bem comum. Repudiamos que em nome dos direitos humanos, que ele seja aprisionado sem provas de crime.
Esperamos que a verdade seja apurada com objetividade e total transparência para que o sol da justiça possa continuar iluminando e guiando nossa vida social, apesar de tantos tropeços. Exigimos imediatamente a liberdade do Pe. Amaro.
Que a experiência da paixão, morte e ressureição de nosso Senhor Jesus Cristo nesta Semana Santa, nos ajude a manter viva a esperança no Deus da Justiça, da Verdade e da Vida.
Santarém, 27 de março de 2018.
Diocese de Santarém
Pastoral Social da Diocese de Santarém
Comissão Justiça e Paz de Santarém
Cáritas de Santarém
Comissão Pastoral da Terra, CPT, Santarém
Conselho Pastoral dos Pescadores, CPP, de Santarém
Movimento Tapajós Vivo
Grupo de Defesa da Amazônia - GDA
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PRISÃO DO PADRE AMARO EM ANAPU (PA): ODIOSA ARMAÇÃO ORQUESTRADA PARA DESLEGITIMAR UMA LUTA PROFÉTICA.
Nota de solidariedade da Igreja de Tocantinópolis (TO)
Por meio desta declaração, fazemos nossas as palavras das Igrejas irmãs da Prelazia do Xingu e das Dioceses de Marabá e Santarém, bem como das pastorais e movimentos sociais daquela região.
“O servo não é maior do que o seu senhor. Se a mim perseguiram, também vos perseguirão” Jo 15, 20
A prisão do Pe. José Amaro Lopes de Sousa, pároco da Paróquia de Santa Luzia e coordenador da Comissão Pastoral da Terra em Anapu (PA), nos têm gerado muita dor, indignação e tristeza. A dor chega até o fundo da alma quando se verifica que foi preso por falsas acusações, as quais pretendem deslegitimar a ação de quem lidera pastoralmente a comunidade de Anapu desde 1998, sendo companheiro incansável, comprometido com a defesa dos direitos dos pequenos.
Desde que foi ungido sacerdote, há cerca de 18 anos, Pe. Amaro exerceu seu ministério em Anapu. Trabalhou ao lado da irmã Dorothy Stang que foi assassinada em fevereiro de 2005 a mando de grileiros de terras. Padre Amaro deu prosseguimento ao trabalho de Dorothy, assumindo a Comissão Pastoral da Terra - CPT e realizando um trabalho baseado no princípio doutrinal e pastoral da “opção preferencial pelos pobres”.
Queremos em primeiro lugar expressar nossa estreita e fraterna solidariedade ao Pe. Amaro neste momento tão constrangedor para ele, para todo o povo de Deus da Prelazia do Xingú, para os membros de Comissão Pastoral da Terra e para os que estão comprometidos em defender as comunidades que vivem neste bendito chão amazônico.
Acompanhamos com extrema preocupação a prisão do Pe. Amaro, conhecendo os contextos históricos, geográficos e sociopolíticos em que está ocorrendo, pois muitos órgãos do Estado e até mesmo a Justiça se têm contaminado com interesses alheios ao bem comum. Repudiamos que em nome dos direitos humanos, ele seja aprisionado sem provas de crime.
Para justificar o pedido de prisão, a Polícia Civil de Anapu, atribui ao Pe. Amaro, a prática de uma série de crimes: ameaça, esbulho, extorsão, assédio, etc. No entanto, o que chama a atenção são as fontes das supostas provas apresentadas.
Na sua decisão, a juíza cita depoimentos de fazendeiros que compareceram à Delegacia de Polícia de Anapu para acusar, de forma genérica, o Pe. Amaro por supostas ocupações de suas terras. Esses depoimentos não prestam como provas, pois os denunciantes, além de inimigos declarados do padre, foram até a Delegacia com a clara intenção de prejudica-lo. Outros depoimentos são de pessoas que participaram de ocupações de terras, mas que, por discordarem das orientações da CPT, passando a acusar Pe. Amaro de se beneficiar de venda de lotes naquelas áreas. Acusações genéricas, carecendo de materialidade.
Todos sabem na região que a CPT defende o modelo dos Projetos de Assentamento Sustentáveis (PDS), que prioriza a convivência entre a agricultura e a floresta, um modelo pelo qual a Irmã Dorothy sofreu perseguição e morte. Por pressão, influências ou motivos torpes, pessoas que discordam dessa proposta, juntaram-se ao coro de denunciantes contra Pe. Amaro, como forma de atingir o trabalho da CPT. Repudiamos as acusações de “promover invasões de terras” que foram reconhecidas pela Justiça como terras públicas e destinadas à reforma agrária, mas que permanecem concentradas nas mãos de pessoas economicamente poderosas.
Nossa missão como Igreja, como pastoral, é continuar nosso serviço junto ao povo de Deus, especialmente junto aos trabalhadores e trabalhadoras que lutam por terra, liberdade e dignidade. Assim continuaremos nossa missão.
Nos manteremos fortes e firmes na luta de transformação profunda desta sociedade desigual e injusta. Como pediu Pe. Amaro a sua equipe de trabalho, no momento em que era conduzido para a cadeia por policiais de Anapu: “Não deixem de ir para as comunidades. Não parem a missão”.
Que a verdade seja apurada com objetividade e total transparência para que o sol da justiça possa iluminar e guiar nossa caminhada, apesar de tantos tropeços.
Exigimos a liberdade imediata do Pe. Amaro.
Que a experiência da Paixão, morte e ressureição de nosso Senhor Jesus Cristo, nesta Semana Santa, nos ajude a manter viva a profética esperança no Deus da Justiça, da Verdade e da Vida.
Araguaína, 29 de março de 2018.
+ Dom Giovane, bispo da Diocese de Tocantinópolis & Comissão Pastoral da Terra, Regional Araguaia-Tocantins & Campanha nacional contra o trabalho escravo
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Entidades saem em defesa do padre Amaro!
Nota em apoio ao padre Amaro e repúdio a criminalização de defensores dos direitos humanos
Nós, de diversas organizações de defensores de direitos humanos, estamos vindo a público para manifestar nosso profundo repúdio a mais este ato de criminalização de defensores humanos, materializado na prisão do companheiro, o agente pastoral padre José Amaro, pároco da paróquia Santa Luzia em Anapu, no Pará.
Diferente do que vem sendo dito pela mídia conservadora, padre Amaro não é um substituto de irmã Dorothy, ele e ela são dois seguidores de Jesus de Nazaré, que entenderam bem o seu batismo e, nesta condição, assumem não se calar diante das injustiças. Padre Amaro e imã Dorothy, cada um tem seu lugar e seu trabalho. Ele não a subsistiu, mas sim respondeu a sua missão de cristão, de ser humano comprometido com a causa da justiça.
Padre Amaro vem servindo aos povos empobrecidos de Anapu como padre na sua missão de evangelizar. Evangelho vivo e atuante no meio daqueles filhos e filhas de Deus, sofridos e maltratados pela ganância do latifúndio.
Padre Amaro, como qualquer defensor dos direitos humanos neste país, está sujeito a sofrer investidas sanguinárias, sujas e cruéis deste sistema apodrecido, que para encobrir suas próprias sujeiras jogam o foco para a direção de outros, particularmente dos que ousam lutar pela liberdade da terra e dos filhos da terra. Quem não lembra d e Marielle Franco, que depois de morta ainda foi brutalmente caluniada? E mais, até agora nada de resposta.
O problema da grilagem de terras é uma constante naquela região do Pará. Desde o ano 2015, quando do assassinato da irmã Dorothy, até os dias atuais já foram mortas 15 pessoas no município de Anapu, pela mesma razão.
Padre Amaro é uma das vozes que constantemente vem denunciando tais violências acontecendo em Anapu. Ele também vem denunciando o silêncio das autoridades e, inclusive, a atuação estranha de certos agentes públicos como a polícia em Anapu, sobre quem pesa muitas interrogações.
No último dia 09 de março, padre Amaro, em audiência pública sobre os conflitos por terra na região de Anapu realizada em Belém, mais uma vez denunciou a situação violência que acomete camponeses daquela região. Ele também pediu ação das autoridades no sentido de solucionar as causas desta violência. Em resposta, prendem o denunciante.
Estamos aqui para denunciar mais esta ação, imoral, cruel e injusta de Estado brasileiro, que por meios inescrupulosos, em conjunto com os manda chuvas, latifundiários e grileiros da região de Anapu, tenta calar a voz de quem se levanta para denunciar as injustiças praticadas contra camponeses, povos indígenas e todas comunidades de povos tradicionais neste país. E negros e pobres das cidades.
Abaixo a criminalização! Pelo fim do autoritarismo e da violência no campo e na cidade contra os empobrecidos.
Exigimos a revogação desta prisão, infame e de caráter puramente político contra nosso companheiro padre Amaro.
Acampamento Nossa Terra-CE
Ananda Marga – Belém
Articulação nacional de Agroecologia- -ANA
Conselho Indigenista Missionário – Maranhão
Centro Ecumênico de estudos Bíblicos – CEBI – Maranhão
Comunidades Eclesiais de Base – CEB´s- Maranhão
Comissão Pastoral da Terra-Maranhão
Centro Ecumênico de estudos Bíblicos – CEBI – PA
Central sindical e Popular- CSPConlutas
Centro Alternativo de Cultura Padre Freddy - CAC
Comitê Dorothy – Belém PA
Consulta Popular-CE
Coletivo Nagô de Barra do Corda - MA
Comissão pastoral da Terra-Marajó
Cáritas Brasileira regional Maranhão
Comissão de Direitos Humanos da OAB/MA
Conferencia dos Religiosos do Brasil – CRB Núcleo de Balsas-MA
Equipe JPIC das Irmãs de São José de Chambery
Grupo Musical Balanço do coqueiro-CE
Grupo de pesquisa Resistenciais e reexistencias na terra-UFPA
Irmãs de Notre Dame de Namur
Irmãs De São José de Chambery
Instituto Terramar- CE
Jornal Vias de Fato
Levante Popular da Juventude-Ce
Mulheres Quilombolas Guerreiras da Resistência
Movimento Saúde dos Povos – Pará
Movimento Reocupa
Movimento Quilombola dos Maranhão – MOQUIBOM
Missionárias do Sagrado Coração de Jesus
Movimento Interestadual das quebradeiras de Coco babaçu- MIQCB
Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra- MST-CE
Movimento dos pescadores e pescadoras – MPP-MA
MAIS-PSOL
Movimento Mulheres em Luta
Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra- MST-PA
Movimento em Defesa da Ilha
Núcleo de estudo e Pesquisa em Questão Agrária – NERA
Ordem Franciscana Secular do Brasil Regional Nordeste I- São Luís -MA
Pastoral da Juventude-CE
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados-PSTU
Povo Tremembé de Raposa e Engenho
Povo Akroá Gamela/território Taquaritiua
Quilombo Raça e Classe
Sindicato dos Técnicos Administrativos das instituições Federais de Ensino Superior do Pará – SINDTIFES-PA
Sindicato dos Bancários – MA
Sinasesfe Seção Monte Castelo – MA
Secretariado da CNBB Regional Nordeste 5
Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão
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Padre Amaro, da CPT: um incansável defensor dos direitos humanos
Por Gilvander Moreira*
Antes de ser assassinada, em Anapu, no Pará, no dia 12 de fevereiro de 2005, por um consórcio de fazendeiros, Irmã Dorothy Stang profetizou: “Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor, em uma terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar”.
Mataram irmã Dorothy, mas milhares de outras Dorothys continuam a luta pela terra e em defesa da Amazônia. Diante do corpo matado da Irmã Dorothy e diante do Deus da vida, padre José Amaro Lopes de Sousa renovou seu juramento de continuar a missão de Jesus Cristo e da Irmã Dorothy junto às comunidades camponesas tão violentadas pelos capitalistas que atuam na região de Anapu, no Pará. Ao ser preso em Anapu, padre Amaro sugeriu às irmãs de missão: “Continuem indo às comunidades. Não parem a missão.”
“A verdade nos liberta” (João 8,32), afirma o quarto Evangelho da Bíblia. Em busca da verdade, precisamos reafirmar o que segue: Padre José Amaro Lopes de Sousa, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Anapu, no Pará, foi preso no dia 27 de março de 2018, sem a apresentação das provas dos crimes que acusavam que ele teria cometido. Não podemos aceitar as notícias veiculadas pela grande mídia sobre a prisão do padre Amaro como se fossem a verdade. Há indícios sérios de que a prisão do padre Amaro tenha sido ilegal, injusta e inconstitucional. Verdade é que desde 2001, o Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, da CPT, registra ameaças de morte contra o padre Amaro, que se sucederam diversas vezes nos anos seguintes. Ameaças de morte por causa do trabalho pastoral que padre Amaro faz na defesa das/os camponesas/es, da floresta Amazônica e de todas/os as/os injustiçadas/os na região de Anapu, no Pará.
Para as irmãs da Congregação de Notre Dame de Namur, mesma congregação da Irmã Dorothy Stang: “Padre Amaro é um incansável defensor dos direitos humanos e, por isso, é odiado pelos exploradores da região e por aqueles que acobertam seus crimes. Há muito tempo que ele vem sendo ameaçado de morte pelos latifundiários, por aqueles que querem se apropriar criminosamente de terras públicas para explorá-las, à custa da expulsão do povo que precisa das terras para sobreviver”. Esse testemunho é verdade, pois as irmãs e padre Amaro trabalham juntos na pastoral e na missão desde os tempos de Irmã Dorothy Stang.
Os bispos Dom João Muniz Alves, bispo do Xingu, e Dom Erwin Kräutler – também muitas vezes ameaçado de morte e de ressurreição -, bispo emérito do Xingu, escreveram em Nota: “Manifestamos nossa fraterna solidariedade ao padre Amaro, incansável defensor dos direitos humanos, defensor da regularização fundiária, da reforma agrária e dos assentamentos de sem-terra. Há anos alvo de ameaças, padre Amaro agora é vítima de difamação para deslegitimar todo o seu empenho em favor dos menos favorecidos”.
A Comissão Pastoral da Terra, no Regional Pará, em Nota afirmou: “Padre Amaro: uma prisão com indícios de armação. […] Não é novidade a intenção da Polícia Civil de Anapu em criminalizar o trabalho das lideranças da CPT no município, especialmente, o padre Amaro. Não foi diferente na época de Dorothy. Durante as investigações do assassinato da missionária, o então delegado de polícia de Anapu, Marcelo Luz, foi acusado pelos próprios fazendeiros investigados, de receber propina para dar proteção a eles nas terras griladas e não dar seguimento às denúncias feitas por Dorothy. […] Padre Amaro vem recebendo ameaças de morte há vários anos da parte de fazendeiros que ocupam ilegalmente terras públicas no município de Anapu. O ódio dos fazendeiros contra ele e a CPT é devido ao apoio dado aos trabalhadores rurais na conquista dessas terras. Em relação à Irmã Dorothy, que também foi ameaçada, a decisão dos fazendeiros foi de encomendar sua morte. Dada a repercussão do crime e a prisão dos fazendeiros, ao que tudo indica, houve mudança de estratégia em relação ao padre Amaro, ou seja, tentar afastá-lo de seu trabalho em Anapu, por meio da criminalização e tentativa de desmoralização de seu trabalho.”
Os Movimentos Sociais Populares da região do Xingu divulgaram carta coletiva contra a prisão arbitrária do padre Amaro, militante da luta pela terra na região. Denunciaram em Nota pública: “[…] A prisão preventiva do padre Amaro faz parte de um contexto de conflitos fundiários no Pará e não está desvinculada de outros crimes que já aconte5ceram na região como ameaças, difamação, calúnia, agressões e execuções de pessoas que lutam pela reforma agrária, pela igualdade e ousaram questionar o “consórcio da morte” executor da irmã Dorothy Stang, Ademir Frederick (DEMA), Brasília Bartolomeu Dias (Brasília), Maria do Espírito Santo, José Cláudio e Chico Mendes, das vítimas da chacina de Pau D’arco e Colniza, entre outros executados e silenciados pela crueldade, covardia e ganância. Trata-se de um grande consórcio da morte composto por latifundiários, que age por meio da militarização contra o povo, e é legitimado por membros corruptos do poder Judiciário, Executivo, Legislativo e entre outros que desrespeitam leis ambientais e fundiárias, acordos internacionais e convenções socioambientais e direitos fundamentais (acesso à moradia, saúde, educação e a vida).”
Centenas de Movimentos Sociais Populares e organizações de Direitos Humanos, em Nota, afirmaram: “[…] Padre Amaro é uma das vozes que constantemente vem denunciando tais violências acontecendo em Anapu. Ele também vem denunciando o silêncio das autoridades e, inclusive, a atuação estranha de certos agentes públicos como a polícia em Anapu, sobre quem pesa muitas interrogações”.
Não é fato novo que agentes da CPT sejam vítimas desse tipo de criminalização, sendo presos, denunciados, processados e até mesmo vítimas de homicídios por assumir compromisso com a causa dos camponeses explorados e expropriados. Por exemplo, padre Ezequiel Ramin foi assassinado, em Cacoal, em Rondônia, dia 24 de julho de 1985, e o padre Josimo Tavares, em Imperatriz, no Maranhão, dia 10 de maio de 1986. Em Alhandra, na Paraíba, frei Anastácio, em 1995, foi condenado em primeira instância acusado de diversos crimes, mas na realidade, ele trabalhava de forma coletiva na defesa das/os camponesas/es Sem Terra acampados ou assentados e lutava pela terra e por moradia, mas em segunda instância foi absolvido em defesa feita pelas/os advogadas/os da Rede Nacional de Advogadas/os Populares (RENAP).
Essa prisão de padre Amaro vem na sequência de diversas ações de Temer, governo ilegítimo, e de governos estaduais que têm feito muitas tesouradas e provocado retrocessos nos direitos do povo pobre e trabalhador, mas, sobretudo, vem imediatamente após a regulamentação, pelo Decreto 9.310, de 15 de março de 2018, pelo Governo golpista de Temer, da Lei 13.465 de 2017, conhecida como lei que regulamenta a grilagem de terras no Brasil, sendo que, com esta regulamentação, torna-se muito pior a injustiça agrária e afeta a vida do povo pobre camponês da região amazônica também, pois regulamenta a grilagem de terra, algo sempre denunciado pelo padre Amaro.
Diz a sabedoria popular: “Diga com quem tu andas, o que tens feito, que direi quem tu és”. Padre Amaro anda com o espírito profético de Jesus de Nazaré, de irmã Dorothy e de frei Henri Rosiers, destemido advogado da CPT que passou para a vida plena recentemente. Padre Amaro anda na companhia das irmãs de Notre Dame e do povo camponês que luta aguerridamente para que a terra seja partilhada e socializada. Padre Amaro anda ainda na companhia de Dom Erwin Kräutler, um profeta dos nossos dias. Enfim, padre Amaro tem história de compromisso com a justiça e a paz, com o reino do Deus da Vida iniciando aqui e agora. Feliz os perseguidos por causa da luta pela justiça, como padre Amaro, porque deles é o reino dos céus. Feliz você, padre Amaro, por estar sendo insultado, caluniado e difamado por causa do projeto do Evangelho de Jesus Cristo que quer vida e liberdade em abundância para todos/as, a partir dos oprimidos. Jesus veio para libertar os presos (Lucas 4,18) e, após ser preso e executado na cruz, ressuscitou. Em breve, nosso querido irmão padre Amaro estará libertado e com mais autoridade para continuar sua missão libertadora ao lado do povo oprimido e do bioma amazônico tão agredido.
Belo Horizonte, 30/3/2018.
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Obs. 1: As Notas e citações referidas no texto, acima, estão publicadas nos dois links, abaixo:
Obs. 2: Os vídeos, abaixo, ilustram o texto, acima.
1) Padre Amaro: Minha convivência com Irmã Dorothy
https://www.youtube.com/watch?v=isEgVht6b9U
2) Enfrentamento contra a Extração Ilegal de Madeira em Anapu – Padre Amaro
https://www.youtube.com/watch?v=HHcu50iu7xw
3) Caminhos da reportagem – um sonho: a terra
https://www.youtube.com/watch?v=1rwuGGn4wF4&t=469s
4) Vigília em frente à Unidade Prisional de Altamira/PA, onde está preso Padre Amaro/CPT/PA – 29/3/2018
https://www.youtube.com/watch?v=nWWnIRe50F4
* Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos no IDH, Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com; www.gilvander.org.br; www.freigilvander.blogspot.com.br; twitter.com/gilvanderluis; Facebook: Gilvander Moreira III
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(*Crédito imagens: Arquivo/CPT Nacional)