A CPT torna público e mantém atualizados os registros de massacres no campo, ocorridos de 1985 até os dias atuais, por meio da documentação de dados para sua série histórica e relatório anual Conflitos no Campo Brasil. No período de 1985 até o presente momento, foram registrados 56 massacres que vitimaram fatalmente 293 pessoas em onze estados brasileiros. A análise da categoria "massacres" expõe a brutal violência em que populações vulneráveis estão submetidas e especificamente nessa base de registro, povos do campo, das águas e das florestas. Motivada pelo boom desses crimes no ano de 2017, com casos de maior repercussão nos estados de Mato Grosso e Pará, a CPT desenvolveu uma página dedicada ao tema, a fim de trazer maior visibilidade a todos os massacres no campo ocorridos nos anos anteriores e mostrar para a sociedade que este tipo de crime "é um rito de passagem para o genocídio", como registrou Alfredo Wagner Berno de Almeida. Elemento que é evocado pois esse tipo de violência atinge historicamente populações originárias e do campo, em reflexo ao processo de colonização de terras e atualmente, da concentração fundiária no país.
De acordo com sua metodologia, a CPT reconhece como "massacre" os casos nos quais um número igual ou superior a três pessoas são mortas na mesma data e em uma mesma localidade, portanto, numa mesma ocorrência de conflitos pela terra.
Pode também haver massacres em diferentes ocorrências, em datas distintas (mas não distantes), porém em mesmo imóvel rural ou área indígena, desde que referidas a uma única situação de conflito, evidenciando aspectos de inegociabilidade, intolerância continuada e confrontos prolongados, sem perspectiva de resolução por parte do Estado e do judiciário. Tal perspectiva metodológica é adotada, pois tais casos tratam-se de conflitos constantes em uma mesma localidade.
A permanência dos massacres desde 1985 apresenta também uma recorrente impunidade, que protege os causadores desses crimes. Por isso, a metodologia também considera o contexto de ocupação das áreas em conflito, sua constância, e entende as singularidades de cada região do país e de cada povo atingido.
A CPT registra também massacres decorrentes de conflitos que envolvam sujeitos sociais oprimidos (pequenos contra pequenos) desde que tais conflitos sejam consequência da ação de um terceiro sujeito social, este opressor, como fazendeiros e grileiros, por exemplo. Uma situação assim específica é entendida pela CPT como decorrência da limitação do alcance da reforma agrária no Brasil, que resulta em tais tipos de conflitos entre os próprios oprimidos.
Diante do exposto acima, a metodologia de trabalho utilizada pela CPT para o registro dos conflitos no campo - o que inclui os massacres - adota como ponto de partida a visão de mundo das classes sociais e dos povos oprimidos do campo. E é principalmente pelas informações originadas destas classes e povos que são caracterizados como massacres os assassinatos e mortes aqui registrados. Isto não quer dizer que não são levados em conta, para efeito de registro, as informações oriundas de instituições estatais ou das classes sociais opressoras. Elas servem para construir um quadro mais amplo dos conflitos. Mas não são elas a base da construção metodológica da CPT, conjugando com os princípios da missão pastoral da instituição, que é a partilha junto aos povos das águas, campo e florestas.
O marco memorial dos Massacres no Campo surge como sinal de continuidade e perspectiva para o não esquecimento. Continuidade porque, mesmo se consolidando como uma prática de violência que marca o país desde o seu processo de colonização e atravessa séculos, se perpetua e reconfigura até os dias atuais, sinalizando sua permanência como instrumento de manutenção das estruturas de dominação fundiárias no Brasil. Por outro lado, se evoca memória por todes que fatalmente foram vitimades em episódios de massacres, para que esses crimes não permaneçam nos espaços da impunidade no campo jurídico. Não permaneçam também esquecidos como marcas de um passado.
Veja o mapa ao lado e conheça sobre os massacres >>>
Após o assassinato de duas lideranças quilombolas na comunidade de Iúna em julho de 2017 (Lindomar Fernandes Martins e José Raimundo Mota de Sousa), outros seis quilombolas da comunidade Iúna foram assassinados a tiros dentro de suas residências: Adeilton Brito de Souza, "Boga”, Gildásio Bispo das Neves, Amauri Pereira Silva, Valdir Pereira Silva, Marcos Pereira Silva e Cosme Rosário da Conceição.
CloseTrês integrantes do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) foram encontrados mortos com tiro na cabeça na rodovia estadual MG-455, próximo ao distrito de Miraporanga em Uberlândia (MG): Nilton Santos Nunes, Valdir Dias Ferreira e Celestina Leonor Sales Nunes.
CloseNo dia 15/08/2002, seis pessoas de três gerações de uma mesma família foram assassinadas no distrito de Cocal, em Santa Leopoldina (ES). Foram mortos: Lena Souza Calote, Orlando Cruz de Mendonça, Maria de Lourdes Cruz, Nicolau Pagung, Luciana Pagung e Fabiana Pagung.A família era meeira da propriedade que pertencia a Adolfo Seick.
CloseNo dia 23/02/2002, quatro pessoas foram mortas por oito pistoleiros das fazendas Mandassaia e Santa Teresa, em Xinguara (PA): Deuzimar Pereira dos Santos, Olavo (filho de Deuzimar), Raimundo e Nivaldo (filho de Raimundo).
No dia 13/08/1987, em Castanhal Pau Ferrado, em Xinguara/Marabá (PA), foram assassinados os camponeses Manoel Gonçalves de Souza, Francisco Vicente de Lima e Manoel P. do Nascimento. Há histórico registrado pelo menos desde 1983 na região, quando 400 famílias ligadas à coleta de castanhas conflitavam com o monopólio da família Mutran.
CloseNo dia 24 de maio de 2017, dez trabalhadores rurais sem terra (nove homens e uma mulher) foram mortos em uma ação da Polícia Militar (PM) e da Polícia Civil do estado do Pará, supostamente organizada para cumprir mandados de prisão contra ocupantes da Fazenda Santa Lúcia / Acampamento Nova Vida. A operação foi conduzida pela Delegacia de Conflitos Agrários (DECA), com apoio do contingente policial de Redenção, Conceição do Araguaia e Xinguara.
CloseEm 28/12/1987, foram assassinados três pessoas durante manifestação em ponte sobre o rio Tocantins, interrompendo as passagens inclusive da Ferrovia Carajás. Por ordem direta do governador do Pará, Hélio Gueiros, sem aguardar ou tentar negociar, enviou uma tropa com 360 soldados da Polícia Militar que cercou pelos dois lados a ponte ocupada pelos garimpeiros e começou a disparar.
CloseEm 23 de outubro de 1987, foram assassinados os camponeses João Passarinho “Ventinha”, Sebastião e seu filho Clésio Silvino Silva, de 3 anos.
CloseNove posseiros do P.A. Taquaruçu do Norte foram assassinados por pistoleiros contratados a mando de um empresário madeireiro. O grupo de quatro homens chegou à comunidade, invadiu os barracos e matou, com tiros de armas calibre 12 e golpes de facão, quem estava dentro. Algumas vítimas foram mortas enquanto trabalhavam na terra.
CloseSeis pessoas foram mortas em conflito na área indígena Roosevelt por tentarem tomar a posse da terra, em disputa entre os índios Cinta Larga e fazendeiros denunciados desde 1975 por lotear as terras para práticas de desmatamento e para a entrada de posseiros. Os posseiros mortos foram José Carneiro, Claudinei Elias de Morais, Josias Ribeiro Gomes, Valdemir Pereira, Davi de Jesus Gomes e Diomar Ferreira Maia.
Conforme denúncia feita pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP), durante audiência pública no Incra de Porto Velho, em 11/05/2017, os trabalhadores Valdinei Assis da Silva, Yure Silva e Geovane Alves de Jesus, foram assassinados por apoiar a luta pela reforma agrária de famílias sem-terra que atuam na região.
CloseNo dia 03/06/1987, foram mortos seis posseiros: Valdir Viana, Antônio de Jesus, José Alves da Silva, Francisco F. da Silva, José Luiz de Oliveira F. e Dalvino Viana. O conflito ocorreu por causa de possível limite das posses de cada agrupamento, diante da morosidade no processo de desapropriação e assentamento das 400 famílias residentes nesta área de 10 mil hectares no município de Pimenta Bueno (RO).
CloseTrês posseiros foram assassinados na fazenda Belo Horizonte, em Jaru (RO): João Ribeiro dos Anjos, Elizeu Bento Franco e Osmar Soares Sindra. O crime foi cometido por dois jagunços provavelmente a mando de madeireiros que invadiram a terra, pertencente, à época, ao Seringal Bom Futuro. O INCRA não sabia se a proprietária havia vendido a terra para algum dos madeireiros.
CloseNo dia 14 de dezembro de 2017, Flávio de Lima Souza, Marinalva Silva de Souza e Jairo Feitosa Pereira desapareceram no Igarapé Araras, no município de Canutama, estado do Amazonas, quando faziam um levantamento sobre a quantidade de lotes na referida localidade, a fim de enviar o relatório ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para o processo de regularização da área.
Em 15 de agosto de 1987, indígenas Yanomani e 150 garimpeiros acampados na serra de Couto Magalhães entram em confronto, onde 7 indígenas foram mortos. O conflito ocorre quando indígenas Yanomani entram em confronto com 150 garimpeiros acampados na serra de Couto Magalhães. Além das mortes, cerca de 47 indígenas ficaram feridos por garimpeiros armados.
No dia 15/08/2002, seis pessoas de três gerações de uma mesma família foram assassinadas no distrito de Cocal, em Santa Leopoldina (ES). Foram mortos: Lena Souza Calote, Orlando Cruz de Mendonça, Maria de Lourdes Cruz, Nicolau Pagung, Luciana Pagung e Fabiana Pagung.A família era meeira da propriedade que pertencia a Adolfo Seick.