COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Jovem Xukuro-Kariri, conhecido como Dão, foi assassinado com requintes de crueldade no município de Palmeira dos Índios (AL). Há cinco meses, outro indígena Xukuro-Kariri também foi assassinado na Aldeia Fazenda Canto. A luta pela terra é uma das principais pautas do povo e o processo de demarcação nas localidades está paralisado. 

 

(Fonte/Imagem: Assessoria de Comunicação CIMI).

O jovem Xukuru-Kariri Damião Lima da Silva, de 28 anos, mais conhecido como Dão, foi assassinado na última quarta-feira, 08, em uma área sobreposta à terra indígena ocupada por posseiros, no município de Palmeira dos Índios (AL). Os autores do crime, executado com requintes de crueldade, ainda não foram identificados.

De acordo com lideranças ouvidas, Dão trabalhava em uma lavoura do Sítio Bernadete quando foi morto – a área faz parte da Aldeia Coité. Ao anoitecer, a família do indígena estranhou a demora e ao chegar no local avistou o corpo com perfurações de bala e golpes de facão. O crime surpreendeu as cerca de 600 famílias Xukuru-Kariri.

“Não tínhamos notícias de que Dão tivesse algum tipo de problema pessoal que levasse alguém a querer matá-lo. Também a região em que ele morreu, mesmo com posseiros presentes ali, estava pacificada. Mas de qualquer forma Dão era uma liderança atuante no povo Xukuru-Kariri”, explica um indígena ouvido.

O corpo de Dão foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Arapiraca, que confirmou as características peculiares atribuídas aos assassinos. A família registrou Boletim de Ocorrência. A equipe local da Fundação Nacional do Índio (Funai) acompanha o caso. Neste mês os Xukuru-Kariri estão no ritual do Ouricuri.

Violência e demarcação

Há cinco meses, João Natalício dos Santos Xukuru-Kariri, histórica liderança dos povos indígenas do Nordeste, também era assassinado a facadas na Aldeia Fazenda Canto. Não é possível fazer conexão entre os crimes, mas a violência na terra indígena envolve fatores como a demarcação paralisada e os vícios inerentes ao entorno.

“A região tem um histórico de violência por conta da luta pela terra. Seu João era uma liderança antiga do povo”, afirmou è época uma liderança Xukuru-Kariri. Ele explicou que a aldeia Fazenda Canto é composta pelos 72 hectares demarcados em 1952 e por uma retomada – parte da demarcação em curso pela Funai, todavia paralisada.

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A luta pela terra é uma das principais pautas do povo. “Dar continuidade ao Levantamento fundiário, homologação e desintrusão da terra do Território Tradicional Indígena Xukuru-Kariri”, por exemplo, foi a primeira deliberação da Assembleia geral do povo em 2014. O procedimento demarcatório teve início em 1988.

O ano foi marcado pelo enfrentamento às mesas de diálogos instituídas pelo então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Já em fase de levantamento fundiário para o pagamento de indenizações, a Funai foi obrigada a paralisar o procedimento porque Cardozo, sem consultar os Xukuru-Kariri, estabeleceu uma destas mesas.

No território Xukuru-Kariri existem, além de posseiros, fazendeiros com influência política reverberada em Brasília nas figuras dos senadores Fernando Collor e Renan Calheiros – e eles pessoalmente pediram ao ministro a paralisação dos trabalhos da Funai. Tal intervenção trouxe novamente insegurança aos indígenas.  

Em março de 2015, o juiz federal titular da 8ª Vara Federal em Arapiraca, Antônio José de Carvalho Araújo, determinou um prazo de seis meses para a União Federal e a Funai conceder a posse definitiva da Terra Indígena, com 6.927 hectares, inclusive com a desintrusão dos atuais posseiros da área. A decisão ainda não foi cumprida.

Andanças

Segundo os estudos antropológicos citados na decisão do juiz, os “Xukuru teriam migrado da aldeia Cimbres, atual município de Pesqueira (PE) em 1740, e se estabelecido nas margens do ribeirão da Cafurna, entre as terras da Fazenda Olho d’Água do Acioly e a Serra da Palmeira, enquanto que os Cariris teriam vindo posteriormente da Aldeia do Colégio de São Francisco, atual município de Porto Real do Colégio, do povo Wakonã. Os sobreviventes Wakonã ou Aconã da Serra da Cafurna, em Palmeira dos Índios, já em 1938 atribuíram-se o nome Shucuru-Karirí”.

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