A Comissão Pastoral da Terra em Rondônia (CPT-RO) tem recebido denúncias sobre policiais à paisana atuando como pistoleiros em área do Seringal Urupá, de 2.989 hectares, e na região da TD Urupá, conhecidas como Áreas do Galo Velho, entre Cujubim e Machadinho do Oeste, em Rondônia.
(Por Josep Iborra Plans, agente da CPT e membro da Articulação das CPT’s da Amazônia)
Na área, um grupo de 80 famílias foi despejado após uma reintegração de posse judicial, apesar do parecer contrário do Ministério Público (MP) de Ariquemes, que recorreu da decisão. Isso porque se trata de uma área em negociação do INCRA com Antônio Martins dos Santos, conhecido como “Galo Velho”, citado várias vezes na CPI da Grilagem de Terras. Essa área estaria em negociação com o INCRA após ter sido declarada de interesse social para reforma agrária e já tem ocupantes de mais de 14 anos no local. A reintegração de posse atual teria sido promovida por terceiros que também se dizem donos de algumas parcelas do TD Urupá.
O grupo despejado recentemente já havia sido alvo de outra reintegração este mesmo ano, em 18 de maio de 2017, e encaminhado para o pátio do INCRA de Machadinho. Na época, os camponeses declararam que sequer o advogado do grupo havia sido informado sobre a ordem de reintegração, que aconteceu após um tenente descer do helicóptero da PM e informar do despejo.
A segunda reintegração foi cumprida com celeridade pela Polícia Militar no dia 1º de junho de 2017. Segundo declarações dos posseiros, galinhas foram mortas, porcos e cachorros foram jogados na estrada, e alguns animais foram mortos sufocados. Alguns dos pertences das famílias, que não puderam ser retirados no momento da reintegração, foram queimados.
No dia seguinte também foram expulsos pela Polícia Militar de uma área onde tentavam montar seu acampamento, situada fora da área contemplada na ordem judicial. E 16 deles foram detidos, com apreensões de motocicletas e outros bens das famílias.
Atualmente, os moradores da área vivem sob um clima tenso, com risco de sofrerem atos mais graves de violência. Os camponeses relatam abusos por parte da Polícia Militar, que por um lado patrulham a região com viaturas oficiais e por outro, realizam vigilância armada com uma caminhonete e com os rostos cobertos.
Também algumas mulheres relatam terem sido abordadas em Cujubim quando foram tentar retirar umas motos no Quartel da Polícia. Segundo elas, policiais teriam ligado para fazendeiros, que foram até o local para fotografá-las. Na Delegacia, os policiais falaram, conforme as mulheres, que não era para entrarem novamente na área, e, se caso isso acontecesse, todos morreriam.
Depois, um policial sem farda teria falado: “Vocês não voltem lá, caso contrário acontecerá [algo] igual ao Pará. Nós temos 40 diárias pagas pelo fazendeiro, temos ordem para matar e quem libera a moto é o sargento, e ele está lá na fazenda”. O sargento seria João Carlos Carvalho, que trabalha em Cujubim, conforme denúncia apresentada ao Ministério Público do Estado.
As famílias afirmam também que no dia 03 de junho 2017, no acampamento atual, situado a mais de 20 km da área de onde foram despejados, vários policiais militares, alguns fardados, e também fazendeiros que pretendem se apossar da área, chegaram em uma caminhonete particular de cor prata, efetuando vários disparos e prendendo veículos e diversas pessoas.
Neste episódio, um adolescente foi ameaçado de morte. Este mesmo recado foi dado para moradores das imediações da área reintegrada por um grupo de homens encapuzados e fardados com roupas de camuflagem militar, que sempre monitoram o movimento na região e amedrontam os moradores: “Se forem vistos os invasores daquela área, voltaremos para matar”, disseram aos moradores.
Diversos Policiais Militares de Cujubim já foram presos no ano passado acusados de integrarem um grupo de pistoleiros que perseguiu cinco sem terras dias após uma reintegração de posse na Fazenda Tucumã, na Linha 114. Dois deles foram assassinados, aparecendo o corpo de um deles carbonizado dentro do seu próprio carro. Dois fazendeiros também foram presos, assim como pistoleiros e policiais. Um dos principais acusados permanece foragido, o sargento da reserva Moisés, também acusado de ser o líder do grupo autor do Massacre de Colniza, em Mato Grosso.