Segunda etapa do Projeto Terra Roxa realiza atividades para qualificar produção de farinha

A Comunidade Terra Roxa, em São Félix do Xingu, Pará, já está se beneficiando da segunda fase do Projeto Terra Roxa, que é executado pela Comissão Pastoral da Terra com o apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT). A primeira fase do projeto analisou de forma minuciosa as potencialidades produtivas locais. A mandioca se mostrou a cultura com maior aptidão, sendo a produção de farinha o produto com maior capacidade de gerar renda aos moradores.
Tendo em mãos as conclusões desse estudo realizado pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), começou a etapa de aprofundamento do trabalho na atividade produtiva eleita, buscando auxiliar às famílias agricultoras na melhoria das técnicas para a cultura da mandioca e produção de farinha, atividades que fazem parte da história de muitas delas. Essa segunda fase visa também fortalecer a organização interna da Associação de Produtores Rurais da Terra Roxa, para que seja possível articular parcerias e projetos com o poder público e entidades que possam financiar as melhorias necessárias para melhorar a vida das famílias locais.




A mais recente atividade dessa nova etapa do Projeto Terra Roxa aconteceu na última semana de outubro, entre os dias 27 e 31. Ao longo da semana, as agricultoras e os agricultores participaram de um curso de capacitação técnica na produção de farinha articulado pela equipe da Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Alto Xingu. As aulas foram ofertadas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), entidade parceira na realização do projeto, e teve a participação de 19 membros da Comunidade.
O instrutor do Senar, Manoel Jinkings, responsável por ministrar o curso aos moradores da Terra Roxa, explica que a capacitação é a melhor forma de desenvolver aquilo que a trabalhadora e o trabalhador já praticam no dia a dia, mas aprendendo técnicas diferentes e, por vezes, mais eficientes, trazendo excelência à produção. “O que nós fizemos lá? Uma capacitação para melhorar qualidade para que eles possam repassar futuramente, com novo agregamento alimentício, que agrega valor no que você já produz e melhorando a qualidade da sua farinha para repassar à população”, esclarece Jinkings.

O professor também destaca a importância de compreender todo o entorno do processo produtivo, não apenas a fabricação propriamente dita. Cita, como exemplo, a necessidade de utilizar corretamente os derivados da mandioca. “O que eles fazem com os derivados, principalmente do resto da planta? Eles deixam lá e ela se perde. O que eles aprenderam também a fazer? A própria ração para pequenos animais, ou seja, para frango, porco, etc.”, exemplifica. Lembrando que o Projeto Terra Roxa, em sua primeira etapa, realizou a implantação de alguns sistemas de criação de aves. Então, essa ração feita de mandioca pode ser uma aliada na complementação da alimentação das galinhas poedeiras, que já começaram a gerar renda para as famílias envolvidas.
A Comunidade se esforçou bastante para absorver o conhecimento que foi repassado. Todos os inscritos compareceram assiduamente, cumpriram os horários, realizaram todo o processo de produção dos variados tipos de farinha, aprendendo na prática. Na sequência, foi organizada uma visita a uma casa de farinha já estruturada e em funcionamento na Comunidade Santa Rosa.

No sábado, dia 1º, logo no início da manhã, 15 moradores da Terra Roxa atravessaram o Rio Xingu acompanhados pelos técnicos da CPT, pelo instrutor do Senar e também por um representante da Organização Cooperativa de Agroecologia (OCA). Juntos se dirigiram até a Chácara Vitória, propriedade da Dona Marta Pereira e do Seu Tote Pereira, onde puderam ver de perto como funciona uma casa de farinha e compreender melhor os conhecimentos que adquiriram no curso de capacitação. As agricultoras e os agricultores fizeram muitas perguntas – tanto para o professor, quanto para a família da casa –, participaram da produção de um lote de farinha e no final levaram mudas de mandioca para serem plantadas na Terra Roxa para melhorar a diversificação de plantas no local.
A presidenta da Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Terra Roxa, Maria Francisca da Rocha, explica que a Comunidade ainda enfrenta barreiras para realizar uma produção profissional de farinha, no entanto acredita que essas atividades ajudam a sanar parte do problema. “Nós temos muitas dificuldades pra trabalhar por falta de materiais, como forno, etc. Mas esse conhecimento foi muito magnífico. No descascar, lavar, triturar, no peneirar, escaldar, até chegar no forno… Foi muito magnífico. Foi um aprendizado muito bom”, destaca. Além disso, ela conta que as agricultoras e os agricultores demonstraram entusiasmo ao aprender as diferentes técnicas de fabricação. “Todos os vizinhos ficaram empolgados com a forma de fazer a farinha, farinha de beiju, farinha amanteigada, farinha de coco. E foi de uma forma bem clara,” salienta dona Francisca.

O técnico em agropecuária da CPT, Emanuel Castro, que acompanhou a visita, explica como o curso e o intercâmbio se enquadram no objetivo maior do Projeto Terra Roxa: “Essas duas atividades vêm contribuir com o que foi indicado na pesquisa, que a comunidade tem habilidades voltadas para a produção de farinha, o manejo da mandioca”. Segundo ele, trata-se de uma etapa importante em um processo que será relevante não apenas para a Comunidade, mas para toda a região. “Pode impactar na produção, no aumento da produção da mandioca, da farinha e derivados. Consequentemente ajudar na melhoria da economia do município e da comunidade, além da alimentação de qualidade, com produtos naturais e do próprio local”, destaca Emanuel. Essa capacitação e produção da mandioca em Sistemas Agroflorestais também auxiliam as famílias na tarefa de recuperação de áreas degradadas ou em processo de degradação.
A segunda etapa do projeto seguirá acompanhando a Comunidade, e já existem outras atividades agendadas para novembro. Desse modo, continuará a assessoria técnica para fortalecer a implementação de práticas de produção e preservação ambiental com vistas a combater o passivo ambiental e a degradação do solo nos lotes das famílias. As próximas ações também trabalharão o fortalecimento institucional através de uma assessoria constante para potencializar a associação na resolução das demandas comunitárias em relação à saúde, educação, agricultura, cultura e seguridade social.
Além disso, está prevista uma capacitação para ajudar a comunidade a acessar o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) visando comercializar a produção local. Uma troca de experiência comunitária também está prevista para ocorrer, e será um espaço onde as famílias compartilharão a sua vivência, experiência e relação com o projeto, bem como trocarão sementes, mudas e produtos produzidos por elas, numa celebração da agricultura familiar.
(Texto e imagens: Equipe CPT Alto Xingu/PA)
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Saiba mais sobre o projeto em https://comunidadeterraroxa.com.br.