Vozes do Cerrado: os avanços nas lutas e na autonomia das mulheres com o projeto Gênero e Biodiversidade
Iniciativa da Articulação das CPTs do Cerrado promove a valorização dos saberes ancestrais das mulheres cerradeiras para a preservação do bioma, com oficinas voltadas às temáticas de gênero, sociobiodiversidade, justiça social e mais.
Por Teresinha Menezes | Comunicação CPT Piauí

A luta das mulheres do Cerrado por reconhecimento, autonomia e sustentabilidade se destaca por sua potência, organização e coragem em quaisquer espaços que estejam inseridas. Este ano, essa luta ganhou força com o projeto “Gênero e Biodiversidade: Falas das Mulheres do Cerrado”, uma realização da Comissão Pastoral da Terra, por meio da Articulação do Cerrado, com apoio do Fundo de Parcerias para Ecossistemas Críticos – CEPF e do Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB.
O projeto tem o intuito de promover a preservação da biodiversidade do Cerrado, a partir da valorização dos saberes e fazeres das mulheres camponesas, resultando também na geração de renda e melhoria da qualidade de vida. Ainda, busca fortalecer a participação feminina nas organizações comunitárias e espaços públicos.
Protagonismo feminino e saberes tradicionais
As mulheres do Cerrado sempre desempenharam um papel central na manutenção da biodiversidade, seja através do extrativismo sustentável, da agricultura familiar ou da transmissão de saberes ancestrais. No entanto, a autonomia socioeconômica e a participação em espaços de decisão e formulação de políticas públicas ainda é limitada.
Durante as atividades, as beneficiárias do projeto se sentiram ouvidas como protagonistas de seus territórios. “Nosso trabalho é valorizado primeiramente por nós mesmas e nos sentimos orgulhosas por isso. Quando plantamos e dá frutos, é o trabalho das nossas mãos”, afirmou Elza Ferreira, professora e trabalhadora rural no território Melancias, em Gilbués, no Piauí, durante uma das oficinas do projeto.
Avanços concretos
Mulheres dos Cerrados do Tocantins, Goiás e Piauí são o núcleo direto de atuação do projeto. Entre os principais avanços, se destaca o fortalecimento da economia feminina. Com incentivo ao extrativismo sustentável e ao associativismo, o projeto fomentou o reconhecimento de seus direitos e o fortalecimento de sistemas produtivos liderados por mulheres, contribuindo para sua autonomia pessoal, política e econômica.
No Tocantins, brota da terra a experiência “Cacau Nascente”, no Projeto de Assentamento (PA) Manoel Alves, em Muricilândia, no qual mulheres assentadas se dedicam ao manejo agroecológico do cacau, no plantio, colheita e beneficiamento.
“Nós estávamos desarticuladas e hoje fazemos parte de um grupo de mulheres organizadas com o nosso projeto Cacau Nascente, isso é muito importante para nós. No coletivo, estamos trocando informações, trocando aprendizados umas com as outras” – Edite dos Santos, PA Manoel Alves.
O grupo da “Lavoura Comunitária Frutos do Oziel”, no Assentamento Oziel Alves, em Baliza, Goiás, formado em sua maioria por mães solo trabalhadoras rurais, também tem conseguido valorizar sua produção e fortalecer o trabalho das mulheres.
“As oficinas me ensinaram a ter aquele ânimo, aquela coragem de vender meus produtos. Eu aprendi que nós temos que valorizar a nossa produção, os nossos quintais agroecológicos. E com essas vendas eu estou conseguindo ter a minha autonomia financeira, a minha independência” – Neide Ferreira, Assentamento Oziel Alves.
No Piauí, a participação política das mulheres beneficiárias ficou nítida quando, ao elaborar uma carta pública, denunciaram as violências sofridas e reconhecidas por elas durante as oficinas do projeto e reivindicaram mais políticas públicas voltadas para as mulheres nos territórios e à preservação do Cerrado. A carta foi divulgada durante o VI Encontro do Coletivo dos Povos e Comunidades Tradicionais do Cerrado do Piauí.
