Conselho Universitário da Unifesspa aprova título de  Doutora Honoris Causa à agente da CPT Aninha Souza Pinto

Também foram homenageados com o título a liderança indígena Ronore Kaprere Pahiti e o médico Dr. João Paulo Botelho Vieira Filho

Por xavier Plassat e Comunicação Nacional CPT

Na última terça-feira (9), durante a 2ª Reunião Extraordinária do seu Conselho Universitário (Consun), a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) celebrou a outorga dos títulos de Doutora Honoris Causa à indígena Ronore Kaprere Pahiti (in memoriam) e à socióloga Ana Souza Pinto (Aninha), e de Doutor Honoris Causa ao médico Dr. João Paulo Botelho Vieira Filho. Por votação unânime, os 13 membros do Consun acolheram os pleitos apresentados por inúmeras pessoas e entidades. 

O título foi concedido a três eminentes personalidades cuja trajetória honra a luta por justiça e direitos na terra e nos territórios originários, o direito à saúde e vida digna e o respeito à ancestralidade: Ronore Kaprere Pahiti – ‘Mamãe Grande’ da TI Mãe Maria, povo Akrãtikatêjê – ‘Gavião da Montanha’, falecida em junho passado, com cerca de 105 anos; João Paulo Botelho Vieira Filho – médico endocrinologista com atuação junto aos povos indígenas do sudeste do Pará desde a década de 1960, hoje com 87 anos; e Ana Souza Pinto – a Aninha da CPT, socióloga e agente de pastoral, com atuação no Araguaia mato-grossense e no Pará desde 1975, hoje com 75 anos.

“A CPT se sente particularmente honrada e grata pela vida de dedicação da nossa companheira Aninha”, declara Xavier Plassat, membro da coordenação da CPT regional Araguaia-Tocantins. O agente lembrou episódios marcantes que vivenciou junto com Aninha, a exemplo dos pleitos defendidos perante a Corte e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), nos emblemáticos casos José Pereira e Fazenda Brasil Verde; ou da vitória, articulada junto com a CPT Piauí do assentamento conquistado pelos trabalhadores de Monsenhor Gil, resgatados de trabalho escravo no sul do Pará; e da visita de solidariedade e intercâmbio realizada em dezenas de comunidades rurais em luta contra a escravidão no interior da Índia e do Nepal.

“Muito do que eu sou, confesso que eu aprendi com você. Sei de sua convicção de que, em matéria de homenagem, o mais importante não são as pessoas, mas, sim, as causas. Uma maneira de recordar seu enraizamento naquela espiritualidade aguerrida – e amorosa – que a convivência com o Pedro lhe proporcionou. Ou sua longa convivência vivida ao lado do nosso frei Henri: presença de todas as horas, discreta, incansável, atenciosa a quem chega e a quem vai. Alma da pastoral. Mas, neste momento, eu prefiro discordar de sua convicção: nesta homenagem a você, a causa e a pessoa, a mente e o coração, são indissociáveis”, manifestou Xavier à Aninha,  no momento da homenagem.

Também fizeram uso da palavra José Batista Affonso, Airton Pereira, Ricardo Rezende, Juliana Mafra, Jônatas Andrade, Rivelino Zarpellon. 

Parabéns a todos e todas! Parabéns e gratidão à nossa querida Aninha!

A reunião contou com a participação de conselheiros e conselheiras da instituição, além de personalidades convidadas, entre elas: Jônatas dos Santos Andrade (Juiz do Trabalho/CNJ), Juliana Beraldo Mafra (Procuradora do Trabalho), Padre Ricardo Rezende Figueira (UFRJ/GPTEC), Frei Xavier Plassat, Airton dos Reis Pereira (docente da UEPA), José Batista Afonso (advogado da CPT/Marabá), Rivelino Zarpellon (presidente da CDH/OAB/Xinguara), Concita Guaxipiguara Sompré (Federação dos Povos Indígenas do Pará – FEPIPA) e o cacique Pepkrakte Jakukreikapiti Ronore Konxarti, mais conhecido como Zeca Gavião, da aldeia Kyikatejê.

“Em sua pessoa, tudo se conecta: a apaixonada e teimosa construção de um outro mundo possível – horizonte de todas as suas lutas, junto à CPT e, de modo especial, entre as mulheres; a sua força para seguir em frente, superando fracassos ou frustrações, “guardando o pessimismo para dias melhores”, como convida nosso frei Betto; o seu compromisso diário de vida e de amor ao lado dos pequenos do Reino, ouvindo seus causos e abraçando suas causas.”Xavier Plassat  

Ana Souza Pinto 

Agente histórica da CPT Ana Souza Pinto, a Aninha, chegou ao município de Luciara (MT), em 1975. A paulista, nascida em Socorro (SP) em 1949, realizou seu trabalho pastoral na Prelazia de São Félix do Araguaia até o ano de 1983, quando foi morar em Conceição do Araguaia (PA). Ali, continuou seu incansável e corajoso trabalho ao lado de grupos de mulheres camponesas, comunidades eclesiais de base, delegacias sindicais e grupos de produção agroecológica. 

Em 1999, Aninha se mudou para Xinguara (PA) onde, junto ao Frei Henri des Roziers, organizou o escritório da CPT para o trabalho junto às camponesas e camponeses da região. Foi ali também, com Frei Henri, que dedicou-se ao fortalecimento da Campanha da CPT de combate ao trabalho escravo. Sempre a serviço dos empobrecidos da terra e da luta por justiça, Aninha protegeu os arquivos da CPT que guardam a história e a memória de pessoas anônimas que, por décadas, confiaram nas agentes e nos agentes de pastoral para ouvir seus gritos e suas esperanças. Hoje, Aninha é também memória viva.

“Sua vida espalha a luz do evangelho, consegue ser advertência aos poderosos e boa notícia aos pobres: tudo aquilo que o grande Las Casas nos insufla a ser e a fazer. Em você, Justiça e Paz brotam do chão e se abraçam. Por isso, Aninha, a sua família, a dominicana, que é também a da pastoral da terra e de tantas conexões, lhe é tão grata. Obrigado querida Aninha por você ser o que é!” – Xavier Plassat  

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