11 de setembro é celebrado o Dia Nacional do Cerrado, berço das águas, terra de vida, território ancestral!

Por Júlia Barbosa | Comunicação Nacional da CPT

O Cerrado é a multiplicação, “as infinitas diferenças”, como escreve o poeta cerradeiro Pedro Tierra. Em meio a sanha de destruição do agro-hidro-minero-negócio, frente às violências contra sua fauna, flora e seus povos, “o Cerrado sabe seus atalhos…”, garante o poema. Suas raízes profundas percorrem caminhos rompendo a terra árida, formando uma floresta invertida, que armazena as águas e, com generosidade, distribui para milhões de nascentes pelo Brasil e garante a segurança hídrica do povo brasileiro.

Mesmo com a resiliência de um bioma que renasce do fogo, toda essa riqueza está ameaçada. O Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro, lançado este ano pela CPT, aponta um futuro ‘sombrio’ para o Cerrado, caso não haja mudanças emergenciais e efetivas no cenário devastador apresentado nas últimas quatro décadas.

O estudo revela que, entre 1985 e 2023, o bioma concentrou quase 18 mil conflitos por terra e água, com crescimento nos últimos anos, a partir de análises da série histórica divididas em seis intervalos. O sexto e último período (2016-2023) apresentou a maior média de conflitos por ano no Cerrado – 627,38.

Essa realidade devastadora do bioma, fruto dos projetos de morte do capitalismo no campo, ameaça um aprofundamento irreversível do Ecocídio do Cerrado e, assim sendo, o Genocídio de seus povos, como afirmam as pesquisadoras no Atlas, no capítulo “Conflitos por terra e água no contexto do Eco-Genocídio no Cerrado”:

“Se nada for feito para frear o que está ocorrendo no Cerrado, não se tratará apenas de danos graves e vasta destruição. Estamos diante da ameaça de aprofundamento irreversível do Ecocídio em curso, com a extinção do Cerrado nos próximos anos e, junto com ele, da base material de reprodução física e social dos povos indígenas, comunidades quilombolas e tradicionais do Cerrado como povos vivos, presentes, e culturalmente diferenciados [seu Genocídio]”

AGUIAR, Diana; BONFIM, Joice; PACKER, Larissa. Eco-Genocídio no Cerrado, 2025 [2022], apud Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro, 2025, p.171.

Na análise das quatro décadas, os principais agentes causadores da violência no campo são os fazendeiros, que representam 46% no total de conflitos. No final da série histórica, entre 2020 e 2023, o Estado assume posição de destaque – com 26% do total de conflitos –, ultrapassa as empresas (14%), mas ainda fica atrás dos fazendeiros (32%). O Estado passa a desempenhar um papel cada vez mais importante na defesa dos interesses de latifundiários e empresas, em um contexto que está marcado pelo acirramento dos conflitos no Cerrado.

No último período analisado pelo Atlas (2016-2023), em que há o registro da maior média de conflitos por ano no bioma, o relatório atesta uma intensificação dos conflitos em todo o Cerrado ampliado, mas especialmente na região do MATOPIBA.

A região de expansão agrícola corresponde a uma área de mais de 70 milhões de hectares do Cerrado brasileiro, estendida pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (MATOPIBA), que passou a atrair massivamente a sanha do agronegócio, principalmente para a produção de soja e exportação de commodities.

Em relação às resistências dos povos do Cerrado, o Atlas divide as análises em três períodos: entre 1985 e 1994, quando houve maior destaque da categoria de posseiros; de 1995 a 2010, quando os sem-terra e, em menor medida, os assentados, ocupam a dianteira.

Já de 2011 a 2023, o intervalo foi caracterizado pela relevância dos povos tradicionais, que somaram em média 46,2% do total de conflitos, em especial os povos indígenas.

Cerrado é resistência, é a savana mais biodiversa do planeta. O Cerrado é suas raizes, suas veias d’água, seus troncos retorcidos e os seres que o habitam. Sem Cerrado, sem água, sem vida!

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