CARTA EM SOLIDARIEDADE AO ARCEBISPO DE CUIABÁ DOM MÁRIO ANTÔNIO DA SILVA
“Eu vi, eu vi a miséria do meu povo no Egito. Ouvi o seu clamor por causa de seus opressores; pois eu conheço as suas angustias. Por isso desci a fim de libertá-lo […]” Êxodo 3, 7-8. É assim que Deus manifesta o seu amor a seu povo: ele sente, conhece e age.
E é assim que o seu povo manifesta o seu amor para com Deus: “Ai de vós que juntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo até que não haja mais espaço disponível, até serem eles os únicos moradores da terra” Isaías 5, 8. Ou Amós 8, 4.7: “Ouvi isto, vós que esmagais o indigente e quereis eliminar os pobres da terra […]. Não esquecerei jamais nenhuma de suas ações”.
Deus, os profetas e o seu povo com um só desejo, um só sonho: justiça aos excluídos, aos explorados, aos injustiçados. Este é o objetivo do GRITO DOS EXCLUÍDOS, que acontece no dia da independência, 7 de setembro. Pois, mesmo com a independência, existem pessoas que ainda não são livres, não possuem casa, trabalho, terra, território, alimento, ou seja, as condições sociais e econômicas que oferecem a dignidade humana.
E estamos muito longe disso! Há poucos anos, voltamos ao mapa da fome, com 19 milhões de pessoas passando fome em 2021. Ainda, no mesmo período tínhamos 27 milhões de pessoas na extrema pobreza e 52 milhões na pobreza. Os desempregados chegaram à enorme quantidade de 14 milhões de vidas desesperadas. Toda esta situação nos levou a testemunhar em Mato Grosso o vergonhoso e ante evangélico cenário da fila do osso.
Esta é a posição evangélica do GRITO DOS EXCLUÍDOS: ver, ouvir, conhecer a miséria de seu povo e agir por sua libertação. Este é o sonho de Deus! E este é o sonho de seu filho encarnado, Jesus:
“Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim’. Os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar?’ ‘Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” Mateus 25, 34-46.
Porém, o país vive hoje uma condição ante evangélica entre grupos autodenominados cristãos, dentre os quais, muitos católicos conservadores, os quais defendem o deus dinheiro ‘Manon’ e são contrários a todo grito profético de justiça, igualdade, dignidade e solidariedade aos mais empobrecidos. Assim o fizeram em ataques ao arcebispo metropolitano de Cuiabá, Dom Mário Antônio da Silva, que se posicionou àqueles e àquelas que Deus se sensibilizou, durante a celebração na capital.
É diante da importância de seu posicionamento profético e evangélico que a Comissão Pastoral da Terra se junta em solidariedade ao arcebispo, ao GRITO DOS EXCLUÍDOS e aos homens e mulheres escolhidos pelo amor de Deus contra o ódio dos defensores da injustiça, violência e exclusão, que Jesus denunciou (Mateus 24, 24) como falsos messias, falsos profetas e falsos cristãos.
Por fim, finalizamos dizendo que também às margens do Araguaia, na I Romaria das Águas e do Cerrado, aos pés do túmulo do bispo Pedro Casaldáliga, também ecoaram as vozes dos povos das águas e das florestas, que se somaram em apoio a Profecia de Dom Mário e ao Grito dos/as Excluídos/as, para não perdermos a feliz Esperança.
Cuiabá, 09 de setembro de 2025
Comissão Pastoral da Terra – Regional Mato Grosso