Celebração em Manaus (AM) marca os 10 anos do martírio de Dorinha Priante

Memória dos dez anos do martírio de Dorinha Priante. Foto: CPT Amazonas
Memória dos dez anos do martírio de Dorinha Priante. Foto: CPT Amazonas

No último sábado (23), uma celebração marcou os 10 anos da Páscoa de Maria das Dores dos Santos Salvador Priante, conhecida como Dora ou Dorinha Priante, enfermeira e líder rural da comunidade Portelinha, no município de Iranduba, a 27 quilômetros de Manaus (AM). O momento contou com a presença de familiares, pessoas amigas da comunidade e agentes da CPT Amazonas, sendo realizado na Igreja Nossa Senhora do Rosário (Arquidiocese de Manaus).

Dora foi sequestrada na noite de 12 de agosto de 2015 em sua casa, na Portelinha, por pelo menos cinco homens. Durante o sequestro, o seu marido, Gerson Priante, também foi agredido pelos invasores. Naquele mesmo dia, em Brasília, mulheres de todo o País participavam da Marcha das Margaridas, evento que marca o Dia Nacional de Luta das Mulheres Trabalhadoras Rurais Contra a Violência no Campo e por Reforma Agrária, data que marca também o assassinato da líder sindical Margarida Maria Alves.

Desde que assumiu a liderança, Dorinha Priante denunciava a venda ilegal de terras na comunidade, conforme denúncias dela e de moradores da região. As vendas eram realizadas por Adson Dias Silva, conhecido como “Pinguelão”, um antigo líder da comunidade e o principal suspeito de mandar sequestrar e executar a vítima. O corpo da trabalhadora foi encontrado no dia seguinte (13), com marcas de violência e tortura, e com pelo menos 12 tiros.

Durante, pelo menos, quatro anos, a líder comunitária havia enfrentado ameaças e até uma agressão um ano antes de ser morta, tendo registrado diversos boletins de ocorrência contra o suspeito, que mesmo não residindo na comunidade, seria o principal responsável pelo comércio ilegal de lotes. Se intitulando proprietário das terras, “Pinguelão” expulsava os moradores sob violência e vendia os terrenos, inclusive em outras comunidades de Iranduba.

Dorinha Priante falando na tribuna da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, reivindicando a segurança do Estado para a Comunidade da Portelinha. Foto: Alberto César Araújo / ALEAM
Dorinha Priante falando na tribuna da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, reivindicando a segurança do Estado para a Comunidade da Portelinha. Foto: Alberto César Araújo / ALEAM

Dora e a comunidade reivindicavam de todos os órgãos competentes reforço na segurança da localidade, inclusive indo na sede da Secretaria de Segurança Pública e utilizando a tribuna da Assembleia Legislativa do Estado, mas nada foi providenciado para sua segurança.

Adson foi detido seis dias depois do crime, além de Ronaldo de Paula da Silva, suspeito de facilitar o acesso à casa da vítima e auxiliar no sequestro em troca de dinheiro. Em julgamento concluído no dia 25 de março de 2017, ambos foram condenados por homicídio: Adson a 20 anos de reclusão e Ronaldo a 19 anos. A comunidade continua em luta por justiça, segurança e dignidade na permanência em sua terra.

“O Martírio de Dorinha Priante deve sempre nos iluminar na dinâmica da Trindade Santa e Nossa Senhora das Dores, em continuarmos na luta pela Terra, Águas e Floresta para os povos da floresta e sua biodiversidade. Deus sempre seja louvado pela vida desta mulher amazonense, e na continuidade de sua luta em nossa caminhada libertadora de construção do Reino de Deus”, afirmou o agente pastoral pe. Manuel do Carmo, desejando os sentimentos e a luta por justiça para familiares, esposo, filhos, amigos e amigas.

Estiveram presentes: Comissão Pastoral da Terra Regional Amazonas, Pastoral da Terra da Arquidiocese de Manaus, Movimento de Trabalhadores Cristãos do Amazonas, Comissão de Defesa dos Direitos Humanos de Parintins e Amazonas, Movimento dos Padres em Novas Dimensões, Coletivo Solidariedade ao Rio Abacaxis e Parlamento Sustentar do Planeta Azul.

Celebração foi realizada na Igreja Nossa Senhora do Rosário (Arquidiocese de Manaus). Foto: CPT Amazonas
Celebração foi realizada na Igreja Nossa Senhora do Rosário (Arquidiocese de Manaus). Foto: CPT Amazonas

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Por CPT Regional Amazonas
Edição: Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional)

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