Lançamento da publicação Conflitos no Campo Brasil 2024 na Paraíba evidencia aumento das violações contra povos do campo

Na manhã da última terça-feira (12), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) das dioceses de Campina Grande, João Pessoa, Cajazeiras e Guarabira lançou em Campina Grande a publicação Conflitos no Campo Brasil 2024. O evento foi realizado no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), também conhecido como Museu dos Três Pandeiros, em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
A atividade iniciou com um momento místico em memória dos mártires da luta pela terra na Paraíba, sob o chamado: “Não sejamos cães mudos nem sentinelas adormecidos”. A mesa de saudação, composta por Tânia Maria (CPT João Pessoa), Maria da Glória Batista (ASA Brasil/PATAC), Francisca Aparecida Firmino (CEOP) e José Wellington Barbosa da Silva (Cáritas Diocesana), teve como destaque a importância da CPT na luta pela terra e pela vida; do quanto tem sido importante o papel de romper cercas e tecer teias no cuidado com a mãe terra.

Glória Batista ressaltou que “além da luta pela terra e pelo meio ambiente, trata-se também de uma luta por segurança e soberania alimentar”. Já Tânia Maria lembrou os 32 anos de encantamento de Margarida Maria Alves, enfatizando que, desde então, “a luta do povo cresceu e se fortaleceu, mesmo em meio a tanta violência”.
Acolhidos e acolhidas pelo MAPP na pessoa do seu diretor, professor José Pereira da Silva, os participantes ouviram do professor Marcos Mitidieiro (UFPB) que esta é uma publicação que não é poética, “mas contém sangue”, sintetizando a gravidade da violência no campo.

Na sequência, Cecília Gomes, da coordenação nacional da CPT, apresentou os dados referentes à Paraíba, enquanto o professor Marcos Mitidieiro trouxe uma análise crítica do cenário nacional. Ambos lembraram que os números refletem apenas parte da realidade, já que há subnotificação, pois a CPT não está em todos os recantos do país, onde a violência é histórica e crescente.

Foi lembrado, ainda, o V Congresso da CPT, celebrado em seu jubileu de ouro, e entoado coletivamente o canto “Laudato si é Francisco chamando um a um…”, em memória dos 10 anos da encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, uma exortação a uma mudança de paradigma na relação com a terra.
Os dados revelam a gravidade da situação: 13 conflitos por terra, atingindo 4.422 famílias; 01 conflito por água, com 61 famílias envolvidas; 04 casos de trabalho escravo na extração de pedras, com 30 trabalhadores resgatados (entre eles três menores); 03 casos de violência contra a pessoa, sendo uma ameaça de morte e duas agressões físicas; além de 11 casos de violência contra ocupações e posses, que tiveram como principais vítimas Sem Terra, indígenas, quilombolas, ribeirinhos e posseiros. Também foram registradas duas ocupações de terra, envolvendo 150 famílias Sem Terra.
O espaço da “fila do povo” confirmou, nos relatos, o avanço do capital sobre os territórios, a violência institucionalizada e a ausência de proteção do Estado. Houve forte crítica ao Congresso Nacional, considerado “o pior de todos os tempos”, e ao mesmo tempo um chamado à organização popular: “pelos territórios e pelas vidas”.

(Por CPT Regional Nordeste 2)
Fotos: CPT Paraíba