Mulheres da Articulação Cerrado participam de diálogo sobre o impacto das mudanças climáticas em sistemas alimentares

Por Marilia da Silva / Comunicação CPT Goiás

Mais de 60 mulheres dos estados que compõem o Cerrado se reuniram virtualmente nestas segunda e terça-feira, 28 e 29 de julho, para conversar sobre como as mudanças climáticas estão impactando seus modos de vida, especialmente no que diz respeito ao acesso ao alimento e à água. 

Na Roda de Saberes “Mulheres do Cerrado no Diálogo sobre Clima e Sistemas Alimentares”, realizada via internet pela Articulação das Mulheres do Cerrado e CESE, convidadas trouxeram relatos impactantes sobre a ocorrência de secas severas, morte de rios e nascentes, ventos incomuns e escassez de frutos nativos do Cerrado, e como esses problemas afetam os sistemas produtivos e extrativistas de obtenção de alimento e geração de renda. 

O diálogo aponta que as primeiras impactadas pela emergência climática são as mulheres negras, indígenas e camponesas, que vivem integradas ao bioma. “Cada vez que o Cerrado é destruído, é destruída também uma parte de nós. O Cerrado de pé, é manter o povo vivo”, manifestou Joice, do Movimento Sem Terra do Tocantins.

As partilhas expõem a enorme conivência do Estado com as forças do agronegócio, que avança sobre os territórios sem que as instâncias que deveriam proteger o povo brasileiro ajam com eficácia. 

“Não dá mais para produzir como se produzia antes. O que isso causa? Empobrecimento das comunidades, dependência de comprar comida de fora, carência nutricional. Isso impacta especialmente as mulheres, que são as que cuidam maior parte das vezes da alimentação das crianças e dos idosos. Elas precisam reprogramar toda sua forma de viver por causa dos alimentos que não estão mais disponíveis. Muitas vezes, os homens também precisam sair da comunidade para trabalhar nas fazendas”, relatou Elizete Carvalho, feixeira da comunidade Feixo do Clemente, no oeste baiano. 

Segundo ela, as comunidades de fundo e feixo de pasto da região já perderam 97% de seu território para o agronegócio e sofrem diversas perseguições e violências por lutar pela permanência na terra. “Resistimos para continuar existindo. Mas não queremos apenas sobreviver. Queremos viver bem em nossos territórios e seguir sendo guardiões das nossas águas e nossas sementes”, clamou ela. 

Também compartilharam suas vivências e lutas Juvana Xacriabá, Diana Aguiar, Shirley Krenak e Elionice Sacramento, da Articulação Nacional de Pescadoras, e Arilene Martins, do Coletivo Pretas de Angola, de Goiânia. Ela compartilhou relatos sobre como a organização de comunidades com base na economia solidária pode oferecer saídas para acesso a alimentos no contexto da destruição dos modos de vida tradicionais e das lutas por direitos no meio urbano.

A Articulação das CPTs do Cerrado, a CPT Goiás e algumas mulheres de comunidades acompanhadas em outros estados estiveram presentes na roda, mas a participação em atividades virtuais ainda é um desafio, devido ao acesso precário à internet em territórios impactados pela emergência climática. Muitas não conseguiram entrar, permanecer na sala de reunião ou se manifestar, o que evidencia um desafio ainda presente. Ainda assim, o diálogo foi extremamente potente e as gravações serão utilizadas na edição de podcasts e outras produções.

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