Juventude, Mulheres e Diversidade LGBTQIA+ ecoam brados de resistência no V Congresso Nacional da CPT
da Equipe de Comunicação Antônio Canuto para o V Congresso Nacional da CPT

Ora nas tendas, ora no espaço de acolhida da Grande Plenária, é possível ouvir, nos mais diversos sotaques, idiomas e dialetos, as vozes dos povos e comunidades tradicionais do campo, das águas e das florestas que compõem o V Congresso Nacional da CPT, realizado no Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA), entre 21 e 25 de julho, em São Luís (MA). Os ecos da bravura e subversão também ressoam as realidades da juventude da Pastoral, das mulheres e dos camponeses e camponesas LGBTQIA+.
Ao longo dos cinco dias de debates, falas e celebrações, os sujeitos que formam a diversidade camponesa da CPT – em gênero, orientação sexual, raça, idade, religião, entre outros recortes – marcaram a quinta edição do Congresso com intervenções de reivindicação e resistência.
Juventudes

Conduzidos pelo tema ‘Territórios, Bem-Viver e Agroecologia: qual é o presente e o futuro da juventude camponesa?’, o Grupo de Trabalho (GT) de Juventudes da Pastoral se reuniu em Plenária na noite do dia 22 para entoar cantos populares, recordar o nascimento da CPT – que completou cinco décadas de trajetória em junho de 2025 –, e prospectar o futuro das novas gerações que resistem no campo. Ao final do Congresso, o GT de Juventudes também apresentará uma carta, de modo a apresentar as experiências e debates desenvolvidos durante a Plenária da Juventude.
“Nós fizemos ciranda, toré, animação, trouxemos as partilhas de estandartes para representar a esperança das juventudes por todos esses chãos. A gente vem aqui para demarcar esse território como um espaço sagrado das juventudes”, afirma Larissa Rodrigues, coordenadora da Plenária de Juventudes do V Congresso e agente pastoral da CPT-RO.
Larissa também relata que a garantia de oportunidades para deliberação e partilha entre os jovens e as jovens da CPT se deu a partir do IV Congresso da CPT, realizado em Porto Velho (RO) no ano de 2015, quando as juventudes interferiram no momento da Grande Plenária para demandar espaços de fala. “Nós estamos aqui para mostrar que a nossa resistência é forte e que não vamos cessar. A CPT continuará e é um futuro com as vozes, rostos e identidades das juventudes”, finaliza.
Para Erica Canoé, jovem indígena do Povo Oro Wari de Guajará Mirim (RO), a Plenária de Juventudes representou um momento de oportunidades para a nova geração da Pastoral.
“A gente sempre fala que os jovens são o futuro, mas acredito que a juventude é o agora. Hoje, somos jovens, mas estamos aprendendo. Nós somos o futuro, mas também somos o agora e o ontem. Então, a gente precisa caminhar junto com os anciãos e eles precisam estar presentes conosco”.
Mulheres

No dia anterior (23), a tenda de Tambor de Crioula, guiada pelo lema ‘Tecer Teias’, acolheu duas experiências acompanhadas pela CPT com coletivos de mulheres no Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Paraíba.
Maria Lúcia de Oliveira, do assentamento Independência, no município de Conceição da Barra (ES), integra uma das experiências dessa tenda, o Grupo de Mulheres ‘Margaridas’. Esse projeto, que reúne os assentamentos Independência e Pontal Jundiá e o acampamento Fidel Castro, busca promover o autocuidado, saúde mental e a conscientização sobre violência de gênero e os direitos da mulher entre as camponesas.
“A gente já percebe um grande avanço. Conseguimos tirar as mulheres de casa para participar das atividades. Duas delas voltaram a estudar e percebemos que elas têm mais autonomia. Muitas delas já relatam que mudaram o jeito de se comportar depois de aprender sobre os próprios direitos. Esse espaço de escuta está sendo muito didático e terapêutico”, explica Maria Lúcia.

Além disso, após os debates da Grande Tenda do dia 24, o Coletivo de Mulheres da CPT realizou uma intervenção, ocupando o espaço da Plenária com cantos, místicas e falas de repúdio à misoginia e ao machismo, causados tanto de forma externa pelo agronegócio e a sociedade quanto nos movimentos e pastorais sociais, pelo silenciamento das vozes das mulheres e a não participação nos espaços de poder e decisão. “Quando uma mulher avança, nenhum homem retrocede!”, entoavam as mulheres reunidas naquele momento.
Diversidades LGBTQIA+

Por fim, o Grupo de Trabalho (GT) de Diversidades da CPT – coletivo de agentes pastorais, camponeses e camponesas LGBTQIA+ da Pastoral oficialmente criado em setembro de 2021 – convocou uma plenária para o debate sobre gênero e sexualidade no V Congresso, ainda no dia 24.
As discussões do GT resultaram em uma intervenção na Grande Plenária do último dia de Congresso: o Grupo de Trabalho – acompanhado de pessoas LGBTQIA+ de entidades parceiras, do campo, das águas e das florestas – realizou uma fala sobre a importância do acolhimento da comunidade LGBTIQIA+ e em repúdio à LGBTfobia. O coletivo também fez a leitura de propostas e linhas de ação para o fortalecimento dos sujeitos LGBTQIA+ da CPT e de comunidades do campo.
O documento elaborado pelo coletivo visa “fortalecer o GT de Diversidades da CPT, juntamente com o Coletivo LGBTI+ da Via Campesina, ampliando o debate da diversidade sexual e de gênero, interseccionada entre as diversidades de territórios, raça, classe e religião”.
“Nós queremos que todos os jovens da população LGBTQIA+ sejam acolhidos como estamos sendo aqui. Não haverá ‘cura gay’, haverá o acolhimento de gays, homens e mulheres trans”, disse Mauro Jakes, coordenador da CPT-BA e integrante do GT de Diversidades da Pastoral.
A fala do coordenador foi seguida por um momento de acolhida com cantos e danças em ciranda. Povos e comunidades tradicionais do campo, das águas e das florestas presentes na plenária abraçaram e demonstraram apoio às pessoas LGBTQIA+ que realizaram a intervenção na Grande Plenária.
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