Romper cerca, tecer teias!

A lavra da terra, a lavra da dor
Irmão, nossa dor Jesus carrega
Vencendo a morte, já nos libertou
Caminhemos juntos na fé do senhor
A fonte da vida, da morte brotou.

(João Camelo – Riacho dos Cavalos  – PB)

Por Cecília Gomes | Coordenação Nacional CPT

Foto: Ronilson Costa – Moquibom

O V Congresso Nacional da CPT se aproxima, esse é um grande momento de escuta e construção dos rumos que a CPT irá seguir, olhando para frente. Queremos ouvir os toques dos Tambores vindos das comunidades, dos povos, das mulheres, dos jovens, dos homens e das diversidades da terra, das águas e das florestas para juntos e juntas “Rompermos as Cercas que nos privam de amor, de viver e Tecermos as Teias das resistências”.   

Romper Cercas é a necessidade e a força dos povos das terras, das águas e das florestas de enfrentar e lutar contra a concentração fundiária, a exploração e a expropriação dos  povos indígenas e, posteriormente, os povos africanos arrancados de suas terras e forçados a se tornarem escravos em terras brasileiras. Os povos da terra carecem a todo o momento, romper as cercas do monopólio da terra, das águas, dos ventos, do sol, dos minerais, das florestas, das matas, dos animais, das pessoas e da vida em sua totalidade, em que tudo se torna mercadoria a serviço do capital. 

Romper cercas é o conflito entre a “terra de trabalho e a terra de negócio” (Oliveira, 2002)1. A terra de trabalho é a que produz alimento, gera e sustentam vidas, nas comunidades camponesas, nos territórios indígenas, quilombolas e ribeirinhos….. e a terra para produzir mercadorias soja, milho com bastante veneno, bovinos, mineração, energias renováveis… Convidamos as comunidades e os povos a continuar a rompendo com todas as cercas que nos privam de viver, produzir e reproduzir os modos de ser e de viver.

Tecer Teias é o processo de resistência que acontece de forma coletiva, alimentado pela utopia, pela fé e pela esperança de conquistar e permanecer na terra “prometida”.  Esperança, aqui, é apreendida como verbo esperançar, de fazer acontecer de se colocar a caminho para construir uma sociedade com justiça no campo, onde os povos da terra, das águas e das florestas tenham direito a um pedaço de chão para produzir alimentos, o rio para pescar e a floresta que alimenta o corpo e alma. 

Neste aspecto, “tecer teia” surge a partir das diversas experiências dos povos e comunidades tradicionais que ao longo de suas histórias, para enfrentar a violação dos direitos socioambientais, passaram a construir formas de organização, resistências e articulação entre si e com outras comunidades para garantir a permanecia em suas terras e territórios com dignidade. As comunidades e os povos lutam por territórios livres com seus direitos e vidas respeitadas, em que os povos e comunidades vivam os seus modos de ser e de existir de forma livre a partir do modo de vida de cada povo e etnia.  Os sonhos dos povos e comunidades é a autonomia que passa longe da independência em relação ao mercado, às instituições e ao Estado. 

Entendendo que, nem mesmo com um rompimento definitivo das relações de exploração em que os povos e comunidades estão inseridos, haverá, de fato, independência. Somente as conquistas e as resistências através de lutas e de trabalho, têm permitido aos povos e as comunidades se constituírem como sujeito social da sua história, com identidade própria, representando-se, através de lideranças com capacidade crítica para entender e lutar contra a dominação do capital e compreendendo o significado sociopolítico da terra e dos territórios. 

  1. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A geografia agrária e as transformações territoriais recentes no campo brasileiro. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (org). Novos caminhos da Geografia. São Paulo: Contexto, 2002 ↩︎

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