Carta de Dom João Muniz, bispo da Diocese Xingu-Altamira/PA, sobre os 20 anos do assassinato/martírio da Irmã Dorothy Stang e o legado deixado para as próximas gerações

Altamira-PA, 11 de fevereiro de 2025.

“Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da foresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar” (Irmã Dorothy Mae Stang).

Irmãs da Congregação de Notre Dame de Namur, a mesma de Dorothy,
foram recebidas pelo bispo Dom João e pelo padre Josemar, na missa do último domingo (9)

Irmä Dorothy Mae Stang nasceu em Dayton, Ohio, EUA aos 07/06/1931 e morreu em Anapu, Pará, Brasil aos 12/02/2005; pertencia a Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur. Chegou no Brasil em 1966, Coroatá – Maranhão. Na década de 80 chegou para o Pará, região do Xingu onde atuou junto aos pobres em defesa da vida e do meio ambiente.

O assassinato ou martírio de Irmã Dorothy é fruto da luta em defesa da vida, em defesa dos pobres, em defesa do meio ambiente na Amazônia. “O martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé; designa um testemunho que vai até a morte” (Catecismo da Igreja Católica § 2473). Somos de uma região de mártires onde “o sangue dos mártires é a semente dos cristãos” (Tertuliano, Apologético, 50,13).

O legado missionário de Irmã Dorothy na região do Xingu é fecundo e próspero:

  • Com o povo e suas coirmãs da Congregação lutou pela emancipação do município de Anapu;
  • Ajudou a fundar a escola de formação para Professores de região de Anapu e região do Xingu, “Escola Brasil Grande”;
  • Membro da Comissão de Pastoral da Terra (CPT), defendeu a reforma agrária justa e sustentável, a luta pela terra;
  • Criação do PDS Esperança;
  • Formação biblica e animação das CEB’s;

Ofertório foi feito com cartazes que representam os legados de Dorothy para Anapu

A memória de Irmã Dorothy Mae Stang na nossa Diocese de Xingu-Altamira está viva e repleta dos sinais de vida. Ela é um ícone e força mística na caminhada do povo amazônico:

  • Todos os anos no dia 12 de fevereiro nos reunimos no Centro de Formação São Rafael, onde está enterrada a Ir. Dorothy, para fazermos memória celebrativa de seu martírio;
  • No mês de julho realizamos a Romaria da Floresta com participação expressiva da Pastoral da Juventude e demais pastorais, movimentos e amigos do meio ambiente; este ano de 2025 a Romaria da Floresta será realizada no período de 10-13/07;
  • Neste ano jubilar de esperança a Igreja de Santa Luzia de Anapu tornou lugar de peregrinação para a região de todo o médio Xingu;
  • Escola de Fé e Cidadania da Diocese de Xingu-Altamira recebeu o nome de “Escola de Fé e Cidadania Irmã Dorothy Mae Stang” em homenagem à nossa mártir;
  • Em algumas de nossas paróquias, temos regiões paroquiais e centros de formação com o nome de Irmã Dorothy.

Os frutos da ação missionária de Irmã Dorothy continuam vivos e animando as novas gerações a defender a vida, os pobres e o meio ambiente. Dorothy vive na história e na luta do povo, na caminhada das CEB’s e romarias da floresta, na literatura de cordel; na iconografia religiosa e popular, no coração e na vida do povo que busca seus direitos e luta pela ecologia integral.

Irmã Dorothy nossa gratidão pelo seu testemunho de vida e missão, de fecundidade materna e fraternal, de amor ao próximo, à criação e ao Deus Criador.

Dom Frei João Muniz Alves – OFM
Bispo da Diocese de Xingu-Altamira

Pintado quatro anos após o crime, o painel retrata Jesus Cristo crucificado em uma árvore, vestido com roupas simples, chapéu de palha, pele queimada pelo sol, como um posseiro ou um trabalhador rural sem-terra. Ao lado de Jesus, estão representadas a irmã Dorothy e o padre Josimo Tavares, também assassinado em 1986 no Maranhão, após sofrer ameaças de fazendeiros.

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