Sob ameaça de despejo, acampamento Domingas, em Porto de Pedras (AL), terá audiência de conciliação no dia 6 de junho
Por Lara Tapety | CPT/AL
Imagens: Lara Tapety
A suspensão da reintegração de posse que aconteceria no último dia 22 de maio trouxe um alívio temporário para as famílias do acampamento Domingas, acompanhado há mais de 20 anos pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) no município de Porto de Pedras (AL).
A CPT segue ao lado das famílias camponesas de Domingas, reafirmando o compromisso com a defesa da reforma agrária e o direito à terra para quem produz alimentos saudáveis que garantem a preservação da vida.
O acampamento Domingas reúne 23 famílias que ocupam aproximadamente 40 hectares do imóvel denominado “Recanto das Baianinhas”, com total de 437 hectares, na zona rural do município situado no Litoral Norte de Alagoas.
A primeira determinação de reintegração de posse enfrentada pelas famílias camponesas acampadas aconteceu em 25 de maio de 2004, ou seja, há 20 anos. No ano seguinte, 2005, os agricultores e as agricultoras voltaram a ocupar a área, que estava abandonada, e seguiram com o trabalho nas suas roças. O processo de reintegração de posse do imóvel chegou a ser arquivado em 2010. Quase 10 anos depois, em 2019, houve um pedido de desarquivamento por parte dos proprietários da fazenda.
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Mas, em 12 de setembro de 2023, houve a fixação do prazo de 15 dias para a desocupação da área. Naquele período, a CPT, através da Defensoria Pública, solicitou que o caso passasse por uma audiência de mediação com a Comissão Regional de Soluções Fundiárias do Tribunal de Justiça de Alagoas. Assim, aquela reintegração de posse foi suspensa pelo magistrado no dia 04 de outubro até a manifestação da referida Comissão.
No dia 17 de novembro de 2023, a comunidade recebeu a visita técnica da Comissão Regional de Soluções Fundiárias do TJ-AL, após uma breve audiência com a presença do juiz José Eduardo Nobre, coordenador da equipe; do promotor de justiça do Ministério Público de Alagoas, Gustavo Arns da Silva Vasconcelos; da Defensora Pública, Dra. Rafaela Moreira Canuto; e de representantes do Iteral, do Incra, da CPT e do proprietário do imóvel rural em questão.

Na visita, a comissão verificou, por exemplo, que ao contrário do que os representantes dos proprietários informaram na audiência ocorrida naquela manhã, não existem apenas 3 famílias, mas sim 23 famílias na área que vivem em situação de vulnerabilidade social devido à ausência da reforma agrária. São 41 crianças e 5 idosos, sendo uma idosa cega e outro com deficiência auditiva, além de 3 terem doenças que exigem medicação controlada.
Também foi constatado que os agricultores e agricultoras que ali vivem produzem uma variedade de alimentos saudáveis que são destinados às merendas de escolas do município e do estado. Entre os alimentos, estão coco verde, laranja, banana, abacaxi, maracujá, macaxeira, inhame e abóbora. Há, ainda, animais como galinhas, porcos, bodes e cabras.
Entretanto, recentemente, a CPT foi surpreendida com a decisão determinando a desocupação da área para o dia 22 de maio de 2024, sem sequer ter um prazo recursal aberto.
A determinação teria ocorrido após uma audiência no dia 09 de fevereiro, mas a Defensoria Pública, responsável pela defesa da comunidade representada pela CPT, não foi intimada para participar.
Diante dos fatos, o desembargador Tutmés Airan de Albuquerque Melo determinou a imediata suspensão da ação de reintegração de posse até ulterior decisão e a audiência de conciliação.
“Ai daqueles que planejam maldade, dos que tramam o mal na cama! Quando alvorece, eles o executam, porque isso podem fazer. Cobiçam terrenos e se apoderam deles; cobiçam casas e as tomam. Assim oprimem as pessoas e as famílias”. (Miquéias, 2, 1-3)