Intolerância religiosa: lideranças de centro de Umbanda clamam por justiça diante de violência em Rondônia

Utensílios sagrados foram destruídos pela intolerância religiosa de um pastor na Tenda de Oração Pai Alécio de Oxalá, em São Francisco do Guaporé, Rondônia
Utensílios sagrados foram destruídos pela intolerância religiosa de um pastor na Tenda de Oração Pai Alécio de Oxalá, em São Francisco do Guaporé, Rondônia

Lideranças da Tenda de Oração Pai Alécio de Oxalá, localizada no perímetro urbano do município de São Francisco do Guaporé (RO), estão abaladas e clamam por Justiça diante de um triste episódio de intolerância religiosa ocorrido na tarde da quarta-feira (17), quando um pastor evangélico, identificado como Antônio Muniz, invadiu sem permissão o Centro de Umbanda segurando uma Bíblia e, após realizar uma oração em voz alta, passou a quebrar diversos objetos sagrados da religião.

No momento, estavam presentes apenas o pai de santo Alécio Pereira dos Santos, junto com sua esposa, que é cambone, zeladora do centro e que dá o principal apoio à espiritualidade. Por meio dos vídeos gravados, o agressor quebra todas as imagens e ainda afirma que irá acabar com o centro ainda neste ano, dizendo que a religião e o local era de “demônios”, e por isto estava realizando uma ação de “libertação”.

Pai Alécio ainda tentou conversar com o invasor para encerrar a situação de forma pacífica, mas diante da recusa e temendo um confronto maior, ele acionou a Polícia Militar, que esteve no local e conduziu o suspeito à delegacia.

Antônio Muniz foi liberado, mas poderá responder judicialmente pelos crimes de intolerância religiosa, invasão de domicílio e dano ao patrimônio. O caso segue sob investigação da Polícia Civil. “Na delegacia, o homem saiu rindo da cara da gente”, lamentou.

Segundo o líder religioso, esta é a primeira vez que aconteceu um caso de violência por intolerância religiosa, o que dificulta até saber o motivo de ter acontecido tão repentinamente. Ele deseja Justiça para que o fato não se repita com outras pessoas e outras religiões, e que não haja uma situação mais grave de violência e morte.

Pai Alécio mostra a documentação de alvarás de funcionamento e de atuação religiosa
Pai Alécio mostra a documentação de alvarás de funcionamento e de atuação religiosa

“Eu não desejo o mal a ele, mas quero justiça, seja por um promotor ou órgão competente que pode pegar essa causa. Estamos ainda congelados, ainda perplexos, anestesiados, machuca e dói muito dentro da alma, por ter acontecido da parte de um pastor, e também como racismo. Nós não mexemos com ninguém, fazemos caridade para o povo. E aí chega a pessoa sem nenhuma razão e comete um ato desses. A gente tem o livre arbítrio, de cada um ter sua crença”, afirma o Pai Alécio.

O pai de santo afirma que somente está de pé devido ao apoio de amigos, pessoas das religiões do axé, católicos e até um pastor evangélico, que têm se mobilizado contra esse ato de violência.

“Todos nós temos os nossos direitos e deveres, e não devemos aceitar jamais a intolerância. Enquanto CPT Rondônia, manifestamos o nosso apoio e estamos junto neste momento”, afirma a agente Rosiane Chicuta.

Edição: Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional),
com informações e imagens de Rosiane Chicuta (CPT Regional Rondônia)

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