Comunidade São Francisco, em Timbiras (MA), denuncia extração ilegal de madeira dentro do próprio território
O conflito com os madeireiros se estende há mais de 20 anos e o tom de ameaça aos camponeses se intensifica diante de inação das autoridades
Por Comunicação CPT-MA

No dia sete de dezembro, moradores da comunidade São Francisco, no Território Campestre, em Timbiras (MA), registraram boletim de ocorrência juntamente à Polícia Civil do município, em denúncia à retirada ilegal de madeira na comunidade e às ameaças sofridas por parte dos madeireiros. Já no último dia 12, o regional maranhense da Comissão Pastoral da Terra (CPT), e demais parceiros, também usaram as redes sociais para denunciar as invasões que acometem as terras camponesas no interior do Maranhão.
Os moradores encontraram, na própria comunidade, toras de madeira já cortadas em estacas, prontas para a venda. De acordo com o boletim de ocorrência, seis homens foram responsáveis pelo desmatamento e por graves ameaças feitas àqueles que tentassem impedir a ação.
“Eu conheço cada um de vocês, não mexam nessa madeira”, disse um dos criminosos, segundo depoimento que consta no registro da ocorrência. Mesmo sob ameaça, os moradores que flagraram o crime decidiram queimar a matéria-prima no local, a fim de impedir que fosse vendida.
“A situação no nosso território já vem acontecendo faz muito tempo, mas se agravou de uns cinco anos para cá, quando os moradores começaram a cobrar para não retirarem [a madeira]. Foi aí que vieram as ameaças e os moradores recuaram um pouco, porque não tinha como lutar, eles andam armados”, relata uma vítima das ações dos madeireiros que, por motivos de segurança, optou por não se identificar.
Ao longo de mais de 25 anos da atuação de criminosos dentro do Território Campestre, os moradores já denunciaram a situação a diversos órgãos públicos municipais, estaduais e federais. No entanto, nenhuma providência definitiva foi tomada, e a situação de violência e devastação segue se agravando e coloca em risco o Cerrado e as comunidades tradicionais que habitam na região.
Conforme consta no registro de ocorrência, no último dia 10, policiais militares estiveram na comunidade após denúncias dos camponeses, porém alegaram que nada poderia ser feito, uma vez que não possuíam mandado judicial contra os criminosos.
“A gente não sabe a quem recorrer mais: já denunciamos em várias delegacias do Maranhão, inclusive em São Luís. Na última quarta-feira (10), o escrivão da Polícia me pediu esclarecimentos na Delegacia. Eu até me assustei um pouco, porque ele disse para mim que nenhum dos boletins que a gente fez tinha chegado ao delegado. O tanto de boletim que a gente já fez; acho que dá muito mais de vinte, e ele disse que tinha chegado somente esse que a gente fez agora”, conta a vítima, que descreve um sentimento de impotência diante desse cenário.
O território tradicional Campestre está em processo de titulação coletiva pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desde 1999, mas, atualmente, o trâmite encontra-se paralisado.


