Em encontro estadual, comunidades camponesas de Pernambuco avaliam o ano e planejam ações para 2026
Por Setor de comunicação da CPT NE2
Imagens: Setor de comunicação da CPT NE2

Entre os dias 18 e 20 de novembro, mais de 60 camponeses e camponesas, representantes de cerca de 20 comunidades acompanhadas pela CPT em Pernambuco, reuniram-se para participar do Encontro Estadual das Comunidades Camponesas, realizado no Santuário das Comunidades, em Caruaru. Marcado pela partilha e pelo testemunho da resistência e da esperança camponesa, o encontro teve como objetivo analisar o contexto atual, avaliar as ações comunitárias realizadas ao longo do ano e traçar novas estratégias para 2026.
Durante os debates realizados nos três dias de encontro, agricultores e agricultoras da Zona da Mata Norte e Sul, do Agreste e do Sertão realizaram uma ampla leitura da realidade a partir de suas regiões. A “fotografia” construída coletivamente revelou um cenário marcado por conflitos agrários, avanço de grandes empreendimentos empresariais, novas formas de violência contra comunidades camponesas e ausência de políticas públicas efetivas para o campo, especialmente nas áreas de agricultura, infraestrutura, saúde e educação. A realidade descrita pelas famílias revelou que, por mais um ano, o Estado seguiu a serviço dos interesses empresariais e do latifúndio, enquanto relegava os direitos à terra e ao territórios dos povos da terra, das águas e das florestas ao esquecimento.


Apesar da conjuntura preocupante, o encontro também foi espaço para reafirmar o “esperançar” e a resistência camponesa. Após a análise do cenário estadual, agricultores e agricultoras elencaram os avanços conquistados ao longo do ano, frutos de muita luta e organização comunitária. Foi a partir do reconhecimento das conquistas alcançadas que os(as) participantes refletiram sobre quais estratégias deverão ser adotadas para avançarem em suas lutas no próximo ano. A conquista da terra e do território, a organização da juventude e das mulheres, o acesso a políticas públicas, além do fortalecimento da produção agroecológica para garantir autonomia, cuidado com a casa comum e soberania alimentar foram os principais compromissos assumidos coletivamente. Além disso, foi pactuada a realização de um conjunto de iniciativas que deverão ser implementadas de forma coletiva em 2026.
Durante o encontro, os camponeses e camponesas também puderam celebrar o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, com uma mística marcada por muitos testemunhos de lutas por libertação, memórias, reflexões bíblicas, cantos e canções que ecoam na memória dos povos do campo. Também foi destaque no encontro a plenária das mulheres camponesas do estado, onde as agricultoras puderam partilhar dores, desafios e estratégias para enfrentar o machismo e o patriarcado na sociedade, mantendo vivas a esperança e a utopia por dias livres de opressão e violência.


Para a jovem camponesa Joyce Kelly, no encontro foi possível perceber que, apesar das diferenças, todas as comunidades têm os mesmos desafios e problemas e que, mesmo diante das adversidades, “foi muito interessante ver a força e a fé das pessoas em não desistir”, destacou. O mesmo foi observado por outro jovem participante. “Não é só a minha comunidade que passa por desafios e problemas. Todas as outras também. Isso mostra que não estamos sozinhos na luta. A gente não perde a esperança e continua lutando pela nossa terra. Além disso, foi muito importante a participação dos jovens, pois podemos dar a nossa opinião e discutir junto com todos”, concluiu.
Ao final dos três dias de encontro, as comunidades presentes reafirmaram que enquanto perdurarem a espoliação e a violência sobre suas vidas e sobre suas terras e territórios, avançará cada vez mais a capacidade dos povos do campo, das águas e das florestas de se unir, planejar, resistir e anunciar a construção do Reino de Deus na terra, aqui e agora.