Nota de repúdio | Assassinato Guarani e Kaiowá
“Mataram mais um irmão…”
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) – Regional Mato Grosso do Sul vem a público manifestar seu profundo repúdio e indignação diante da brutal violência perpetrada contra o povo Guarani e Kaiowá da Retomada Pyelito Kue, situada no município de Iguatemi (MS), na madrugada deste domingo (16/11/2025).
O ataque, realizado por cerca de 20 pistoleiros entre 4h e 5h da manhã, deixou diversas pessoas indígenas gravemente feridas por balas letais e de borracha, entre elas mulheres e crianças, e culminou no assassinato de Vicente Fernandes Vilhalva, de 36 anos. Além dos disparos, lideranças relatam que um trator foi utilizado para destruir barracos e pertences das famílias Guarani e Kaiowá.
É importante ressaltar que a área integra a Terra Indígena Iguatemipeguá I, sobreposta à Fazenda Cachoeira, retomada pelos indígenas em 3 de novembro. A região está próxima à fronteira com o Paraguai, a 25 km da sede do município de Iguatemi. Ainda segundo informações, uma ponte que dava acesso ao local (apesar de já se encontrar em condições precárias) foi destruída, dificultando ainda mais o acesso à retomada. Assim, qualquer movimentação em favor da comunidade, inclusive a chegada de ajuda humanitária, precisa ser feita pela cidade de Amambai (MS), o que torna mais lenta a chegada do socorro.
A retomada do território é um direito legítimo das comunidades indígenas, especialmente em um estado que concentra alguns dos mais graves conflitos fundiários do país. A violência contra os povos Guarani e Kaiowá é sistemática desde que foram expulsos de seus territórios pelo Estado brasileiro e pelo avanço do latifúndio, sendo confinados a pequenas áreas.
De acordo com o Caderno de Conflitos no Campo 2024, Mato Grosso do Sul ocupa o 5º lugar no ranking de estados com mais conflitos no campo, registrando 132 ocorrências que afetaram mais de 13 mil famílias camponesas e indígenas – sendo 83 delas (83,8%) em territórios indígenas. O relatório da CPT aponta que mais de 260 pessoas sofreram algum tipo de violência em áreas rurais, principalmente em territórios Guarani e Kaiowá, incluindo agressões, ameaças, contaminação por agrotóxicos, violência contra mulheres, tentativas de assassinato, entre outras barbaridades.
No ano passado, duas pessoas foram assassinadas no campo em Mato Grosso do Sul: Neri Ramos, de 23 anos, do povo Guarani e Kaiowá, em 18 de setembro, na Terra Indígena NhanderuMarangatu (Antônio João/MS); e o rezador Argemiro da Silva Escalante, de 74 anos, também Guarani e Kaiowá, na Terra Indígena Pirakuá (Bela Vista/MS).
Somos solidárias e solidários aos povos indígenas, que seguem sofrendo ataques de setores do agronegócio em diferentes regiões de Mato Grosso do Sul. Denunciamos veementemente mais este ataque ao povo Guarani e Kaiowá.
Em sintonia com seus legítimos direitos, exigimos dos órgãos competentes do Estado brasileiro agilidade na demarcação das terras indígenas e ações efetivas e imediatas que garantam a segurança e a integridade física e territorial desses povos em Mato Grosso do Sul.
Campo Grande/MS, 16 de novembro de 2025.





