CPT-BA lançará documentário que denuncia os conflitos gerados pelas usinas de energias eólicas no Alto Sertão da Bahia

Documentário produzido pela Comissão Pastoral da Terra (CPT-BA), em parceria com o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM-BA), denuncia os impactos que as instalações e as atividades de usinas de energia eólica vem produzindo na região conhecida como Alto Sertão da Bahia. A estreia será em 14 de novembro de 2025.

por Helenna Castro (Comunicação CPT Bahia)

Muito se tem debatido a nível mundial sobre a necessidade de uma transição energética nas últimas décadas, apontando-se os impactos que as matrizes que utilizam combustíveis fósseis são muito poluentes e prejudiciais para o meio ambiente. O mote da “energia limpa” conquista e convence da sua suposta gama de benefícios.

No documentário “Transação energética: os conflitos gerados por usinas eólicas no Alto Sertão da Bahia” busca-se mostrar outro lado dessa questão: os conflitos fundiários e socioambientais gerados pelas diversas fases de projetos de energia eólica, desde o momento da decisão do local de sua implementação até as atividades fins.

O que apontam moradores de comunidades da região conhecida como Alto Sertão, na porção sudoeste do estado baiano, mais especificamente nos municípios de Caetité e Licínio de Almeida, é que há diversos custos para que ocorra essa transição, entre elas a tentativa de desterritorialização, através de grilagens de terra ou até mesmo pela destruição de fontes hídricas, que chega a inviabilizar a agricultura familiar. 

“Todo mundo tinha vontade de ter uma terrinha aqui para morar. Hoje eu não posso dizer o mesmo.” (Rosângela)

A perda do sossego cotidiano é outro conflito gerado pelas usinas de energias eólicas, quer seja devido às detonações de bombas durante a instalação ou pelos ruídos gerados pelas hélices dos aerogeradores, especialmente à noite.

“Até minhas poesias, que eu vou compor minhas poesias para mim recitar, porque você tem que dormir para você já sair com a poesia na cabeça, acorda com ela e escreve. Não tô conseguindo, depois dela eu não tô conseguindo não.” (Dona Valtelina)

Algumas dessas comunidades possuem as marcas de tradicionalidade quilombola ou de fundo-e-fecho-de-pasto. A Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, garante o direito dos territórios tradicionais à Consulta, Livre, Prévia e Informada antes da instalação desse tipo de empreendimento, mas o que fica nítido é que o Estado se omite em realizar a regularização fundiária, através da titulação das áreas, enquanto acelera os processos de entrada das empresas.

O doc busca denunciar os conflitos, além de engajar a resistência. Nele são apresentadas as histórias das comunidades Olho D’Água, onde já há atividade de usina eólica, Santa Efigênia, em que ocorre implementação, e Malhada, em que a união do povo e a busca por informações foram estratégicas para a defesa e permanência no território sem avanço das empresas.

“Reúne! O que vocês têm que fazer é unir a comunidade.  Não faça sozinho — faça com a comunidade. Se não entender, caça o entendimento.” (Terezinha Joana)

O título foi escolhido para demarcar que as energias renováveis não estão realizando uma transição energética, mas sim uma “transação”, já que seus objetivos são meramente lucros que podem custar a permanência nos territórios e a qualidade de vida das comunidades.

A COP 30, espaço de deliberação a nível mundial sobre as mudanças climáticas e as medidas que podem ser tomadas para mitigação e adaptação aos seus efeitos, ocorre em Belém-PA, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025. Os debates dos “Dias Temáticos” 14 e 15/11 “focarão na transformação de sistemas em Energia, Indústria, Transporte, Comércio, Finanças, Mercados de carbono e Gases não-CO₂, apoiando o esforço global para triplicar a energia renovável, dobrar a eficiência energética e fazer a transição dos combustíveis fósseis de forma justa, ordenada e equitativa.”

O documentário produzido pela CPT-BA se alinha a diversos outros lançados Brasil afora, especialmente sobre comunidades nordestinas, que denunciam que esse tal esforço para uma transição energética tem se dado de maneira violenta, sem escuta das comunidades, gerando diversos conflitos e passivos ambientais nas últimas décadas. Portanto, questiona-se: qual a efetividade desse novo modelo tido como nossa “salvação” do caos ambiental?

O lançamento ocorrerá no dia 14 de novembro, através dos perfis do Youtube da Comissão Pastoral da Terra Nacional e Bahia, e do Movimento pela Soberania Popular na Mineração.

  • Produção: Comissão Pastoral da Terra Bahia;
  • Entrevistas e Roteiro: Helenna Castro (CPT-BA);
  • Edição, trilha e montagem: Jhonas Costa;
  • Imagens: Helenna Castro e Ione Rochael (MAM-BA).

Apoio:

  • Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) e Misereor.

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