COP das Juventudes de Fronteiras lança Carta Pública ao final do evento
Documento denuncia impactos das mudanças climáticas e reforça a importância do protagonismo camponês na resolução de desastres ambientais
Por Everton Antunes (Comunicação CPT Nacional), com informações da organização do evento

Entre 03 e 05 de outubro, o Centro de Formação São José, localizado no município de Guajará-Mirim (RO), recebeu a COP das Juventudes de Fronteiras. O evento buscou mobilizar jovens camponeses do Brasil e Bolívia em torno do debate da emergência climática e da Conferência das Nações Unidas – a COP 30 –, prevista para novembro de 2025, em Belém (PA).
Ao final, mais de 100 jovens do campo, das águas e das florestas de regiões fronteiriças da Amazônia reuniram-se na redação de uma Carta Pública das Juventudes de Fronteiras, sob o título “Juventudes Sem Fronteiras: do Enfrentamento às Emergências Climáticas às Boas Práticas de Convivência na Casa Comum”. O documento também ganhou uma versão em espanhol.
Larissa Rodrigues – agente pastoral da Articulação das CPTs da Amazônia e integrante do Coletivo de Jovens de Povos e Comunidades Tradicionais de Rondônia – destacou a importância do evento para a participação ativa dos jovens camponeses na reivindicação dos territórios e do Bem Viver. “Foi uma experiência muito forte de fortalecimento e rebeldia, de ver as juventudes pegando o megafone para defender a vida, as crianças se manifestando, os ‘sabedores’ partilhando seus saberes; e a gente, como sementes teimosas, brotando, mesmo em meio ao veneno e ao concreto”, afirma.
Os três dias da COP das Juventudes de Fronteiras foram marcados por momentos de cantos, danças e diversas outras manifestações culturais populares, bem como ocasiões de intercâmbio e partilha das vivências, desafios e boas práticas diante do cenário de mudanças climáticas.

Para Erica Canoé – jovem indígena do Povo Oro Wari de Guajará-Mirim –, as juventudes camponesas “expressaram seus anseios frente aos projetos de morte existentes: [a exemplo das] hidrelétricas, da privatização da água dos rios Madeira, Tapajós e Araguaia-Tocantins e dos agrotóxicos que envenenam os rios. O crédito de carbono está sendo apresentado como uma boa solução, mas quem está nas comunidades sabe da realidade: ele traz brigas e divisões, informações distorcidas da realidade e a incerteza do futuro”.
“Os povos de terreiro, por sua vez, vêm em defesa [dos territórios], porque retiramos ervas e medicamentos da natureza. Nos juntamos à luta para que possamos ter um mundo onde a juventude tenha poder de voz e seja ouvido”, descreve Fernanda Arteaga, das comunidades de povos de terreiro e integrante do Coletivo de Jovens dos Povos e Comunidades Tradicionais de Rondônia.
O evento foi realizado pelo Comitê de Defesa da Vida Amazônica na Bacia do Rio Madeira (COMVIDA) e Instituto Madeira Vivo, com o apoio do Fundo Casa Socioambiental e a participação da regional de Rondônia da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Também integraram a COP das Juventudes de Fronteiras a Cáritas Brasileira – Articulação Noroeste, o Coletivo de Jovens dos Povos e Comunidades Tradicionais de Rondônia, Organización Comunal de la Mujer Amazónica, entre outras organizações, movimentos sociais e instituições.
“Para nós do COMVIDA, com apoio dos demais realizadores e apoiadores, foi de fundamental importância construir esse momento da COP das Juventudes de Fronteira, como estratégia de descentralizar o debate da COP30 nos territórios, onde os povos e comunidades estão sentindo os efeitos das mudanças e as emergências climáticas, ao mesmo tempo vivenciando boas praticas no cuidado com a Casa Comum”, destacou Iremar Ferreira, da coordenação do Instituto Madeira Vivo e integrante da Articulação do COMVIDA.
É possível ler a Carta Pública das Juventudes de Fronteiras no documento abaixo, disponível nas versões em português e espanhol: